Sete sacerdotes celebram bodas de prata, de ouro e de diamante na diocese de Angra

 

Foto: Igreja Açores /José Cabral

Jubileus sacerdotais serão assinalados na missa Crismal, no próximo dia 26 de março, na Catedral, em Angra, às 11h00

Entre os sacerdotes mais velhos e os mais novos que completam este ano os 25, os 50 e os 60 anos de ordenação sacerdotal, há um sentimento transversal à cerca do seu sacerdócio: mesmo não “sendo um mar de rosas, valeu  e vale a pena”.

Os padres Ricardo Tavares, António Azevedo e Francisco Zanon completam 25 anos de vida sacerdotal; o cónego Francisco Dolores 50 e os padres Abílio Morais, António Rego e Pedro lima Mendonça, 60 anos.

“Na verdade, talvez tenha hoje uma sensação de maior plenitude própria de quem chega a uma determinada idade e revê a sua vida, num longo caminho percorrido, com coisas muito boas mas também com coisas muito más, e por todas dou graças a Deus” refere o padre Pedro Lima Mendonça que, ao largo dos seus quase 84 anos e 60 de sacerdócio, ordenado em maio de 1964, “entusiasmado com os ventos do Concílio Vaticano II”,  sente que “ainda há muito caminho para andar”.

“A Igreja tem de recuperar os anos em que o Concilio, por causa da vontade de algumas forças internas, foi obliterado” refere ao lembrar que “muitas das expectativas e esperanças próprias desse momento efervescente regrediram”, mas “este Papa está a recolocar as coisas no sítio e nas dinâmicas próprias”.

“Veja este Sínodo… quem lê os documentos percebe que há uma mudança de atitude e ainda bem” prossegue sublinhando a importância de se devolver aos leigos o que é dos leigos.

“Os leigos na Igreja não são delegados da hierarquia, não fazem as coisas pela transmissão do poder que recebem dos sacerdotes ou do bispo, mas têm de assumir a sua própria condição e dignidade” refere, ainda.

“Não se trata de fazer uma Igreja para leigos e outra para padres, mas há um trabalho que importa fazer e tenho esperança que o Sínodo possa dar um avanço neste sentido”, diz ainda evitando sempre falar na primeira pessoa.

“O que importa é que a Igreja é povo de Deus, como diz a Lumen Gentium. Então, ponhamos isso em prática”, diz o sacerdote que ainda ajuda na paróquia de Santa Luzia onde serviu e ainda serve, ajudando o pároco, seu homónimo, embora com 52 anos de diferença.

“ São Paulo diz: não há homens nem mulheres, não há escravos nem homens livres, todos sois irmãos em Cristo; todos têm a mesma dignidade e todos têm a mesma importância. O sacerdote é outro Cristo? É, mas o leigo, pela dignidade do batismo, também é outro sacerdote. Este é o trabalho fundamental que falta fazer” conclui o padre Pedro Lima Mendonça, padre diocesano desde 17 de maio de 1974.

 

Foto: Info Fajãs/MM

Padre António Azevedo: “Não é um mar de rosas, mas vale a pena”

O Padre António Duarte Azevedo é o mais novo dos sacerdotes em festa jubilar este ano. Nasceu em 1971 e cumpre 25 anos de ordenação. Natural de São Jorge, sempre serviu na ilha desde a primeira colocação que o levou até à Escola das Velas, onde lecciona Educação Moral e religiosa Católica, desde que foi ordenado.

“É como uma paróquia”, com uma nuance “através dos filhos chego aos pais o que é bom” refere porque hoje “já ninguém procura o padre a não ser quando é preciso”.

“Se não estivesse na escola, se calhar era mais difícil conhecer tanta gente; o esforço ainda teria de ser maior” diz o sacerdote.

“A escola tira-nos muito tempo mas dá-nos muito, tem sido um consolo” esclarece o padre António Azevedo, que no próximo dia 26 estará na Sé para abraçar dois colegas de curso que esperaram um ano para serem ordenados.

“Vai ser um abraço muito apertado e que, espero, seja muito sentido. Os meus colegas- os padres Teodoro Medeiros e Adriano Borges- fizeram parte da minha formação humana; com os colegas aprendemos quase tudo. Vejo sempre em cada padre um amigo”, diz.

E, quando se olha para trás?

“Continuo a viver e a acreditar nos mesmos ideais de há 25 anos, ainda não tive tempo de pensar o contrário, ou seja, continuo com as mesmas ideias: aquele que amar pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim… Continuo a fazer disso um lema e continuo a sentir as borboletas da paixão por Jesus e pela Igreja” confessa, mesmo que “a vida e a Igreja tenham mudado” e as “incompreensões e a solidão” possam fazer-se sentir.

“Acredito na missão que me foi confiada: como parte deste rebanho em São Jorge apascentar as ovelhas, procurando indicar às pessoas o Céu e tentando melhorar a vida delas”.

“A Igreja que sonhava enquanto adolescente não é a mesma Igreja hoje. Tive dificuldades, senti a solidão, a incompreensão, mas estou numa ilha de gente boa, com boa prática religiosa e isso anima-me”.

“Não é um mar de rosas, mas vale a pena. Nada na vida é um mar de rosas, procuro caminhar com todos” conclui.

O padre António Duarte Azevedo foi ordenado a 20 de junho de 1999 e é pároco das Velas, na ilha de São Jorge, de onde é natural.

 

Foto: Câmara Municipal de Angra

Cónego Francisco Dolores: “sinto-me um reformado em paz”

No ano em que se assinalam 50 de revolução, o cónego Francisco Dolores, ordenado a 19 de abril de 1974, é conhecido pela sua “proximidade” e sobretudo “pela ação em prol dos desfavorecidos”.

“Procurei sempre integrar, mesmo quando estava na Terra Chã e lá viviam pessoas de tantos lugares, e quando procurei integrar os alunos da Universidade dos Açores, acolhendo-os na paróquia num dia próprio porque a Universidade era lá”, refere o sacerdote numa conversa que poderia ser maior do que foi.

“Como é que me sinto a fazer bodas de ouro?” perguntou devolvendo a pergunta. “Olhe como uma pessoa que tem 74 anos  e com as limitações próprias da idade e da doença, mas em paz consigo e com os outros. Sinto-me, por isso, um reformado em paz”.

Natural de Santa Maria, serviu praticamente sempre na ilha Terceira, em várias paróquias, a última das quais é também Santuário, Nossa Senhora da Conceição, em Angra.

“Procurei dar-lhe a dignidade própria de um espaço onde se vive a piedade popular numa expressão muito própria do povo português que é a piedade mariana” refere, “hoje numa época em que a Igreja está diferente como o mundo está diferente”, porventura “mais temeroso” porque é preciso não esquecer a guerra, “a da Europa, a do médio oriente e todas as outras”.

“Há situações que poderão piorar” alerta com a experiência de quem sempre gostou de refletir.

“A Igreja atual tem procurado adaptar-se às diversas circunstâncias e também em função dos continentes onde está. Eu estive em vários locais e vi como a Igreja de lá se organizava”, esclarece.

À pergunta se sente um padre de abril e por isso revolucionário responde: “aprendi muito nos escuteiros, que procurei valorizar na Terceira numa altura em que a moda era pertencer à Mocidade Portuguesa. Nunca fui da Mocidade mas sempre fui escuteiro”, no que isso tem de ensino e preparação para a “resiliência, valores de cidadania ou intervenção pública”.

“Fui durante 21 anos jornalista do jornal a União, onde desempenhei funções de chefe de redação e de administrador. Hoje fazem falta estas vozes no espaço público” adianta ainda.

“O 25 de abril trouxe-me sinais de esperança e apesar de muitos terem ficado aquém dou graças pelo 25 de abril. Sabe, não existem democracias perfeitas; Portugal não é uma democracia perfeita, mas é aquilo que podemos ter. O que mudava? Se calhar tornaria a cultura menos personalista. Em Portugal há o culto da personalidade e isso tem muitos riscos”, alerta.

“Vivemos problemas difíceis na saúde, habitação e na complexidade burocrática; seria bom haver uma justiça mais correta e equitativa e menos eclética, só para alguns, para não falar nas desigualdades”.

“Precisamos de gente que não se acomode”, conclui, ficando a promessa de uma conversa mais longa que conte esta história de vida que como tantas outras da Igreja ajudaram a formar uma consciência crítica e cívica nos Açores a partir da Igreja e com a Igreja.

Além destes três sacerdotes completam ainda bodas de prata os padres Ricardo Tavares e Francisco Zanon e bodas de diamante os padres Abílio Morais e António rego, com quem o Sítio Igreja Açores falará nos próximos dias.

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