Francisco recebeu em audiência os embaixadores acreditados junto à Santa Sé e lembrou a Jornada Mundial da Juventude Lisboa como um “hino à Paz”
O Papa Francisco recebeu na manhã desta segunda-feira os embaixadores de 184 países e passou em resenha os principais desafios da comunidade internacional, alertando para o perigo do aumento da perseguição dos cristãos em zonas de conflito armado.
O Sumo Pontífice chamou a atenção para as guerras existentes para além do teatro bélico, refletindo sobre a Inteligência Artificial, a migração, a liberdade religiosa e a educação para a paz.
“Trabalhar pela paz. Uma palavra tão frágil, que, ao mesmo tempo, se revela exigente e densa de significado. A ela quero dedicar a nossa reflexão de hoje, num momento histórico em que a mesma está cada vez mais ameaçada, fragilizada e parcialmente perdida. Aliás é dever da Santa Sé, no seio da comunidade internacional, ser voz profética e apelo à consciência”, referiu Francisco.
O discurso, com cerca de 40 minutos, apontou o dedo aos países que adotam “modelos de controlo centralizado sobre a liberdade de religião, com o uso maciço da tecnologia” e apresentou a JMJ de Lisboa como um exemplo de como se pode promover a paz entre os homens.
“A presença dos jovens foi um grande hino à paz e o testemunho de que a unidade é superior ao conflito e que é possível desenvolver uma comunhão nas diferenças”, disse, durante a audiência ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, para a apresentação de cumprimentos de Ano Novo.
Francisco destacou que o caminho da paz “passa pela educação, que é o principal investimento no futuro e nas gerações jovens”.
“Permanece viva em mim a recordação da Jornada Mundial da Juventude realizada em Portugal no passado mês de agosto. Ao mesmo tempo que volto a agradecer às autoridades portuguesas, civis e religiosas, pelo empenho posto na organização, conservo no coração aquele encontro com mais de um milhão de jovens, provenientes de todas as partes do mundo, cheios de entusiasmo e vontade de viver”, referiu.
O Papa apontou ainda à perseguição dos cristãos, que se acentuou nos últimos 10 anos.
“Trata-se, não raramente, de fenómenos de lenta marginalização e exclusão da vida política e social e do exercício de certas profissões, que ocorrem mesmo em países tradicionalmente cristãos”, assinalou, durante a audiência de apresentação de cumprimentos de Ano Novo, pelos membros do corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé.
Francisco apontou para um total de 360 milhões de cristãos que, em todo o mundo, “sofrem um elevado nível de perseguição e discriminação por causa da sua fé” e, cada vez mais, são “obrigados a fugir dos seus países de origem”.
“O caminho da paz passa pelo diálogo inter-religioso, que exige, antes de mais nada, a tutela da liberdade religiosa e o respeito das minorias”, insistiu.
O Papa assinalou o 75.º aniversário da declaração universal dos Direitos Humanos, advertindo para as tentativas de inclusão de “novos direitos”, que levaram a “colonizações ideológicas, entre os quais tem um papel central a teoria do ‘gender’ (sic), extremamente perigosa porque elimina as diferenças, com a pretensão de tornar todos iguais”.
“Há que prestar especial atenção à tutela do património genético humano, impedindo que se realizem práticas contrárias à dignidade humana, como a possibilidade de verbetar material biológico humano e a clonagem de seres humanos”, prosseguiu.
O discurso acenou, ainda, à celebração do Ano Santo 2025, com as celebrações jubilares a terem início já no próximo Natal.
“Na tradição judaico-cristã, o Jubileu é um tempo de graça para experimentar a misericórdia de Deus e o dom da sua paz”, observou Francisco.
184 Estados mantêm relações diplomáticas plenas com a Santa Sé, a que se somam a União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta; existem 91 missões diplomáticas acreditadas junto da Santa Sé com sede em Roma, incluindo a de Portugal, bem como os gabinetes da Liga dos Estados Árabes, da Organização Internacional para as Migrações e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Francisco citou o discurso do seu predecessor Pio XII oitenta anos atrás, perto do fim da II Guerra Mundial, em que a humanidade sentia o impulso para uma “renovação profunda”. Este impulso, afirmou o Pontífice, parece ter-se esgotado e “terceira guerra mundial aos pedaços” está se tornando um verdadeiro conflito global.