Francisco recebeu grupo de mais de 100 humoristas, incluindo os portugueses Joana Marques, Maria Rueff e Ricardo Araújo Pereira
“É possível rir também de Deus? É claro que sim, isto não é blasfémia, assim como brincamos e fazemos piadas com as pessoas que amamos. A tradição sapiencial e literária hebraica é mestra nisso! Pode ser feito, mas sem ofender os sentimentos religiosos dos fiéis, especialmente dos pobres”, disse, no Palácio Apostólico do Vaticano.
Num discurso em que saudou, por diversas vezes, a missão de humoristas e comediantes, Francisco sustentou que a linguagem do humor é adequada para entender e “sentir” a natureza humana.
“O humor não ofende, não humilha, não cola as pessoas aos seus defeitos. Embora a comunicação atualmente gere contrastes, muitas vezes, vocês sabem como unir realidades diferentes, às vezes, até opostas”; declarou.
O Papa começou por agradecer o trabalho desenvolvido pelo Dicastério para a Cultura e a Educação, presidido pelo cardeal português D. José Tolentino Mendonça, presente no encontro.
Francisco falou do “milagre” de fazer sorrir mesmo quando se fala dos problemas da humanidade.
“Vocês denunciam os excessos do poder; dão voz a situações esquecidas, evidenciam abusos, apontam para comportamentos desadequados”; disse aos participantes.
“O que vou dizer a seguir não é uma heresia: quando conseguem fazer com que sorrisos inteligentes brotem dos lábios, mesmo de um só espectador, vocês também fazem sorrir Deus”.
O Papa destacou a “sabedoria” da linguagem da comédia, do humor e da ironia, destacando a popularidade dos humoristas, que “têm e cultivam o dom de fazer as pessoas rir”.
“Vocês estão entre os poucos que têm a capacidade de falar com pessoas muito diferentes, de diferentes gerações e origens culturais”, realçou.
Francisco afirmou que “é mais fácil rir juntos do que sozinhos” e que o riso “ajuda a quebrar as barreiras sociais”.
O Papa recordou que, há mais de 40 anos, faz a oração de São Tomás Moro: “Dai-me, Senhor, o sentido do humor”.
“Recomendo que rezem ao Senhor para pedir o sentido de humor. Vão fazer-vos chegar a bela oração de São Tomás Moro”, referiu aos participantes.
“Como precisamos de aprender com vocês! O riso do humor nunca é contra alguém, mas é sempre inclusivo, proativo, desperta abertura, simpatia e empatia”.
Francisco desejou que os presentes possam continuar a “animar as pessoas, especialmente aquelas que têm mais dificuldade em encarar a vida com esperança”.
“Abençoo-os de coração e peço-lhes, por favor, que rezem por mim, em favor, com um sorriso, não contra”, concluiu, provocando gargalhadas na assembleia.
Joana Marques, que integra o programa ‘Três da Manhã’, da Renascença, disse à emissora católica portuguesa que o discurso do Papa “é um bom recado para a humanidade e que vai acabar com muitas discussões, que não dão em nada”.
“Sim, pode-se rir de tudo: umas pessoas podem gostar e outras nem tanto, mas não deixa de ser só isso”, referiu. A humorista portuguesa considerou “muito emocionante” ouvir o Papa afirmar que é “importante fazer rir os outros” e que isso “pode ajudar pessoas em alturas complicadas das suas vidas”. |
O encontro organizado pelo Dicastério para a Cultura e a Educação e pelo Dicastério da Comunicação teve como objetivo promover o diálogo entre a Igreja Católica e os humoristas, segundo a Santa Sé.
Num encontro com artistas, em junho de 2023, o Papa disse que os humoristas, nomeadamente os atores, artistas, cartoonistas, escritores, têm “a capacidade de sonhar novas variáveis para o mundo”, através da ironia, que é “uma virtude maravilhosa”.
A lista divulgada pela Santa Sé elencava 107 convidados de vários países, incluindo o brasileiro Fábio Porchat ou os norte-americanos Stephen Colbert, Jimmy Fallon, Conan O’Brien, Chris Rock, Whoopi Goldberg e Julia Louis-Dreyfus.
Após esta audiência, o Papa viaja de helicóptero para a Apúlia, no sul de Itália, onde participará na Cimeira do G7, com um discurso e vários encontros bilaterais com líderes mundiais.
Após o discurso, o Papa cumprimentou pessoalmente cada um dos participantes e voltou a tomar a palavra, após ter sido lida, para todos, a oração de São Tomás Moro, que está na exortação ‘Gaudete ex Exsultate’, sobre a santidade, de 2018.
Francisco desejou “o melhor” para os presentes e rezou para que Deus os “acompanhe nesta vocação tão bela de fazer rir”. “Obrigado por nos fazerem rir e obrigado por rirem, no coração. Que o Senhor vos abençoe a todos, obrigado”, disse, antes da foto de família que marcou o final do encontro. Oração de São Tomás Moro «Dai-me, Senhor, uma boa digestão e também qualquer coisa para digerir. Dai-me a saúde do corpo, com o bom humor necessário para a conservar. Dai-me, Senhor, uma alma santa que saiba aproveitar o que é bom e puro, e não se assuste à vista do pecado, mas encontre a forma de colocar as coisas de novo em ordem. Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, os suspiros e os lamentos, e não permitais que sofra excessivamente por essa realidade tão dominadora que se chama “eu”. Dai-me, Senhor, o sentido do humor. Dai-me a graça de entender os gracejos, para que conheça na vida um pouco de alegria e possa comunicá-la aos outros. Assim seja». |
(Com Ecclesia e Vatican News)