Cracas originam presépio na ilha Terceira

As cracas, crustáceos marinhos que são um típico petisco nos Açores, deram este ano forma a um presépio particular na ilha Terceira

 

Ao longo de dois meses, Germano Simas passou os seus tempos livres a transformar cascas de cracas, semelhantes a cones rochosos, num presépio com 30 centímetros de largura e 60 de comprimento.

Em vésperas de Natal, a peça está pronta para ser colocada numa vitrina e fazer companhia a muitas outras criadas por ele na decoração da sala.

Neto de um pintor artístico de igrejas e impérios da ilha Terceira, Germano Simas tem desenvolvido trabalhos sobretudo em cerâmica, mas também já criou peças em cabaças, por exemplo, entre outros materiais.

A ideia do presépio de cracas estava “formada há alguns anos”, contou à Lusa o autor, que disse tê-la adiado porque foram surgindo outros projetos.

Foi durante um jantar com cracas na ementa que o artista imaginou um presépio diferente com uma matéria-prima nunca antes utilizada, pelo menos que seja do seu conhecimento.

Germano Silva já conhecia os tradicionais presépios de lapinha, feitos na ilha de São Miguel, e pensou que seria possível criar uma peça tendo igualmente o mar dos Açores como tema, mas com cracas e algumas conchas.

“Vou aproveitando estas formas, porque elas depois todas se encaixam. Vou tirando partido da forma delas”, explicou, enquanto mostrava algumas cracas que tinham sobrado.

Do prato para o presépio, os crustáceos ficam quase irreconhecíveis, mas o artista não os transforma, só os deixa secar e no processo deixam de ter o aspeto verde e coberto de musgo, passando a um branco sujo de lilás.

A parte mais complicada, segundo Germano Simas, foi partir as cracas e encaixá-las para que formassem colunas, um trabalho de muita “minúcia”, que exigiu “bastante paciência”.

O presépio foi pensado ao pormenor, tem a gruta com o quadro do nascimento de Jesus, mas também “tem a parte nobre, com os Reis Magos que saem do seu palácio para visitar o Menino” e uma “aldeia árabe”, com casas típicas, árvores e até uma mesquita. As personagens não são feitas com cracas, mas tudo saiu das mãos do artista terceirense.

Germano Simas é funcionário público e os trabalhos manuais são apenas um passatempo, que descreveu como um “dom” e um “bichinho”.

Admitiu expor o presépio, como já o fez com outras obras, mas para já fica apenas na sua sala, até porque não faz este tipo de trabalhos para vender.

“É uma peça que se faz uma vez na vida e também não quero ficar sempre a fazer presépios”, salientou, acrescentando, no entanto, que já tem uma ideia para montar outro presépio mais pequeno com as cracas que sobraram.

CR/Lusa

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