Bispo de Angra presidiu à sua primeira Missa do nascimento de Jesus na Catedral diocesana de Angra e convocou açorianos “a acolher a voz que vem do alto” esta noite e a ”serem multiplicadores dos sinais de esperança em cada dia do ano”
Na primeira vigília do nascimento de Jesus a que presidiu como bispo titular da diocese de Angra, D. Armando Esteves Domingues afirmou que esta noite “nasceu o amor” e, por isso, já “não há medo que paralise, nem grito de dor que não tenha salvação”.
“Vamos ao Presépio encontrar o Deus Menino e escutar as lições emanadas desta provocante pequenez de Deus” afirmou, o bispo de Angra lembrando que a “simplicidade” e a “pequenez” do Menino Jesus são mensagens que os cristãos devem escutar.
“Este amor já circula entre nós, na alegria das famílias, nos gestos e saudações de amigos. Hoje queremos o bem de todos!” afirmou o prelado pedindo a todos que deixem “transbordar o coração” e em cada dia do ano, possam ouvir a voz que vem do alto e “ser multiplicadores dos sinais de esperança”.
“Há gritos que precisam de ouvidos que os ouçam e corações que acolham. Porém, precisamos deste dia para gritar que a esperança vence sempre!” afirmou D. Armando Esteves Domingues na homilia da tradicional Missa do Galo na Sé.
“Já nasceu a nossa esperança que é Cristo. Diante da fragilidade do Menino, humildade de Maria e simplicidade silenciosa de José não haverá brutalidade que resista, violência ou abuso que não pare, guerra que não termine. É assim o nosso Deus! É Amor que tudo vence e renova”.
D. Armando Esteves Domingues reconheceu o trabalho dos “dirigentes, profissionais ou voluntários” das instituições sociais e os “gestos de famílias, comunidades e instituições” que partilham cabazes e ajudam quem precisa.
“Cristo veio há 2000 anos e vem hoje mobilizar a todos para um grande movimento de humanização em ordem a uma fraternidade sem fronteiras nem barreiras”, porque o Natal é uma oportunidade para “o nascimento do homem novo”.
“Deus faz sempre chegar até nós, porventura com o cuidado de irmãos, palavras que indicam o caminho a quem O queira encontrar” disse ainda desafiando os diocesanos a voltarem ao presépio e ao essencial do que dele emana.
“Nesta contemplação do Presépio, podemos pensar que ainda perdura muita maldade e crueldade. Podemos ouvir até os gritos deste Menino nos dramas da humanidade quando a unidade e a fraternidade parecem derrotadas” disse.
“Ele gritou porque foi sem abrigo, fugiu à guerra de Herodes contra os inocentes, conheceu as privações como nós” recordou lembrando as várias situações onde Jesus pode ser encontrado.
“ Ele grita, hoje, nas vítimas inocentes das bombas e dos massacres, naqueles que vivem em estações de comboios, bancos, tendas ou ao relento ao lado de caixotes do lixo; nos que saem das Estações dos comboios, onde dormiram, diretamente para o seu local de trabalho, porque esse trabalho não garante que se escape à pobreza, ter casa e alimentar uma família” lamentou recordando ainda as situações de guerra que grassam no mundo e que impedem a concretização do Natal.
“De todas as mensagens recebidas, não consigo esquecer uma fotomontagem sem palavras: uma grande praça em Gaza, toda cheia de escombros da guerra e, no meio, uma carroça de animais abandonada com um homem encostado a uma das rodas e uma mulher grávida deitada no chão sobre pedras e destroços. Facilmente poderia ter como legenda: “não havia lugar para eles na hospedaria” e foram abandonados à sua sorte” afirmou D. Armando Esteves Domingues que agradeceu aos órgãos de comunicação social e aos seus profissionais a transmissão da Missa do Galo mas também todos os contributos que possam dar ao longo do ano, numa comunicação que possa ser construtora de “laços fraternos, de unidade e de paz entre pessoas, povos e culturas. Todos queremos o mesmo: um mundo mais unido e fraterno, com pessoas mais livres e mais respeitadoras da diversidade e dignidade alheia”.
Por último, o prelado diocesano exortou todos, católicos ou não, a “ajudar a Igreja a ser aquilo que o Espírito Santo quer que seja neste século XXI”.
“Todos se tornam importantes” afirmou salientando que a Diocese quer percorrer num período até 2025 – ano do Jubileu da Esperança convocado pelo Papa – um itinerário de reflexão sobre os grandes temas identificados no percurso sinodal e também os que brotaram da recente Assembleia do Sínodo em Roma.
“Necessitamos, agora, das achegas de todo o povo de Deus para percebermos como avançar juntos, sem abandonar ninguém” disse.
“Alguns temas são apelidados de fraturantes. Eu prefiro dizer que são mobilizadores. Vamos colocar-nos à volta da mesma mesa da fraternidade para a escuta atenta de Deus e dos irmãos”, acrescentou.
“ Descobriremos formas de crescer nos valores transversais a toda a pessoa humana e revitalizar a Igreja e a sociedade nas suas famílias, jovens, instituições e estilos evangelizadores ou humanizadores”.
“Neste Natal, celebremos Cristo, a nossa Esperança. Vamos todos, todos, todos, caminhar na esperança? E quando o caminho parecer a alguém mais duro, façamos como Jesus Menino, coloquemo-nos acessíveis, sejamos iguais, digamos-lhe que vamos juntos para chegarmos mais longe”.
“Feliz aniversário a Jesus e Feliz Natal a todos os residentes no Arquipélago ou espalhados na diáspora açoriana” terminou o bispo de Angra que passou a semana que precedeu o Natal a visitar instituições de solidariedade social, sobretudo algumas que prestam apoio aos sem abrigo e aos mais idosos e carenciados.
A solenidade do Natal, que no Cristianismo assinala o nascimento de Jesus, iniciou-se um pouco por todo o mundo na última noite, seguindo uma tradição que remonta aos primórdios da Igreja de Roma.
A celebração definiu-se no séc. IV, quando tomou o lugar da festa romana do ‘Sol invencível’, no mesmo dia 25 (VIII Kalendas Januarias: no oitavo dia antes do dia 1 de janeiro).
Ainda hoje, na liturgia católica, se recita a chamada “calenda”, como anúncio do nascimento de Jesus, que a oração coloca na época da 194ª Olimpíada e no ano 752 da fundação de Roma, entre outras referências históricas.
Liturgicamente, a solenidade é caracterizada por três missas: a da Meia-Noite (‘in galli cantu’), que remontará ao Papa Sisto III, por ocasião da reconstrução da basílica liberiana no Esquilino (Santa Maria Maior), depois do concílio de Éfeso, em 431; a da Aurora (‘in aurora’), originariamente em honra de Santa Anastácia, que tinha um culto celebrado com solenidade em Roma no século VI e, na liturgia atual, conserva ainda uma oração de comemoração; a do dia (‘in die’), a que primeiro foi instituída, no séc. IV.
Para lá desta ligação histórica original a Roma, o Natal é uma festa culturalmente muito marcada pela tradição medieval do presépio e do Menino Jesus.