A Crença, um dos dois jornais de inspiração cristã, na Diocese de Angra começa amanhã a comemoração do seu centenário
A imprensa de inspiração cristã teria “muito a ganhar” se tivesse “mais profissionais ao seu serviço” admite em entrevista ao Sítio Igreja Açores o diretor do jornal A Crença, que amanhã inicia as comemorações do seu centenário.
“Só por falta de recursos económicos se justifica tanto amadorismo no jornalismo católico, como é o caso de “A Crença”. Penso que a imprensa de inspiração cristã só teria a ganhar se tivesse mais profissionais ao seu serviço”, reconhece o Pe António Cassiano, sublinhando que “as receitas da Igreja não deviam ser afetadas apenas à remuneração dos padres e às obras de conservação e restauro dos imóveis”.
Fundado no dia 19 de Dezembro de 1915 pelos padres Ernesto Ferreira e João de Melo Bulhões, A Crença tem atualmente como diretor o Pe António Cassiano e é um dos dois titulos ligados à igreja católica nos Açores, depois da Diocese ter encerrado dois dos seus principais jornais A União (Ilha Terceira) e o Correio da Horta (ilha do Faial).
Sobrevive há cem anos, apesar das dificuldades “serem muitas e de vária ordem”, reconhece o seu diretor.
“É a vontade dos seus fiéis leitores e a generosidade dos seus colaboradores que o mantém vivo. Espero que o ano do centenário lhe dê um novo fôlego”, salienta o Pe António Cassiano.
A possibilidade do jornal, de forte implantação local, poder vir a ser transformado num jornal da ilha de São Miguel, é um desses desafios, tal como a criação de um jornal digital.
“A Crença quer ser o jornal católico da ilha. Falta saber se a ilha quer que A Crença” seja o seu jornal”, diz o seu diretor frisando, no entanto, ggque para que tal aconteça é precio dar passos diferentes e criar outro tipo de condições. Desde logo, abandonando ”uma recente proposta” de incluir a Crença e o Dever num hipotético semanário diocesano “que não pôde ser levada a sério. Só em situação limite, de todo incomportável, é que uma comunidade aceita perder um património com que tanto se identifica”.
Quanto ao segredo da sua longividade, num período em que são mais os jornais que encerram do que os que se modernizam, o Pe António Cassiano reforça a ideia de que a aliança entre uma componente local e católica tem sido a garantia para o sucesso.
“Sendo, por natureza e vocação, um órgão da chamada imprensa de inspiração cristã, nem por isso deixou de se identificar bastante com a cultura, as tradições, os problemas, o desenvolvimento de Vila Franca do Campo. Independentemente da orientação editorial, naturalmente diversa ao longo do tempo, terá conseguido, com relativo êxito, aliar as componentes católica e local”, acentua o responsável editorial pela Crença.
Conhecido pelos seus textos de opinião contundentes, o Pe Cassiano lembra que a linha editorial do jornal corresponde a uma matriz de inspiração cristã mas não é um orgão oficioso da igreja.
“Os senhores bispos, nomeadamente o da nossa diocese, não têm razões de queixa” salienta “só que a liberdade de expressão, na Igreja, não é um exclusivo da hierarquia. Outras vozes, mesmo as divergentes, têm o direito de se fazerem ouvir”.
“Não tenho receio de ser contraditado: a página de opinião, a quinta do jornal, está sempre ao dispor”.
Esta sexta feira é dado o pontapé de saída no vasto programa de comemorações que assinala o centenário deste jornal da antiga capital da ilha de São Miguel, numa cerimónia, presidida pelo Bispo de Angra, que conta para além dos discursos oficiais, com um concerto do Grupo Vox Cordis.
“Cem anos de vida, para uma pessoa como para um jornal, são motivo mais que suficiente para grande festa, mas o ano do centenário servirá para fazer três coisas: a história do percurso de “A Crença”, de 1915 até hoje; uma reflexão crítica sobre o modelo e qualidade do jornal na atualidade; e, a partir daí, perspetivar “A Crença”, a curto e médio prazos, de maneira a que, no fecho das comemorações, se inicie uma nova etapa da sua existência”, conclui o sacerdote responsável pelo jornal.
Todos os meses do próximo ano ficarão marcados por um evento relacionado com a comemoração do centenário do jornal, a começar já em janeiro com o lançamento do logotipo do Centenário em selo.
Em fevereiro, nos dias 6 e 7, realiza-se uma “Tertúlia” com estudantes meios, jornalistas dos de comunicação social e membros dos Movimentos da Igreja sobre as Novas Redes Sociais.
Uma exposição, um concurso de ideias, envolvendo a escola local, uma conferência sobre a história do jornal vista e retratada a partir das suas próprias publicações pelo investigador Teixeira Dias, as Jornadas de Comunicação Social e a conferência de encerramento pelo Pe José Tolentino de Mendonça constituem outros momentos altos destas comemorações.