Variações apenas confirmam uma devoção marcada pela entrega e generosa partilha entre irmãos
É a primeira vez que Cristina Teixeira e Carlos Maciel vão levantar um império numa das Irmandades do Pico. Irmãos “desde sempre” no Império da Terça-feira, da Madalena e de São Mateus, respetivamente, fazem-no por razões diferentes: ela por promessa pessoal e familiar; ele porque assim foi escolhido entre os irmãos.
Esta é uma das inúmeras diferenças que existem na organização das irmandades do Pico, 45 no total.
A figura do Imperador pode ser encontrada junto de algum irmão que tenha feito promessa pessoal ou por eleição de todos os irmãos da Irmandade entre aqueles que se disponibilizam ou ainda pela própria direção da Irmandade, como já aconteceu no Império da Terça-Feira, na Madalena, quando não houve ninguém a disponibilizar-se, como recorda César Gonçalves presidente da Irmandade do Império de Terça-feira, há 8 anos.
“É muito trabalhoso levantar o império mas nunca fica por levantar” garante, lembrando que este ano será uma “família da ponta do concelho. Acho que nunca tivemos um imperador de tão longe” refere ainda o dirigente.
“Tem-se perdido a noção de voluntariado e sendo uma tradição, com tanto valor cultural para além do religioso, deveria também ser mais valorizada a ação dos irmãos e das irmandades por parte das autoridades”, refere em jeito de lamento, atribuindo as dificuldades a “alguma falta de reconhecimento pelo trabalho que dá levantar um império”.
“É muito trabalhoso mas uma das coisas que aprendi é que não estou sozinha e para lá do meu núcleo familiar, ou dos amigos mais próximos, tenho sentido uma enorme generosidade de pessoas mais afastadas” refere, por seu lado, Cristina Teixeira, desde pequena Irmã desta Irmandade da Madalena.
“Tem sido uma experiência gratificante e evangelizadora. Cada decisão e cada passo é muito intenso mas nunca me senti sozinha. Assumi a organização da festa- este é o papel do imperador- mas não estou sozinha nem conseguiria estar porque levantar um império é uma tarefa hercúlea. Só mesmo com a ajuda das pessoas, e do Espírito Santo”, remata sorrindo.
Levantar um Império é sinal de organização da festa; colocá-lo de pé desde a parte litúrgica- reza do terço cantada, na semana que precede o Império, Missa, Coroação, sopas (ou função), folias, esmolas; tudo é o imperador a decidir”, refere.
Este Império da Terça-Feira tem uma particularidade: a distribuição de rosquilhas. Este ano estão mais de 6 mil projectadas. Vem gente do Faial e de São Jorge expressamente para esta festa, para além dos picoenses de outros concelhos e localidades.
“A ligação entre as irmandades é grande” diz Cristina Teixeira que contará este ano com 15 coroas, 15 estandartes e 15 quadras.
“Será grande” diz César Gonçalves. No domingo de Pentecostes, Cristina receberá na Igreja a Coroa e leva-la-à na procissão.
Também no domingo de Pentecostes, o Império de São Mateus será levantado. A mudança da coroa já decorreu no passado domingo e já está na casa do imperador deste ano, Carlos Maciel, e é lá que se reza o terço cantado todos os dias. No domingo será a Missa de coroação; depois a procissão e ainda a bênção das rosquilhas que serão distribuídas pela população.
“É uma alegria muito grande este tempo. O terço é um momento muito forte. É um lavar de alma, com sentimentos muito profundos. Já os vivi à distância junto das comunidades açorianas; agora vivo-o na minha terra e isso é muito bonito” diz Carlos Maciel.
“As pessoas oferecem o melhor que têm em louvor do Espírito Santo. A ajudar-me tenho cerca de 50 pessoas. É uma loucura, mas uma loucura muito gratificante” refere.
As filarmónicas são presença indispensável, tal como os foliões.
O culto ao Divino Espírito Santo é uma das marcas da religiosidade popular açoriana.
Na ilha Terceira, este culto está documentado desde 1492, quando faziam o Império e se distribuía o bodo, no dia de Pentecostes, à porta de uma capela do hospital do Espírito Santo.
Mesmo nos tempos de maior dificuldade, e de oposição da própria hierarquia, o culto nunca deixou de ser celebrado nos Açores. Hoje são os próprios papas que elogiam “o sopro do Espírito santo”, como uma “nova primavera para a Igreja”, como afirmou São João Paulo II.
Também o Papa Francisco sublinha que a celebração do Pentecostes representa “o antídoto para o frenesim contemporâneo” e que este este é o momento de dizer” Vem, vem Espirito Santo vem. Aquece o meu coração”.
O dia dos Açores é assinalado na segunda-feira de Pentecostes.
O Dia dos Açores foi instituído pelo parlamento açoriano em 1980, visando celebrar a autonomia política e administrativa da região, sendo comemorado na segunda-feira do Espírito Santo.