Iniciativa insere-se na dinâmica sinodal diocesana para o Jubileu da Esperança em 2025 e assume-se como uma primeira etapa das comemorações dos 500 anos da diocese de Angra, que se completam em 2034
O Convento de São Francisco, onde se insere a Igreja de São José, em Ponta Delgada, celebra em julho de 2025 o seu quinto centenário e para assinalar esta data histórica a comunidade paroquial de São José está a desenvolver um programa comemorativo, que integra várias iniciativas desenvolvidas por diferentes linguagens artísticas. A sessão de abertura deste vasto programa, alinhado com o itinerário sinodal diocesano do próximo biénio e com a comemoração dos 500 anos da Diocese insular, será no dia 19 de março e contará com a presença do bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues.
“Estamos numa Igreja conventual, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, ao lado de um convento que hoje é um hotel e portanto protagoniza outra função social, tendo passado de uma misericórdia e de um hospital a um hotel, inaugurando-se um novo ciclo de funcionalidades que também nos deve dizer alguma coisa, nos deve interpelar: o espaço esteve sempre habitado de pessoas e hoje, com outra funcionalidade é nosso vizinho” afirma o padre Duarte Melo em declarações ao Sítio Igreja Açores, enquadrando a iniciativa.
“São 500 anos de um espaço integrado no território citadino, que tem hoje problemáticas muito sérias, como a indigência e o envelhecimento, cuja história nos remete para a presença de uma congregação (os Franciscanos), que teve um papel indelével no povoamento e na sedimentação da fé nos Açores, e tudo isso deve-nos interpelar”, explica o sacerdote.
“Por vezes as nossas comunidades estão anestesiadas por um certo passadismo, vivem do passado julgando que vão tirar daí o futuro, mas desenganem-se… O passado é importante para o estudarmos mas deve servir para nos interpelar sobre o momento presente, daí que a dimensão da esperança no Jubileu, nos 500 anos, em 2025, seja um horizonte luminoso que se abre à diocese e nós como discípulos de Nosso Senhor, habitando este território, temos agora a oportunidade de, em primeiro lugar, valorizarmos o património, estudá-lo e divulgá-lo, através de um conjunto de acontecimentos que irão marcar esta celebração de 500 anos que será em 2025”, acrescenta sublinhando que “será um duplo contributo para a caminhada sinodal da diocese até 2025 mas também para a caminhada durante o tempo em que nos preparamos para os 500 anos da diocese”.
O projecto, elaborado por uma equipa paroquial da pastoral da cultura, que reúne “cristãos comprometidos com o quotidiano da paróquia”, está candidato a apoios da Direção Regional da Cultura e busca outras parcerias que possam comprometer várias entidades neste diálogo entre a Igreja e o Mundo através da cultura.
O programa, cujos nomes participantes ainda não estão fechados, é composto por um ciclo de conferências, a realizar na Igreja de São José, com a colaboração da Universidade dos Açores, para reflexão e debate sobre a memória e identidade açoriana; por um ciclo de vários concertos, incluindo um concerto sinfónico, durante os quais se procurará valorizar o órgão histórico desta Igreja; uma exposição que remeterá para um circuito expositivo de Arte Sacra, com um intuito informativo sobre as peças mais icónicas que integram a história deste espaço; a atualização e reedição do catálogo da Igreja- Igreja paroquial de São José, Nossa Senhora da Conceição: Património Móvel e Integrado” e a edição em livro das “Conversas na Sacristia”, um projecto que precede este programa e que está em curso, chamando à sacristia da Igreja “temas e pessoas diferentes”, mas “que nos ajudam a ter presente problemáticas diversas às quais a Igreja não pode fugir”.
“Estas conversas têm sido uma construção bastante interessante e surpreendente porque vamos tendo públicos diferentes” adianta o padre Duarte Melo.
“A Igreja tem esta obrigação, enquanto guardiã destes bens, destes tesouros, que dizem da fé, de Jesus Cristo e de Maria, de falar deles a partir do património. Conversas na Sacristia pode parecer fechado, porque é de facto um espaço mais restrito, mas o intuito é mesmo provocador no sentido de abrir a sacristia a todos. Isto é, a partir da sacristia a Igreja está vigilante, aberta e dialogante com o território, com as pessoas que nele habitam, com as problemáticas contemporâneas e em diálogo com todas as expressões de resgate e libertação que são expressões das artes, do pensamento, da filosofia…”, diz ainda.
Aliás, há ainda uma iniciativa anterior a esta que já cumpria a mesma função. O projecto “Indigências”, que levou a paróquia a desafiar artistas a refletirem sobre a problemática social, nomeadamente a vivência no Campo de São Francisco, “que é uma ferida”, através da cultura, procurando que “a sua intervenção artística tivesse a mesma provocação do drama que se vive na rua”.
“A vivência da fé é também um compromisso transformador das questões ardentes da vida e do mundo por isso todo o programa foi construído tendo como pretexto a comemoração dos 500 anos do Convento de São Francisco, mas sem perder de vista a Esperança e a comemoração dos 500 anos da Diocese”.
“Por vezes temos um olhar fraturante destas problemáticas sociais, artísticas e culturais, que são criadoras de tensão mas que não podemos evitar. A Igreja cria-se e afirma-se a partir de tensões, que são fundamentais para que a Igreja respire a sua graça e se abra ao Espírito Santo… Esta tensão não é mais do que uma dialética à qual a Igreja não pode fugir”, conclui o padre Duarte Melo.
A Igreja de São José está edificada em terrenos que no século XVI eram propriedade de Fernão de Quental e da sua mulher, Margarida de Matos, que mandou construir a ermida com invocação a Nossa Senhora da Conceição, na mesma altura em que já estariam a viver em Ponta Delgada os Frades menores da Congregação fundada por São Francisco de Assis, refere o documento que contextualiza a candidatura deste projecto cultural a apoios públicos.
“Estes frades manifestaram interesse em fixar-se num convento” e a “escolha “recaiu sobre a Ermida de Nossa Senhora da Conceição”.
“Em julho de 1525, Frei Brás, Comissário da Ordem de São Francisco de Assis nas ilhas dos Açores, solicitou aquela ermida à Câmara de Ponta Delgada com a finalidade da edificação do Convento de São Francisco. O pedido foi atendido pelo senado camarário” refere o texto afirmando que o convento começou a ser construído.