A Ordem de São Francisco foi o tema da conferência inaugural das comemorações dos 500 anos da fundação do Convento de São Francisco em Ponta Delgada, pela paróquia de São José
A grande marca do Franciscanismo é o elogio da pobreza, não só no abandono dos bens materiais mas, sobretudo pelo despojamento da pessoa, transformando um ideal em regra de vida, e Clara de Assis foi fundamental neste “desapego” a tudo o que era terreno, afirmou esta noite Margarida Lalanda, professora da Universidade dos Açores e investigadora do Centro de História de Além Mar (CHAM), na conferência de abertura das comemorações dos 500 anos da fundação do Convento de São Francisco em Ponta Delgada.
A investigadora, especialista no estudo de conventos femininos nos Açores, partilhou as intervenções com Duarte Nuno Chaves, também ele investigador do CHAM e ambos falaram sobre a Ordem de São Francisco: regra, religiosidade e património.
“A novidade protagonizada por Santa Clara de Assis não resulta apenas de ser a primeira responsável da ordem franciscana feminina mas pelo impulso que deu à afirmação e consolidação do franciscanismo” disse ainda, lembrando a “inovação” proposta por Clara de Assis, que rejeitou o casamento como caminho de vida e de santidade, a clausura no sentido tradicional da época em nome da evangelização e permaneceu no mundo porque “era lá que era precisa uma intervenção” afirmou Margarida Lalanda.
“Na altura, quase todas as regras dos conventos femininos eram idênticas e decalcadas das dos conventos masculinos, mas Clara fez diferente: porque queria ter uma vida ativa e percebeu que a pobreza era uma forma de ascese, fosse como forma de purificação, caminho para Deus, humilhação, humildade, mortificação e tudo o que estivesse ligado à caridade” referiu ainda a docente.
“Ninguém se salva sozinho; é obrigatório levar a palavra de Deus aos outros e para isso é preciso evangelizar através da missão e dos espírito missionário, ingredientes que Clara de Assis manifestava em abundância” disse ainda Margarida Lalanda, destacando a atualidade da mensagem franciscana nos dias de hoje, em particular de Santa Clara, uma mulher “que operou uma verdadeira mudança no pensamento e nas atitudes religiosas”.
Os Franciscano são porventura a ordem mais importante desde os primórdios do povoamento nos Açores.
Possuíram conventos em São Miguel, na ilha Terceira, no Faial e na Graciosa e entre as três ordens franciscanas- masculina dos frades menores, feminina e a dos leigos penitentes (chamada Ordem Terceira, de que existem ainda algumas fraternidades na ilha Terceira e em São Miguel)- chagaram a possuir quase 30 das 40 casas religiosas existentes nos Açores, que funcionava como uma espécie “de plataforma giratória para a evangelização entre a Europa e o novo mundo”, disse Duarte Chaves.
Nas nove ilhas, quatro delas chegaram a ter conventos de Clarissas. Ainda hoje há um convento, o único mosteiro de clausura dos Açores, nas Calhetas, ouvidoria da Ribeira Grande.
Duarte Chaves, especialista em franciscanismo ressalvou, ainda, a importância dos Franciscanos e a sua influência no moldar da fé e da vivência religiosa nos Açores, recordando a criação da Província de São João Evangelista por Frei Diogo de Chagas e mais tarde a Província de Nossa Senhora da Conceição da qual o Convento de São Francisco, cujos 500 anos celebramos em 2025, faz parte.
Para o padre Duarte Melo, pároco da paróquia de São José, que está a promover esta comemoração, trata-se de uma oportunidade de “celebrar o património” e de “envolver a comunidade na sua defesa e preservação”.
“É um combate defender e refletir sobre o património que fala e que fala para o futuro” e é também uma oportunidade “para darmos a conhecer uma espiritualidade tão atual”, disse ainda.
“Falar da fé e de Jesus através do património é um desafio que ajuda necessariamente a fazer comunidade”, concluiu.
Esta foi a primeira de uma série de iniciativas que integra conferências, um ciclo de órgãos, exposições e dição de livros para celebrar os 500 anos da fundação do Convento de São Francisco, em Ponta Delgada. Uma iniciativa que se assume como uma espécie de pórtico das comemorações dos 500 anos da fundação da Diocese de Angra e que conta com o alto patrocínio da Presidência da República e da Presidência do Governo regional dos Açores.