A reconstrução do património “é uma responsabilidade partilhada”

Foto: Igreja Açores/CR

A Igreja de Nossa Senhora da Estrela, na Ribeira Grande, acolheu uma conferência sobre o processo de recuperação, durante quase cinco anos

O processo de recuperação e restauro da Igreja de Nossa Senhora da Estrela na Ribeira Grande, reaberta ao culto no passado domingo, dia 12 de maio, foi revisitado esta noite numa sessão que juntou investigadores e especialistas em conservação e restauro implicados nesta obra que demorou quase cinco anos e que teve três grandes fases, num investimento global até ao momento (ainda não estão concluídas todas as obras) de 2,1 milhões de euros.

A obra, que contou com o apoio financeiro dos Governos central e regional, da Autarquia Ribeiragrandense e da comunidade, de “forma expressiva e empenhada”, foi uma das mais volumosas intervenções em Igrejas nos Açores, para além das reconstruções das igrejas do Faial e do Pico, na sequência do abalo sísmico de 1998.

“Reconstruir é uma responsabilidade de todos e por isso tem de ser partilhada, desde o pagamento á realização das obras” afirmou Susana Goulart Costa que, na altura da decisão do apoio governamental, era Diretora Regional da Cultura, a partir da memória da construção deste templo no inicio do povoamento açoriano.

“Desde essa altura, todos contribuíram de forma partilhada, de acordo com a sua missão para o financiamento da construção e a realização de obras” referiu a investigadora e docente da Universidade dos Açores a partir das fontes históricas, desde 1507, que davam conta da existência de uma Igreja de palha até aos dias de hoje, passando pela sagração do primeiro edifício em pedra em 1517, a segunda sagração em 1582 e as sucessivas reconstruções e melhoramentos introduzidos nos diferentes séculos de acordo com as necessidades.

Questões como “a dignidade do espaço”, a sua “funcionalidade” e “o bom uso” foram questões afloradas pela investigadora que sublinhou a importância do “diálogo entre a tradição e a inovação” como forma de garantir uma boa reconstrução de espaços de valor patrimonial, como é esta Igreja, classificada no Registo Nacional de Bem Imóveis desde 1953.

“Quando recuperamos património temos de aceitar que a mudança é natural- o património é como as pessoas vai envelhecendo e  temos de ir intervindo nele-; o que resulta da recuperação não é nem uma igreja nova nem a igreja primitiva e temos de ir jogando sempre com um são equilíbrio entre a inovação e a tradição, honrando e respeitando o que os antepassados projectaram” afirmou Susana Goulart Costa, que percorreu as várias fases da construção desta Igreja ao longo de cinco séculos.

O presidente da Comissão de Obras, Filomeno Gouveia, fez uma exposição detalhada da forma como as obras decorreram, em três fases distintas, mas todas elas alvo de “profundas reflexões e opções” de forma a que “os recursos parcos fossem dando”. O também presidente da Confraria do Santíssimo desta paróquia recordou “opções dificieis” mas sempre “apoiadas por entidades públicas e pela enorme generosidade dos paroquianos, em especial os emigrantes”.

“Foi uma recuperação sem paralelo na diocese” sublinhou, por seu lado, José António Garcia, do Conselho Pastoral.

“Ainda estamos com os pés levantados do chão” disse, visivelmente emocionado, o padre Manuel Galvão que afirmou, ainda, que “nem tão cedo haverá outra intervenção desta natureza”, apesar de ainda faltarem algumas obras neste processo de recuperação e restauro da Matriz de Nossa Senhora da estrela.

O ouvidor, padre Vítor Medeiros, elogiou a obra e a reabertura do templo, “muito desejada pelo povo” e incentivou a comunidade a “ser uma igreja de pedras vivas, dinâmica” que “embeleze ainda mais o património edificado”.

“Que seja um lugares de muitos encontros jubilares e que seja um lugar de esperança para todos”, concluiu.

Nesta iniciativa tomaram ainda a palavra o Diretor Regional de Obras Públicas e o Presidente da Autarquia, que colocou o acento tónico na necessidade da se criarem roteiros do património religioso.

“Precisamos de ter Igrejas de portas abertas para quem nos visita”, disse Alexandre Gaudêncio.

A obra começou com a  intervenção na cobertura, depois no tecto interior, nos altares e nas pinturas murais dentro da Igreja. Recuperaram-se anexos, a onde vão ficar os arquivos; fez-se uma sacristia nova e da velha renascerá o Museu, que ainda não está pronto mas tem regresso garantido no sítio onde já funcionava, antes das obras. Há ainda um novo espaço, uma sacristia mais pequena, que será uma sala de recolhimento, com exposição do Santíssimo. O Altar do Santíssimo, como foi recuperado há 15 anos, foi o único que ficou de fora do restauro feito em todos os altares do templo. Ainda foram limpas todas as imagens que compõem a estatuária da Igreja bem como lustros, candelabros e pratas.

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