Primeiros peregrinos do Senhor Santo Cristo da Caldeira já se encontram na Fajã de São Jorge

Foto: Fajã Caldeira do Santo Cristo/CR

Durante este fim-de-semana são esperadas algumas centenas de pessoas. Esta quinta-feira a Procissão de Velas será já um momento de grande participação

É uma inovação recente mas já ganhou adeptos e por isso, a Procissão de Velas que ocorre esta quinta-feira ao final da tarde na Caldeira da Fajã do Santo, no âmbito da festa maior deste lugar, promovida pelo Santuário Diocesano ali existente, marca o arranque dos festejos.

A devoção, que congrega centenas de pessoas este fim-de-semana para este lugar reserva da biosfera,  é cristológica mas a preparação da festa é muito mariana. Desde segunda-feira, que a Eucaristia é precedida da recitação do terço e da celebração do sacramento da reconciliação e esta quinta-feira, será uma imagem de Nossa Senhora que sairá à rua, ladeada das velas dos peregrinos que junto da mãe invocam a sua intercessão.

Na sexta-feira, haverá uma Vigília mariana de oração pela juventude.

“Marcará o arranque dos trabalhos pastorais deste próximo ano” avançou ao Igreja Açores o ouvidor de São Jorge, padre Dinis Silveira.

Os jovens são, de resto, um dos grupos mais ativos nesta festa que congrega muitos peregrinos da ilha, mas também do Pico, sobretudo no domingo, dia principal da festa, em que há a procissão com o habitual “sermão da Praça”.

“A ilha de São Jorge mobiliza-se muito para esta festa e os jovens, em particular, são muito devotos do Senhor Santo Cristo da Caldeira” refere o padre Dinis Silveira ao recordar que sendo esta a “última grande festa de verão das ilhas do triângulo, é natural que muitos antes de partirem para os seus trabalhos aqui se desloquem para depositar diante desta imagem as suas intenções para o ano que vem”.

São vários os factores que congregam as pessoas para este lugar. A natureza é um deles. Por isso, a pastoral juvenil também tem pensada a possibilidade de oferecer aos jovens uma outra dimensão da espiritualidade centrada na natureza.

“Nós vamos realizar aqui o primeiro retiro dos jovens deste ano no final de outubro e queremos que a entrada dos jovens neste lugar já seja um caminho com dimensão espiritual” refere ainda o sacerdote avançando que estão a ser trabalhadas propostas nesse sentido.

“Será muito interessante eles aproveitarem o caminho para o lugar do retiro para iniciarem a sua oração” esclarece antecipando iniciativas que serão desenvolvidas na ilha de forma a acolher no próximo ano do Jubileu da Esperança a Aldeia da Esperança, que será um encontro diocesano de jovens projectado para a Caldeira, em 2025.

“Este é o lugar ideal para aprofundarmos a fé e desenvolvermos uma espiritualidade ligada à natureza e, sobretudo, ao cuidado da Casa Comum”, acrescenta.

Ainda durante o fim de semana, salienta-se ainda a confeção de sopas no almoço partilhado no  sábado.

A lenda que deu origem ao culto conta que um pastor deixou o seu gado a pastar, descendo a uma lagoa onde apanhou lapas e ameijôas. Ao parar para descansar contemplou um objeto na água a flutuar e viu que era uma imagem em madeira do Senhor Santo Cristo. Surpreendido com o achado, pegou na imagem, molhada e inchada de estar na água, e levou-a para terra seca. Ao fim do dia, quando voltou para casa fora da fajã, levou a imagem e colocou-a em local de destaque numa das melhores salas da sua casa. No outro dia de manhã a imagem tinha desaparecido. Depois de procurarem por toda a casa e de já terem dado as buscas por terminadas, ele foi de novo encontrado, dias depois, na mesma fajã e local onde tinha sido encontrado da primeira vez. Foi levado várias vezes para o povoado fora da rocha, e durante a noite a imagem voltava sempre a desaparecer, até que alguém disse: “O Santo Cristo quer estar lá em baixo na fajã à beira da caldeira, pois que assim seja”.

A Lenda da Caldeira de Santo Cristo é uma tradição da ilha de São Jorge e relaciona-se com as crenças populares numa terra onde a luta do homem com a natureza foi constante e onde, por séculos, as necessidades básicas do dia-a-dia foram prementes.

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