Luís Inácio é natural das Feteiras, ilha de São Miguel, e serve na paróquia de São José, na segunda maior diocese do Canadá
“O sacramento não atuando ontologicamnete, sobre o modo de ser, poderá modificar a minha forma de viver”, mas “estou feliz e realizado por cumprir aquela que penso ser a vontade de Deus, apesar da minha resistência”, afirma Luís Inácio, 59 anos, que será ordenado no próximo sábado na diocese de Hamilton, no Canadá.
Nascido e criado nas Feteiras, ilha de São Miguel, quando rumou a Lisboa para ingressar na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e mais tarde se transferiu para Filosofia, para a faculdade de Letras, já tinha uma forte ligação à Igreja, aprofundada por uma grande proximidade à família dominicana.
“Estudei, estive sempre implicado na liturgia, nomeadamente como organista e diretor de dois grupos corais, mas resistia a dar um passo mais nesta ligação” refere com a naturalidade de quem dá agora o passo com uma maior maturidade mas sem “perder de vista que é humano e por isso uma criatura diante de Deus, frágil e pecadora”.
“A minha ligação aos dominicanos levou-me até ao Canadá para fazer o doutoramento na Universidade de Otava. Entrei para a Congregação e professei” refere como nota biográfica, mas sentiu sempre que faltava qualquer coisa.
“Cedo manifestei o gosto de ser padre, mas a minha mãe nunca simpatizou com a ideia” reconhece. Há 15 anos, quando rumou ao Canadá para o doutoramento ficou primeiro em casa da irmã, depois mudou-se para os dominicanos e quando chegou a possibilidade de ser ordenado, não hesitou.
“Ser padre era algo que, apesar de alguma resistência, andou sempre colado a mim tal como era claro que a sê-lo tinha de ser na diocese e não na Congregação. Preciso da experiência do contacto com as pessoas, do trabalho pastoral. Não consigo estar fechado num gabinete ou numa sala de aula” admite.
A saída da Congregação foi autorizada por Roma, e Luís passou a integrar a diocese de Hamilton, nomeadamente a paróquia de São José, onde já serve como Vigário depois da ordenação diaconal. A formação universitária não impediu que tivesse de frequentar outra formação em liturgia e teologia dos sacramentos, iniciada em 2022 e terminada em maio do ano passado.
“Foram três semestres muito interessantes em que também estive no serviço pastoral, que é muito absorvente”, afirma. Aliás, no Canadá um pároco não pode acumular outras funções a não ser o serviço da paróquia já que o assistente de todas as escolas católicas e instituições sociais que integrem geograficamente os limites territoriais da paróquia.
“É exigente; temos de estar a tempo inteiro mas é isso que é interessante”, refere ainda.
No próximo sábado será ordenado presbítero, mas não encara isso como uma mudança significativa.
“ O sacramento da ordenação não altera o meu nome; não traz alteração ontológica: aquilo que fui, o que sou e o que serei, com as minhas fraquezas e virtudes, com a minha história” acrescenta.
“Estou feliz e contente porque sinto que estou a realizar o que sempre desejei mas ao que sempre resisti e o sacramento não atuando sobre o modo de ser poderá modificar a minha forma de viver” diz ainda.
“As vocações nunca são tardias, elas são chamamento de Deus e, desde tenra idade , que dizia que gostaria de ser padre. Fui -me desviando, a mãe foi contra, mas sempre estive ligado à Igreja e atividades da Igreja. Pensei que seria o suficiente para mim e para satisfazer a vontade de Deus, mas na verdade a minha resistência vinha do facto de eu querer fazer a minha vontade e não a vontade de Deus”, destaca ao sublinhar que este é o problema de um certo “egoísmo”.
“Quis durante muito tempo que a vontade de Deus fosse a minha em vez de eu me adaptar à vontade de Deus”, refere numa espécie de jogo de palavras que revela antes de mais uma certa forma de “fidelidade” que os humanos “teimam em não ter”.
“A vocação, e o seu discernimento, pressupõe sempre um caminho de conversão, uma espécie de metanóia, se me é permitido. A graça divina atua a partir do coração humano, como desejo e quero viver e para isso temos de nos abrir à escuta do Espírito Santo” relata dizendo que ainda no ínicio desta semana, quando se confessava dizia que tinha medo de si mesmo, insistindo: “durante muitos anos eu queria que Deus fizesse a minha vontade, ou seja eu queria atuar como Ele, não de acordo com a sua vontade. São desafios muito sérios, de convivência, de integração e comunhão com os outros. Todos nós temos de morrer de nós mesmos”, conclui.
Já sacerdote, celebrará a sua Missa Nova, nas Feteiras, a 18 de agosto, às 12h30.
“É um regresso à comunidade que me viu nascer e me acompanhou na formação para a fé. É uma forma de agradecer e dizer-lhes que continuamos em comunhão”, conclui o diácono Luís Inácio.