Festa dos Espinhos termina no Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres: “Estar de Joelhos significa uma desconstrução do nosso tempo”

 

Foto: Igreja Açores/JEC

Reitor lembra que é de joelhos, diante de Deus, que se expressa a gratidão que não se consegue dizer por palavras

O santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres viveu esta sexta-feira a Festa dos Espinhos, depois de nove dias de novena centrada nos espinhos que ferem e ofendem a Deus impedindo que o Amemos como ele nos ama.

No último dia desta Festa dos Espinhos, que começa sempre na primeira quarta-feira a seguir à de Cinzas, com o novenário, o reitor do Santuário desafiou os fieis a aproximarem-se de Deus em sinal de gratidão e não apenas de suplica.

“Na comunicação social diz-se que uma imagem vale por mil palavras. Hoje, a Nossa Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres  vale um milhão de palavras porque olhando para aqueles olhos e rosto percebemos  o que é Deus e o que significamos para ele. Por isso,  aproximemo-nos com confiança deste Senhor que nos protege e acompanha nas circunstâncias sobretudo difíceis, mas aproximemo-nos também para lhe agradecer e façamo-lo de joelhos”, afirmou o cónego Manuel Carlos Alves.

O sacerdote destacou que este dobrar de joelhos não é sinal de humilhação mas de gratidão.

“Muitas vezes nos aproximamos Dele em situação de grande necessidade e é importante que também  nos apresentemos diante dele de joelhos, agradecendo aquilo que de bom e de bem Ele nos faz ao longo da nossa vida”.

“Na minha caminhada tenho percebido que nos ajoelhamos por diferentes razões: ou por grande necessidade, e é justo e oportuno apresentar-nos assim diante de Jesus; outras vezes  porque alguém nos obriga e é uma situação de humilhação.  Não é isto que Deus quer em circunstância nenhuma” frisou, agradecendo também a colaboração dos dois sacerdotes que com ele pregaram esta sua primeira Novena dos Espinhos como Reitor do Santuário Diocesano do Senhor Santo Cristo dos Milagres.

O tema deste último dia de festa era justamente um excerto da carta aos Filipenses, na qual o cristão é convidado a ajoelhar-se diante de Deus, como sinal não de humilhação mas de reconhecimento que Ele é o “senhor da vida”.

O padre José Paulo Machado, último pregador desta festa afirmou que é “no ajoelhar que está a salvação”.

“A salvação vem daí: acontece quando nos curvamos diante de Deus e este Santuário é uma escola de salvação para todos nós” afirmou, sublinhando a importância das primeiras sexta-feiras, uma devoção ao Sagrado Coração de Jesus, marcado por uma coroa de Espinhos, que é vivida de forma particular neste lugar.

“Devemos muito às primeiras sextas-feiras aqui celebradas no Santuário da Esperança”, com os momentos de recolhimento, comunhão e adoração eucarística, feitos para desagravar o Sagrado Coração de Jesus e reparar os inúmeros pecados cometidos contra Ele.

“Hoje a posição do homem é estar numa postura vertical; estar erguido. Estar de joelhos contraria, assim, este ar vertical do ser humano”, mas  também “significa uma desconstrução do nosso tempo” afirmou o padre José Paulo Machado.

“Que ensinamento nos traz o estar de joelhos: quem se coloca de joelhos porventura nada mais tem a o oferecer ao Senhor se não o esgotamento das suas forças”, mas é de joelhos “que nos salvamos”.

“Desconstruímos e desconstruímo-nos quando nos ajoelhamos, porque nos deixamos salvar. Quando dobro a minha estatura vertical estou a deixar que Deus esteja a trabalhar em mim”, afirmou ainda o sacerdote, ao lembrar a prática penitencial que tantos desenvolvem em torno do Campo de São Francisco, onde se situa o Santuário do Senhor Santo Cristo.

Referiu mesmo uma “dinâmica do ajoelhar, na manhã de sábado do Senhor Santo Cristo” que  “vem de dentro da alma de um povo”.

Por isso, conclui: “este campo de São Francisco está tingido de inúmeros joelhos, milhares…até o Santo Padre (João Paulo II, 11 de maio de 1991) se ajoelhou neste lugar”.

“Nós podemos conhecer tudo e ter um discurso muito elaborado à cerca de Deus e isso chama-se Teologia; é importante  termos uma fé esclarecida, mas se isto não for feito de joelhos de que serve” interpelou.

“É de joelhos que o corpo antecipa uma entrega da alma” concluiu o sacerdote lembrando o exemplo de grandes místicos como Etty Hillesum que no seu Diário, escrito durante a reclusão num campo de concentração reconhecia que o maior feito da sua vida tinha sido colocar-se de joelhos diante de Deus”.

A novena dos Espinhos foi pregada pelos padres Hélio Soares, Manuel Carlos Alves e José Paulo Machado. Durante nove dias foram abordados temas fulcrais para a conversão do homem neste tempo da quaresma, desde a relação com Deus, com os irmãos ou com o ambiente.

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