Pelo padre Marcos Miranda*
Um estabelecimento prisional é o lugar onde se encontram reclusos, aqueles que são condenados ao cumprimento de penas e de medidas de privação da liberdade, estando à guarda e responsabilidade dos poderes públicos. A reclusão acontece num espaço físico, mas torna-se também um tempo vivido. Para a Igreja esta é uma realidade que desafia o coração da própria fé.
O que poderá então a Igreja fazer em contexto prisional? Antes de mais fazer-se presente no meio das fragilidades, dores, problemas e desafios de cada ser humano que é condenado. Esta simples presença e preocupação sinceras tornam-se a chave para a missão. É também nestes contextos prisionais que se situam periferias humanas que devem ser abraçadas e tocadas como lugares de onde pode brotar a esperança.
A vida espiritual em contexto prisional passa em grande parte pelo acompanhamento dos reclusos e das suas necessidades, quer materiais, quer espirituais: o tempo oferecido para a escuta nunca será tempo perdido. A presença da Igreja rege-se pela capacidade de se propor e não de se impor, de se fazer presente no respeito pelas diversas realidades humanas, sociais e até espirituais que acontecem num estabelecimento prisional. Cada recluso tem a sua história, as suas feridas concretas, a sua personalidade, experiências, confusões e tudo o que é próprio de um ser humano. A Igreja sabe que é dentro desta realidade que, com delicadeza, se deve apresentar, disponível e serena, respeitando o tempo, o espaço e a convicção concreta de cada um.
Em contexto prisional são promovidos também momentos de reconciliação, catequese, oração e de celebração. A mesa posta e os ouvidos atentos são a base de toda a ação. Por eles propõe-se a fé como uma atitude de abertura, de escancarar o coração a Deus, por maiores que sejam as feridas e as cicatrizes que ele carregue. E é fazê-lo confiando de que se é olhado por um Deus que se torna e se faz oportunidade para um recomeço.
É neste sentido que a espiritualidade levada à cadeia pode fazer nascer caminhos: porque não isola um homem ou mulher sobre si mesmo nem sobre as suas insuficiências, porque ensina a fazer as perguntas certas diante da vida, dá a coragem e a humildade de se saber necessitado de crescimento, faz com que cada um possa tocar as qualidades e os dons que possuí e a saber reconhecê-los nos outros, ensina que viver é um mistério que nos ultrapassa, mas que se é chamado a acolher.
É certo que este acompanhamento e vivência supõe uma profunda conversão comunitária para se poder deixar o conforto das igrejas e sujar os pés com as realidades de sofrimento humano, social e espiritual que nos cercam. Só assim é possível aproximar-se de cada ser humano em período de reclusão evitando definir a pessoa pela sua falha ou pelo seu crime, mas procurando apenas fazer caminho com outro ser humano.
*O padre Marcos Miranda é capelão do Estabelecimento Prisional de Angra.