Presidente da Comissão Justiça e Paz projecta “exercício de maturidade cívica para todos”; diretora do Serviço Diocesano da Pastoral Social alerta para novo xadrez político que pode “significar retrocesso em matérias sociais”
A coligação PSD/CDS/PPM venceu as eleições regionais dos Açores, no domingo, com 42,08% dos votos, elegeu 26 deputados, mas ficou a três da maioria absoluta. O PS perdeu as primeiras eleições regionais em 28 anos e o Chega passou a terceira força política, passando de dois para 5 deputados com assento parlamentar. Pelo círculo de compensação entrara mais três partidos: o BE, a IL e o PAN.
“Os resultados desta noite exigem um grande sentido de responsabilidade e atenção permanente de todos: eleitores, eleitos e governo. Ninguém pode lavar as mãos e dizer que não é responsável” salienta Francisco Maduro Dias, presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz, que antecipa uma governação “feita de equilíbrio e isso pode ser favorável à defesa do bem comum”.
“O que se passou nos Açores é uma concretização do espírito de abril: as pessoas votaram de forma plural e ao diversificarem o seu voto disseram claramente que querem maior vigilância na governação e na definição do que é o bem comum e que as maiorias absolutas tantas vezes ignoram”, acrescenta Maduro Dias.
“Este resultado responsabiliza-nos a todos. Ninguém pode ficar de fora nem excluir-se do processo, isto é, como cidadão eleitor não posso ficar calado e muito menos dizer que elegi e o meu dever ficou cumprido” refere lembrando que “o equilíbrio é a nova palavra de ordem”.
“Quando ele não existir temos de sinalizar de forma responsável exercendo a nossa cidadania”, diz ainda.
“Todos somos necessários para que a governabilidade funcione; a inclusão é uma obrigação. Se não funcionar a culpa é de alguns de nós que resolvemos olhar apenas para o nosso umbigo e não para o bem comum, cidadãos, partidos e governo”.
Já Piedade Lalanda, diretora do Serviço Diocesano da Pastoral Social, teme pela possibilidade de algum retrocesso em matérias sociais resultante do posicionamento de partidos que cresceram eleitoralmente, à direita.
“Temas estruturantes do Estado Social estão a ser desvalorizados em prol de uma visão meritocrática em que só alguns podem ser beneficiários de apoios e esse não pode ser o ponto de partida nem uma visão de sociedade”, refere .
“À parte das questões estritamente partidárias há uma questão sociológica de fundo que importa atender. Por exemplo, a adesão dos jovens a discursos mais radicalizados, alguma perda de literacia política ou sentido crítico para analisar e propor opções políticas de fundo, que possam conduzir à defesa do bem comum e não só daqueles que nós achamos que são merecedores desta ou daquela medida”, acrescenta a socióloga.
Situando a análise nas questões sociais, a responsável pela Pastoral Social da Igreja alerta para a necessidade de uma maior vigilância do parlamento em relação às questões do trabalho, da proteção social, da igualdade de género ou do acesso à educação por parte dos jovens de classes sociais mais desfavorecidas. E deixa um alerta: “temo que a questão da garantia da governabilidade possa sobrepor-se a estes valores ”, diz ainda.
A coligação PSD/CDS/PPM venceu as eleições regionais dos Açores, no domingo, com 42,08% dos votos, elegeu 26 deputados, mas ficou a três da maioria absoluta, segundo dados oficiais provisórios.
José Manuel Bolieiro, líder da coligação PSD/CDS-PP/PPM, que governa os Açores desde 2020, disse que irá governar com “uma maioria relativa” nos próximos quatro anos, evitando dizer se fará acordo com o Chega, que passou de dois para cinco deputados.
O PS é a segunda força no arquipélago, com 23 mandatos (35,91%), seguido pelo Chega, com cinco mandatos (9,19%).
O Bloco de Esquerda (2,54%), Iniciativa Liberal (2,15%) e partido Pessoas-Animais-Natureza (1,65%) elegeram um deputado regional cada, completando os 57 eleitos.