Por Francisco Maduro Dias
Hoje, fim de semana do Senhor Espírito Santo de 2024 da era de Cristo, caíu-me diante dos olhos um texto, especialmente bem escrito, acerca da adesão futura da Ucrânia à União Europeia, do ponto de vista da agricultura.
O autor, Pedro M. Santos, agrónomo de profissão, apresenta um quadro muito interessante de comparações, não só acerca da superfície dos terrenos agrícolas – enorme de 41,3 milhões de hectares – da Ucrânia, como do elevado teor de matéria orgânica – cerca de 9%, quando em Portugal as terras aráveis têm cerca de 1% – como do facto de ser maioritariamente muito plano e cheio de cursos de água, como se de uma rede natural de regadia se tratasse.
A integração da Ucrânia, na União Europeia, aumentará em 25% o total da área agrícola da União. Isto porque a sua superfície de terras aráveis é 120% superior à da França, e 140% superior à da Espanha…
Por estas e outras razões a Ucrânia é considerada, de facto, o celeiro da Europa e mesmo um dos principais do Mundo.
Em boa verdade a integração comercial e agrícola da Ucrânia na União está a acontecer, com o mercado de trocas e importações a subir rapidamente, beneficiando de dispositivos favoráveis que foram mesmo acelerados após o início da guerra e sentimos que essas trocas já existiam quando, no início do conflito, em 2022, os preços se alteraram e subiram.
Numa economia onde a política agrícola comum tem o peso que sabemos que tem, a entrada da Ucrânia dá razões para se pensar e não é por acaso que alguns países, onde a agricultura tem peso também, tiveram as suas associações a reagir.
Trago o assunto por duas ou três razões.
A primeira porque parece que ainda temos, nomeadamente aqui nos Açores, a ideia de que, porque a Ucrânia está do outro lado da Europa, é um assunto lá de longe. Ora não é. O que se passar lá e o modo como reagirmos vai marcar a nossa vida futura por décadas e décadas. O cenário do pós 2ª Guerra e onde incluo a guerra fria e o período até 2022, alterou-se, globalmente, num sentido onde vejo uma tendência para o alinhamento em blocos muito mais forte que antes, quando a ideia subjacente era a do internacionalismo desejado e sonhado.
A segunda porque a Europa parece continuar, e nós por arrasto, a viver numa bolha de paradigmas e visões que não são partilhados por muitos outros povos e países.
Sonhar um mundo bom é importante, e querer que ele exista também, mas há que perceber que, infelizmente, a vida precisa da utopia para evoluir, mas dos pés na terra para se segurar. A Europa precisa de músculo económico e cultural, além da capacidade defensiva e ofensiva, para se fazer ouvir, mesmo junto dos seus parceiros do dito “ocidente” e a maior capacidade agrícola e exportadora são essenciais.
Finalmente, mas é o mais importante, precisamos, na Europa, de uma cultura de cooperação e de inteligente criatividade e invenção, que integre a Ucrânia, ao mesmo tempo que leva os outros países da União a revisitarem as suas capacidades e a inovar, inovar sempre, porque isso importa. Sem a Ucrânia, a Europa será sempre uma península dependente do continente Euroasiático. Com a Ucrânia, a Europa terá a força que nunca teve, mas nunca mais será a mesma.
É preciso perceber isto e acreditar que seremos capazes.