A participação na Jornada Mundial da Juventude “devolveu-me a esperança”

Foto: Igreja Açores. Dércio e Alex Pacheco, no grupo Apressados da Vila

Dércio Pacheco, tem 21 anos, é estudante de Medicina e deseja que a Igreja siga o conselho do Papa de acolher e integrar “todos, todos, todos”

A viver num misto de entusiasmo e nervosismo pela mudança que a vida lhe vai propor a partir de setembro, em Coimbra, onde ingressará na faculdade de Medicina, no 4º ano do curso, depois de ter feito o propedêutico na Universidade dos Açores, Dércio Pacheco vive dias de grandes desafios, como os que viveu há um ano.

“Ouvi falar da Jornada Mundial da Juventude, mas não sabia nada. Nem sequer se o Papa iria, mas quando começamos a fazer a preparação e depois subi ao Pico e fomos para Lisboa, a ansiedade e até alguma revolta começaram a desaparecer”, conta o jovem que desde  cedo participou na vida da Igreja, através do canto, na sua paróquia, Ponta Graça (ouvidoria de Vila Franca do Campo), mas nem sempre se sentiu confortável na Igreja.

“Vivo num meio rural onde há menos aceitação do que é diferente e isso sempre me causou muita estranheza porque olhando para o exemplo de Jesus e vendo que ele ama a todos por igual, era-me difícil aceitar este comportamento, até discriminatório” refere o jovem vilafranquense.

“Na JMJ, em Lisboa, integrando um grupo de pessoas tão diferentes (acho que nunca estive num grupo tão diferente dentro da Igreja) e convivendo com pessoas tão diferentes, inclusive no nosso grupo açoriano, fez-me pensar que a afinal era aqui que eu me sentia bem”, esclarece recordando, a cada passo da conversa que manteve com o Sítio Igreja Açores, que a Igreja “tem de ser de todos e para todos”.

“O Papa foi claro; não é preciso dizer mais nada. É assim que eu penso também e é assim que eu gostava que fosse”, afirma com convicção, talvez o momento da entrevista em que se estendeu mais em explicações neste testemunho partilhado.

“Estes são os meus valores, esta é a minha Igreja; mas é minha e de pessoas diferentes de mim e essa foi uma lição que a JMJ reforçou em mim” disse ainda.

Questionado sobre o que sobra dessa experiência, insiste “os meus valores estão na Igreja e Jesus quer que sejamos capazes de acolher a todos”.

Dércio Pacheco tem 21 anos e vai estudar para Coimbra no próximo ano letivo. Vai ser a sua primeira experiência fora de casa, tal como foi a Jornada Mundial da Juventude do ano passado. Do continente só conhece Lisboa, pela lupa da JMJ, que se realizou em agosto de 2023, mas garante que apesar do “nervosismo” da saída, vai confiante “porque não vou sozinho”. O irmão mais novo, Alex, também irá para Coimbra estudar matemática.

“Vamos dividir o quarto e, por isso, vai ser melhor para os dois porque estamos habituados a viver juntos. O choque não será tão grande para nenhum de nós os dois”, assegura já assumindo o papel do irmão mais velho.

“Haverá um período de adaptação, com certeza, mas ter-nos-emos um ao outro”, refere de forma quase comovente lembrando que a amizade fraterna é a mais semelhante ao amor de Jesus, no acolhimento e na tolerância.

“Os momentos que mais me marcaram foram os da Via-sacra e da Vigília, porque “falavam dos temas da atualidade e da realidade dos jovens”.

“Vi-me representado nos testemunhos e isso emocionou-me muito”; depois “os temas tratados: o impacto das novas tecnologias, os problemas da saúde mental…”

“Devo dizer que antes de termos formado o grupo para ir às jornadas, sempre frequentei as missas mas tinha muitas reservas. Não era falta de fé; era talvez uma fé pouco amadurecida e até meio revoltada”, confessa.

“Estar com este grupo levou-me a ter esperança novamente. Estes são os meus valores, aquilo em  que eu acredito; a não aceitação do outro perturbava-me muito”.

Dos dias que passou em Lisboa recorda sobretudo as esperas do barco.

“Ficamos no Seixal e por isso tínhamos de andar uns bons bocados. Quando à noite regressávamos era uma folia no barco: todos juntos, todos diferentes, todos a cantar…”.

À medida que a conversa vai evoluindo percebemos o lugar da música.

“Sempre cantei no coro de Ponta Graça, mas não gosto apenas de música de Igreja. Ouço música clássica e também rock. Vario muito e não posso dizer que só oiço isto ou aquilo” esclarece.

“É muito engraçado pois a casa para onde vou tem uma igreja muito perto. Vou ver se consigo integrar-me no coro”, adianta já ressalvando que pela música “também se evangeliza e somos evangelizados”.

E os jovens, há algum segredo para os evangelizarmos, pergunta recorrente.

“O que é importante é mostrar Jesus, fazendo e agindo como ele, porque nós para os outros também podemos ser  Jesus e nunca devemos perder de vista os outros”, diz ainda.

Um ano depois, qual é a confiança que sobra? “Alguma mas, parece que o Papa nem sempre é ouvido. Uma coisa foi o que ele disse; outra coisa é o que a Igreja faz”, mas nem por isso “me sinto a mais” garantiu.

A edição internacional da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa decorreu entre 1 e 6 de agosto de 2023, e contou com a participação de 1,5 milhões de jovens, 900 dos quais oriundos da diocese de Angra.

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