Sacerdote proferiu conferência sobre a pastoral juvenil e vocacional no âmbito do Encontro de Ouvidores, que está a decorrer em Ponta Delgada
Depois da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa e da atenção que vários documentos do magistério têm dado aos jovens não como o futuro mas como o presente da Igreja, hoje olhar para a pastoral juvenila partir da pastoral vocacional, e colocá-las em diálogo, “é fundamental para a Igreja” afirmou o responsável pela revista Misión Jovèn, padre Koldo Gutierrez esta manhã numa conferência via zoom integrada na reunião de Ouvidores que decorre em Ponta Delgada.
“Este é um momento de sementeira generosa e de ter os jovens como interlocutores” afirmou o sacerdote que é o formador dos salesianos estudantes de Teologia, em Espanha, e já foi o diretor do Centro Nacional de Pastoral Juvenil Salesiana de Espanha.
O sacerdote defendeu um diálogo permanente entre a pastoral juvenil e a pastoral vocacional lembrando que a “dimensão vocacional é a chave da pastoral juvenil”.
“O que a pastoral juvenil tem que tentar é que o vínculo com Jesus não se dissipe, que Ele esteja sempre o centro” afirmou sublinhando que “a alegria do testemunho, que mostra que o seguimento de Jesus não é uma carga ou algo que nos custe, que é mais do que estar pronto para fazer uma tarefa, é essencial”.
“A pastoral convida-nos a unir-nos aos homens e às mulheres nas suas resistências e dúvidas, até que o Espírito consiga acender a chama da fé nos seus corações.” Por isso, “ a missão de cada evangelizador é acompanhar as resistências e as dúvidas à luz da fé. No processo de fé há um forte debate interno dentro de nós entre dúvidas e resistências até acolhermos o dom da fé”, disse lembrando que a reflexão deve partir de uma antropologia do dom, isto é, “entender que tudo na vida- o amor, o trabalho, a vocação- é um dom”.
“A antropologia do dom iluminada a partir da missão conduz à saída de si: ser para os outros e com os outros”, o que é algo que agrada aos jovens e os desafia a serem “interlocutores” disse o sacerdote fundamentando a sua intervenção no instrumento de trabalho do Sínodo dos bispos sobre os Jovens e a Igreja e na exortação pós-sinodal, Cristo Vive.
“Esta pastoral propõe: escutar; estar presente onde a vida parece precária; resistir às ideologias e desejo de poder; cultivar a qualidade dos relacionamentos; reconhecer os carismas presentes na comunidade; valorizar o diálogo; dar importância ao discernimento; reconhecer a presença do Outro no diálogo pastoral; comprometer-se com o acompanhamento pastoral; dar importância à Palavra de Deus no trabalho pastoral; fortalecer a identidade dos discípulos”.
Acompanhar e discernir são dois verbos apresentados pelo sacerdote como atitudes que revelam o “rosto relacional da Igreja”.
“A Igreja só pode ser renovada cuidando das relações; uma Igreja que escuta, que privilegia as relações em vez das estruturas e que promove a proximidade emocional”.
“Neste sentido, neste momento da história podemos perguntar-nos se conseguimos fazer da dimensão vocacional o eixo fundamental da nossa pastoral juvenil. Talvez seja se promovermos uma pastoral de fé, se promovermos uma pastoral mais relacional, se entendermos o acompanhamento como uma missão importante, se avançarmos na arte do discernimento” afirmou ainda.
“Para os nossos concidadãos, que procuram o autêntico, a vida espiritual apresenta-se hoje como uma busca. Neste sentido, encoraja-nos saber que `Deus não está longe de nenhum de nós´ (Atos 17:27). Mas, pelo contrário, está presente na nossa vida e em qualquer circunstância da existência.”
“ O relevante é poder compreender o que Deus diz, ouvir a sua chamada, muitas vezes silenciosa. Não é tanto que Deus peça ao homem, mas que o que Deus faz é chamar. A fé é a resposta não a uma pergunta, mas a um chamamento. A fé não satura a existência com respostas pré-fabricadas, mas consiste em responder a um chamamento que dá vida”, afirmou o padre Koldo Gutierez.
O sacerdote sublinhou as dificuldades existentes na sociedade de hoje, nomeadamente as contrariedades levantadas por uma sociedade “em que a fé em Deus é mais uma opção entre muitas outras e, aparentemente, não é a opção mais fácil de abraçar” e a “secularização não está a devorar o Cristianismo, mas sim a torná-lo irrelevante”, o que é acompanhado de “uma perda de estima e apreço pelas coisas religiosas e pela palavra dos crentes”.
Para o sacerdote salesiano, o grande desafio é apresentar o “evangelho como um presente para a nossa cultura”.
Os desafios colocados à diocese de Angra no pós jornadas da juventude, nas quais participaram cerca de 900 jovens, com várias iniciativas antes e depois da conclusão do evento em Lisboa, é um dos temas desta reunião dos representantes das 17 ouvidorias da diocese de Angra que estão reunidos desde segunda-feira em Ponta Delgada.