Associação Rabo de Peixe Sabe Sonhar está de novo nos Açores a promover laços de proximidade com famílias e jovens
Vêm de dois em dois meses ao longo do ano para acompanhar as famílias e depois em agosto, para oito dias de colónia de férias, proporcionadas a crianças e jovens, mas a memória grata que levam consigo é a da “confiança e a familiaridade” que despertam nas famílias que acompanham.
Há 20 anos que o projecto, agora transformado em Associação, Rabo de Peixe Sabe Sonhar, atua na vila piscatória da costa norte de São Miguel. Não se trata de ficção nem de caridade; é apenas uma forma de evangelização de jovens com jovens que se estende também às famílias, sem “imposições” ou “soluções pré determinadas”, mas procurando respostas para problemas concretos que podem ir dos conflitos parentais à gestão de medicamentos, passando por questões como o futuro educativo dos filhos, a necessidade de mais afectos nas relações familiares ou as dependências.
De dois em dois meses quatro elementos da associação deslocam-se aos Açores para acompanhar as famílias das crianças e dos jovens que frequentam as colónias de férias ou aqueles que por terem atingido o limite de idade já não as podem frequentar mas mantém o vínculo com a Associação, ligada aos Centros Universitários da Companhia de Jesus.
“Esta semana de dois em dois meses serve para nos aproximarmos mais das famílias” explica ao Sítio Igreja Açores Teresa Joanaz de Melo, jovem estudante de enfermagem e membro da direção da Associação Rabo de Peixe Sabe Sonhar.
A ideia do projecto começou em 2002, com um grupo de jovens sacerdotes jesuítas, que visitou a vila e se deixou cativar pela mesma e pelas suas famílias. Mais tarde, em 2004 nasceu efetivamente, por vontade da Companhia de Jesus, em conjunto com jovens ligados aos Centros Universitários da Companhia, das Escravas do Sagrado Coração de Jesus e das Irmãs Criaditas dos Pobres, que na altura ainda se encontravam também em Rabo de Peixe. Em 2019 o projecto passou a Associação.
“Fazemos trabalho com as famílias das crianças que participam na nossa colónia e damos seguimento ao trabalho feito com esses jovens. No fundo, o que fazemos é estar presentes nas suas vidas: eles conhecerem-nos melhor e nós estarmos mais presentes nas suas vidas de forma a podermos ajudá-los a ultrapassar as dificuldades” esclarece Teresa Joanaz de Melo, responsável pelo grupo de 10 jovens universitários que estão nos Açores até domingo. Sete fizeram este acompanhamento durante a semana; três juntam-se a partir de amanhã, dia 2 de fevereiro.
Percorrem as ruas, “onde já somos conhecidos e as pessoas cumprimentam”, entram em casa e “escutam os problemas que lhes querem contar” e vão às escolas e à catequese entusiasmar novos participantes para a próxima colónia, no verão deste ano.
“Quem é que daqui já esteve na colónia?” pergunta a “professora” Sofia, estudante de matemática, depois de se apresentar e dizer ao que vem. O diálogo vai fluindo com mais perguntas do que respostas, porque a “confiança vai-se ganhando, não nasce do nada”, diz o “professor” Paulo Martinez, estudante de Direito e já repetente nestas andanças pela vila. Raramente falam Rabo de Peixe, mesmo quando explicam o que fazem e o que desejam para a sua missão. É sempre a vila!
“Não impomos nada; só queremos ajudar e como estamos com boa fé as pessoas acabam por confiar em nós e perceber que estamos para as ajudar”, acrescenta Paulo Martinez.
Os “professores”, que os jovens abraçam dentro da escola, quase que esmagando, são jovens universitários ou jovens profissionais que procuram através da dedicação ao outro potenciar talentos e estilos de vida mais dignos.
Na colónia- oito dias no verão, das 8h00 às 17h00, numa escola ou num espaço onde desenvolvem várias atividades- o dia começa com o “BDS”, abreviatura para dizer “Bom dia ao Senhor!”
“É um teatro animado, que tem uma coerência ao longo da semana, através do qual vamos incutindo valores. Todos os dias há um valor novo e todas as atividades desse dia giram em torno desse valor” refere Teresa Joanaz de Melo. Os jovens também participam numa Missa, mas “queremos que eles aprendam, a divertir-se” refere Paulo Martinez.
“O que falamos, testemunhamos e transmitimos fica e, por aquilo que nos apercebemos ,contagia. Hoje há ex. participantes nas colónias que já ensinam esses valores aos seus filhos e isso é muito bom”, adianta.
“A colónia é uma parte muito importante da vida deles” refere Beatriz Meireles, estudante de Ciências da Comunicação.
“Vemos frutos de colónia para colónia. Naturalmente que não estarmos sempre pode criar dificuldades mas de ano para ano há valores que ficam e depois há esta preocupação em acompanharmos as famílias das crianças que frequentam a colónia”, salienta Teresa Joanaz de Melo.
“Os valores são incutidos através de atividades lúdicas de forma a que não seja uma seca para eles” esclarece Paulo Martinez, que fez o seu percurso em colégios dominicanos, mas há na Associação quem nem batizado seja.
“Falamos de Deus, rezamos mas é sempre tudo de forma a que todos se sintam bem. Os valores são o mais importante”.
Esta quinta-feira os “professores” estiveram na Escola de Rabo de Peixe, nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, com o padre Nuno Pacheco de Sousa. É o pároco da vila.
“Havendo esta iniciativa seria bom incrementar a sua expressão trazendo mais participantes com maior regularidade aos Açores” diz o sacerdote que só vê vantagens neste trabalho.
Primeiro “é algo da Igreja mas que não implica diretamente a estrutura paroquial o que acaba por ser bom; por outro, são jovens a falar e a atuar com jovens e, finalmente, porque há valores que são inerentes à mensagem de Jesus mas são abordados de outra forma, completamente diferente a uma abordagem litúrgica e que pode ser mais cativante para as pessoas” justifica o padre Nuno Pacheco de Sousa.
“Era útil que este grupo se fixasse e até pudesse, em parceria com a Universidade dos Açores, tecer novos caminhos para a Pastoral Universitária, e até da Pastoral Juvenil, criando um grupo com estudantes universitários nos Açores e até estudantes açorianos que vindo de férias ao arquipélago pudessem integrar-se nestas atividades”.
Para o sacerdote que está em Rabo de Peixe, onde também dá aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, esta associação tem ainda uma última vantagem: sendo uma estrutura não politizada “cabem todos” o que “só contribui para o bem dos jovens e das suas famílias”.
“Sabemos que os milagres são raros, mas se pudermos deixar ficar uma marca seja na formação humana seja na formação profissional ou espiritual é muito bom”, conclui.
A missão deste grupo termina no próximo dia 4. Voltarão dentro de dois meses.