Papa dedica mensagem à Inteligência Artificial afirmando que “é importante perceber, compreender e regulamentar instrumentos”

Foto: Getty Images/Forbes

Francisco assinala que inteligência artificial pode ser um “contributo positivo” para a comunicação mas ressalva importância do “jornalismo no local”

O Papa Francisco reflete sobre a ‘Inteligência artificial e sabedoria do coração’, na mensagem para Dia Mundial das Comunicações Sociais 2024, onde alerta para a importância de “regulamentar instrumentos” que podem causar “cenários negativos” em mãos erradas.

“É importante ter a possibilidade de perceber, compreender e regulamentar instrumentos que, em mãos erradas, poderiam abrir cenários negativos”, assinala o Papa na mensagem divulgada hoje pelo Vaticano.

Francisco observa que os sistemas de inteligência artificial podem “contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações”, mas, alerta que, simultaneamente, podem ser instrumentos de “«poluição cognitiva», alteração da realidade através de narrações parcial ou totalmente falsas”, mas acreditadas – e partilhadas – como se fossem verdadeiras.

Neste sentido, aponta para o problema da desinformação que se enfrenta, “há anos, no caso das ‘fake news’ e que hoje se serve da ‘deep fake’”, da criação e divulgação de imagens que parecem “perfeitamente plausíveis mas são falsas”, e lembra que já lhe aconteceu também “ser objeto delas”, algo que “distorce as relações com os outros e com a realidade”.

“É necessário prevenir propondo modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial”, acrescenta.

‘Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana’, é o tema escolhido pelo Papa para o 58.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra, em 2024, no próximo dia 12 de maio.

O Papa explica que a revolução digital pode tornar as pessoas “mais livres”, mas certamente não conseguirá fazê-lo se “prender nos modelos designados hoje como echo chamber (câmara de eco)”, e afirma que “não é aceitável que a utilização da inteligência artificial conduza a um pensamento anónimo”, a uma montagem de dados não certificados, “a uma desresponsabilização editorial coletiva”.

A mensagem papal para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é tradicionalmente publicada a 24 de janeiro, dia da memória litúrgica de São Francisco de Sales (1567-1622), padroeiro dos jornalistas.

“A utilização da inteligência artificial poderá proporcionar um contributo positivo no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local”, alerta Francisco.

Para o Papa a informação “não pode ser separada da relação existencial”, o que implica o corpo, situar-se na realidade; “pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências”; e exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha.

Neste contexto, partilha que pensa na narração das guerras e “naquela «guerra paralela» que se trava através de campanhas de desinformação”, e pensa também em “tantos repórteres que ficam feridos ou morrem no local”.

A mensagem termina com 11 perguntas – ‘Interrogativos de hoje e de amanhã’ –, onde o Papa questiona, por exemplo: “como tutelar o profissionalismo e a dignidade dos trabalhadores no campo da comunicação e da informação, juntamente com a dos utentes em todo o mundo? Como garantir a interoperabilidade das plataformas? Como garantir a transparência dos processos de informação?”

A partir das respostas às perguntas apresentadas na mensagem e outras, Francisco explica que se compreenderá se a inteligência artificial acabará por “construir novas castas baseadas no domínio informativo”, gerando novas formas de exploração e desigualdade ou se, pelo contrário, “trará mais igualdade”, promovendo uma informação correta e uma maior consciência da transição de época” atual, favorecendo a escuta das “múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista”.

“Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria.”

Segundo Francisco, a evolução dos sistemas da chamada ‘inteligência artificial’ está a modificar “de forma radical” também a informação e a comunicação e, através delas, “algumas bases da convivência civil”, e, alerta, que este tempo “corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade”, por isso, a reflexão “só pode partir do coração humano”.

“Somente dotando-nos dum olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana”, realça, na mensagem para o 58.º Dia Mundial das Comunicações Sociais.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais é a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes – 12 de maio, em 2024.

(Com Ecclesia)

 

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