Um conselho: prognósticos só no fim do ano

Foto: Igreja Açores / José Cabral05

Pelo Padre José Júlio Rocha

Já houve tempo em que os ditames da astrologia me deslumbravam, não por aquilo que adivinhavam ou previam mas por haver quem acreditasse nessas coisas. Hoje não me deslumbro tanto, até porque, depois de ver o quanto as pessoas acreditam nas “fake-news”, já nada me espanta. De qualquer forma, sou daqueles incrédulos que, quando veem uma página do Zodíaco com previsões, não resistem a dar uma olhadela negligente ao signo Caranguejo, e admitem quase sempre, que, nalgumas coisas, eles até acertam mais ou menos. Esse período anfíbio durou até que, por curiosidade, decidi ler signos à sorte, tapando-lhes o nome para não saber quais eram. A conclusão era que, fosse qual signo fosse, acertava sempre qualquer coisa sobre mim. Então desisti definitivamente dos olhares negligentes para as adivinhações dos astros.

Mas hoje não resisti a mexericar nalgumas páginas de papel ou digitais a ver o que é que os especialistas dos astros dizem sobre o ano que estamos a começar.

Eis alguns resultados infalíveis:

– Diz-se que o ano de 2024 será um período de complexidade e desafios em escala global, tendo como uma das principais preocupações o potencial de conflitos e guerras de grande magnitude. Diz o astrólogo que os conflitos se vão desencadear ou intensificar a partir de setembro. Porquê setembro? Haverá algum acontecimento no verão que leve a guerras e conflitos? A China vai invadir Taiwan? O Irão vai atacar Israel? Os EUA entrarão nalguma guerra? Nada disso! A razão da intensificação dos conflitos armados a partir de setembro é um eclipse solar “agressivo” que acontecerá a dois de outubro.

– O autoritarismo e os abusos de poder aumentarão em 2024, bem como a violência e o terrorismo. Será por causa da guerra na Faixa de Gaza? Será por causa da emergência climática, da grande quantidade de eleições pelos países do mundo? Não. É porque Marte entrou em retrogradação em oposição a Plutão.

– Em 2024 a humanidade será desafiada a dar prioridade ao bem comum e a compreender a interconexão de todas as coisas. Vai haver um decréscimo do individualismo e crescerá uma consciência coletiva sobre vários assuntos. Porquê? Os homens vão finalmente tomar consciência da insanidade da guerra, do desrespeito pelo Planeta, da fome no mundo? Não. É porque Plutão vai entrar em Aquário.

– Este ano traz também a boa notícia de que haverá mais ênfase na solidariedade social e na economia solidária. Será que os homens encontraram o caminho para acabar com a pobreza no mundo? Será que os mais ricos serão mais generosos? Nada disso. É porque Júpiter estará em Touro até 25 de maio, e Plutão estará em Aquário, como vimos antes, nos próximos 20 anos.

– Volta-se a insistir que a segunda metade de 2024 trará mais protestos, violência nas ruas, manifestações por todo o mundo. Aumentará a pobreza e a fome e essa será a grande razão dos protestos. Tudo isso por causa dos eclipses de setembro e outubro.

– Eventos climáticos extremos afetarão todo o ano de 2024, sobretudo com inundações e chuvas intensas. Tudo isso por causa do aquecimento global? Não. O eclipse em Peixes em setembro é que trará problemas climáticos.

– A inteligência artificial terá um “boom” neste ano, com significativos avanços para a humanidade. Será que os homens já não têm medo da IA? Será que este é o ano da grande revolução digital? Porquê? Porque – lá está novamente! – Plutão estará em Aquário.

– Atenção a epidemias e pandemias, porque este será um ano crucial. Virá mais um vírus da China? De África? Algum vírus fabricado num laboratório da Coreia do Norte? Não! Descansem. O facto é que haverá um trânsito de Saturno e de Neptuno em Peixes e imaginem no que isso vai dar!

Verdade seja dita: não deixo de ver alguma lógica na observação dos fenómenos celestes. Agora, o que é que isso tem a ver com a vida de cada um (tendo em conta que há cerca de 700 milhões de indivíduos para cada signo) ou o que é que tudo isso tem a ver com a geopolítica, a mim não me assiste.

Certamente vão continuar as guerras, as manifestações, as lutas internas, as catástrofes climáticas, a violência e o terrorismo, o perigo de novas pandemias e os desafios da inteligência artificial. Será fácil prever muitas realidades neste ano, outras serão impossíveis de prever.

E foi então que, negligentemente, fui mexericar o que se dizia do signo Caranguejo para 2024. Eis um dos tesourinhos:

“Os caranguejos vão continuar a estar num mar de emoções em 2024, vivendo o dia-a-dia com sentimento de grande comoção e laços de união no mundo familiar e amoroso, havendo condições para a chegada de novos elementos à família. Este signo tem sinais de sucesso na vida amorosa.”

Oh, valha-me Deus…

*Este artigo foi publicado na edição impressa do Diário Insular esta sexta-feira, na rubrica Rua do palácio.

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