Papa sublinha dinâmica sinodal e pede “opções contracorrente” às comunidades católicas

Foto: Vatican Media

Mensagem para a Quaresma 2024 recorda experiência da JMJ em Lisboa

 O Papa apelou hoje a uma dinâmica de transformação nas comunidades católicas, com “opções contracorrente”, aludindo ao processo sinodal 2021-2024.

“A forma sinodal da Igreja, que estamos a redescobrir e cultivar nestes anos, sugere que a Quaresma seja também tempo de decisões comunitárias, de pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de modificar a vida quotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou é desprezado”, refere na sua mensagem para a Quaresma 2024, divulgada hoje.

O texto, com o título ‘Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade’, propõe uma reflexão sobre “estilos de vida”, pedindo que cada comunidade cristã avalie “a sua presença no território e o contributo que oferece para o tornar melhor”.

A Quaresma é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), que tem início com a celebração de Cinzas (14 de fevereiro, em 2024), marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência; serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão (este ano a 31 de março).

Francisco pede que a penitência cristã evite uma aparência de tristeza, algo que o próprio Jesus criticou.

“Veja-se a alegria nos rostos, sinta-se o perfume da liberdade, irradie aquele amor que faz novas todas as coisas, a começar das mais pequenas e próximas. Isto pode acontecer em toda a comunidade cristã”, recomendou.

O Papa evoca a experiência vivida na JMJ Lisboa 2023 para apontar ao despertar de “uma nova esperança” para a humanidade.

“Estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim”, refere, citando o discurso que proferiu na UCP, durante o encontro com estudantes universitários.

Na mensagem, o Papa apelou a novos modelos de desenvolvimento, denunciando a pobreza que atinge milhões de pessoas e a destruição da natureza.

“O caminho quaresmal será concreto, se, voltando a ouvir tais perguntas, confessarmos que hoje ainda estamos sob o domínio do Faraó. É um domínio que nos deixa exaustos e insensíveis. É um modelo de crescimento que nos divide e nos rouba o futuro. A terra, o ar e a água estão poluídos por ele, mas as próprias almas acabam contaminadas por tal domínio”, refere, no texto intitulado ‘Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade’.

Francisco retoma os alertas contra a “globalização da indiferença”, que deixou na sua primeira viagem, à ilha italiana de Lampedusa, em 2023, com “duas perguntas, que se tornam cada vez mais atuais: ‘Onde estás?’ e ‘Onde está o teu irmão?’”, passagens do primeiro livro da Bíblia, o Génesis.

“Também hoje o grito de tantos irmãos e irmãs oprimidos chega ao céu. Perguntemo-nos: e chega também a nós? Mexe connosco? Comove-nos? Há muitos fatores que nos afastam uns dos outros, negando a fraternidade que originariamente nos une”, pode ler-se.

mensagem identifica “vínculos opressivos” que os cristãos têm de abandonar.

“Damo-nos conta disto, quando nos falta a esperança e vagueamos na vida como em terra desolada, sem uma terra prometida para a qual tendermos juntos”, advertiu.

“Desejo um mundo novo? E estou disposto a desligar-me dos compromissos com o velho? O testemunho de muitos irmãos bispos e dum grande número de agentes de paz e justiça convence-me cada vez mais de que aquilo que é preciso denunciar é um défice de esperança”.

O Papa lamenta que, num mundo com “níveis de progresso científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir a todos a dignidade”, a humanidade viva ainda na “escuridão das desigualdades e dos conflitos”.

A mensagem aponta a Quaresma como “tempo de conversão, tempo de liberdade”.

“Deus não quer súbditos, mas filhos. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão. Na Quaresma, encontramos novos critérios de juízo e uma comunidade com a qual avançar por um caminho nunca percorrido”, sustenta Francisco.

“Enquanto os ídolos tornam mudos, cegos, surdos, imóveis aqueles que os servem, os pobres em espírito estão imediatamente disponíveis e prontos: uma força silenciosa de bem que cuida e sustenta o mundo”.

A Quaresma é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), que tem início com a celebração de Cinzas (14 de fevereiro, em 2024), marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência; serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão (este ano a 31 de março).

“Não ter outros deuses é parar na presença de Deus, junto da carne do próximo. Por isso, oração, esmola e jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam”, conclui Francisco.

(Com Ecclesia e Vatican News)

 

 

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