Colónia de férias da Associação Rabo de Peixe Sabe Sonhar mobiliza 96 crianças da vila

Foto: Igreja Açores/CR

20 anos depois da primeira Colónia há agora o sonho de contagiar os locais, integrando-os na equipa e garantindo  uma maior proximidade e consistência do projecto no terreno

Todos os anos, de há 20 a esta parte, uma centena de crianças de Rabo Peixe pode experimentar uma semana de férias diferente, onde os valores cristãos são promovidos através de atividades lúdicas desenvolvidas num ambiente de amizade e fraternidade. A Colónia de Férias da Associação Rabo de Peixe Sabe Sonhar, que se realiza em meados de agosto, sob a orientação espiritual da Companhia de Jesus, é já um dos momentos mais esperados na comunidade anualmente.

“A Colónia faz parte das nossas atividades com vista ao desenvolvimento da Vila de Rabo de Peixe. A Colónia promove esta missão através do contacto com as crianças: 8 dias de trabalho com elas, estimulando-as a sonhar mais, dando-lhes a conhecer outros horizontes” refere Paulo Martinez, 21 anos, estudante de Direito e diretor da Colónia este ano.

“A nossa missão passa, também, por mostrar a estas crianças que têm determinados dons e capacidades, que se calhar desconhecem, e que valorizando-os podem chegar mais longe” enfatiza o jovem que pertence à direção da Associação, que nasceu em 2004 por vontade da Companhia de Jesus, em conjunto com jovens ligados aos Centros Universitários da Companhia, das Escravas do Sagrado Coração de Jesus e das Irmãs Criaditas dos Pobres.

“Durante todos estes anos, é a vida destas crianças e das suas famílias que toca a vida deste Projeto e que continua a animar e a comprometer toda esta equipa” pode ler-se na página on-line da Associação, que tem na sua génese três jovens jesuítas que se deixaram cativar pelas pessoas da Vila aquando de uma visita aos Açores, por ocasião da celebração da missa nova do jesuíta jorgense,  padre Hermínio Vitorino e depois de terem ouvido falar da vila pelas irmãs Criaditas dos Pobres, que na altura também tinham uma presença na pastoral desta localidade, predominantemente piscatória.

Em 2002 resolveram fazer a primeira experiência e desde então, todos os anos em agosto vários animadores, formados ao longo do ano, participam neste projecto.

Maria Vieira, de 27 anos, é juntamente com Paulo Martinez diretora da Colónia, cujos dias obedecem a um esquema próprio, mas sempre muito adaptados aos escalões etários que a frequentam – crianças dos 9 aos 15 anos- a quem são dadas ferramentas para “sonhar mais além”.

Cada dia começa com a chegada das crianças nos autocarros desde a Vila até ao lugar da Colónia, que este ano foi na Escola Básica 2,3 das Capelas.

“Os animadores acolhem-nos na roda, onde damos os bom dias e segue-se o `BDS´(Bom dia Senhor) que é a nossa oração da manhã, feita em ambiente de teatro, e durante a qual apresentamos o valor do dia. Depois, os escalões seguem para a roda individual de pequeno almoço e daí partem para as diferentes actividades” refere. De manhã as atividades giram em volta do valor; de tarde, depois do almoço, o tempo é de maior descontração e desenvolvem atividades maioritariamente de ar livre. Este sábado, durante a visita do Sítio Igreja Açores, o valor era o do abraço.

“Mais do que uma experiência de voluntariado…”

No horizonte da Colónia estão sempre os valores cristãos e o seu efeito transformador na vida destas crianças, independentemente de serem mais ou menos crentes e da sua prática religiosa. O intuito é que durante este tempo, através de diferentes momentos e atividades, se possam desenvolver competências e valores que sejam interiorizados e depois vividos, sem a pretensão de uma mudança imediata. Por isso, durante a colónia são promovidas atividades lúdicas e pedagógicas, mas ambas acabam por ter a mesma finalidade. Apender a respeitar, a partilhar, a gerir emoções e ultrapassar conflitos, promover amizade e a empatia, são no fundo variantes de uma mesma pedagogia: respeitar cada criança na sua especificidade ajudando-a a ser melhor.

Este ano, o tema da Colónia inspira-se na passagem do Evangelho de Lucas que narra o encontro dos discípulos com Jesus a Caminho de Emaús, quando num momento de grande desânimo se encontram com o mestre e recuperam a esperança.

“A partir deste episódio decidimos explorar as Obras de Misericórdia Espirituais” refere Paulo Martinez.

“Trabalhamo-las de forma mais simples e adaptada à linguagem destas crianças e jovens”, esclarece.

No ano de 2024, em que a Associação completa duas décadas, tem havido algumas melhorias na vivência do projecto quer da Colónia quer do próprio papel da Associação na relação com as crianças e famílias, para além deste período de verão.

A Colónia acolhe pré-animadores açorianos, alguns deles animados já nestas Colónias, que agora estão a ser formados para poderem participar de novo no projecto, noutra condição.

Inácio Vieira, de 24 anos, participou na Colónia durante vários anos. Era reservado mas conseguiu trabalhar algumas competências e hoje é um dos animadores locais.

“Além de ensinar valores, sinto que o projecto encerra uma dimensão de acolhimento muito relevante na medida em que muitas destas crianças não têm vidas fáceis”, refere.

Além da integração de responsáveis locais, seja na condição de animador ou de pré animador- este ano há vários, incluindo jovens universitários, a Associação já consegue disponibilizar pelo menos uma equipa de quatro pessoas que se deslocam de dois em dois meses ao terreno para fazer visitas porta a porta e auxiliar as famílias destas crianças que participam ou participaram nas Colónias.

“O nosso sonho a seguir à Colónia é unir cada vez mais a ilha a este sonho” refere Leonor Conde, vice-presidente da Associação.

“Crescer e envolver cada vez mais pessoas de Rabo de Peixe e também da ilha neste sonho que nos envolve a todos”, acrescenta.

Todo este trabalhado anual é acompanhado de perto por um assistente espiritual que além de monitorizar o trabalho com os mais jovens acompanha também o percurso espiritual de cada um dos membros da Associação.

“A cada um é proposto um caminho espiritual que para além da experiência do serviço  também possa aprofundar o seu crescimento na fé e saborear melhor este momento de crescimento pessoal”, refere o padre João Manuel Silva.

“Desejamos que não seja apenas mais uma experiência de voluntariado, mas que seja uma experiência de crescimento e verdadeira transformação espiritual” destes jovens que disponibilizam o seu tempo e as suas competências para ajudar o próximo.

A Associação é composta por cinco núcleos de voluntários espalhados pelo país, mais concretamente, em Braga, no Porto, em Coimbra, em Lisboa e em Rabo de Peixe, locais onde existem Centros Universitários da Companhia de Jesus.

No caso de Rabo de Peixe, a missão da Associação é promover o desenvolvimento das famílias da vila de Rabo de Peixe, através do estímulo da sua capacidade de sonhar e do incentivo à abertura dos seus horizontes, procurando aprofundar, a partir das suas realidades, a consciência das suas opções de vida.

 

 

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