Monsenhor José Bettencourt é natural de São Jorge e vive há 20 anos em Roma, 2 dos quais a chefiar o Protocolo de Estado do Vaticano
O encontro numa Romaria é inevitável: com os irmãos e com as circunstâncias de cada um. Mesmo em Roma não podia ser diferente, até porque romaria lembra Roma e quando deixou de ser possivel peregrinar à Terra Santa, os cristãos começaram a peregrinar a Roma, cabeça da cristandade.
Esta semana dois romeiros, dirigentes do Movimento Coordenadoor dos Romeiros de São Miguel, foram ao encontro do Papa, regressando às origens. A mediá-los esteve outro Romeiro, Monsenhor José Bettencourt.
Natural das Velas de São Jorge, de onde partiu para Otawa no Canadá, com apenas 3 anos de idade, fez a sua primeira romaria em São Miguel, integrando o rancho de São Braz, em 1995. Nunca mais repetiu a experiência, mas como diz o povo, uma vez romeiro, romeiro toda a vida.
Com João Carlos Leite (27 romarias) e Ildeberto Piques(50) partilhou a experiência de uma singela semana percorrendo os caminhos da fé, em busca de um rosto que é o único elemento comum a todas as romarias que “são sempre diferentes”. Mesmo para aqueles que a fazem todos os anos, ano após ano. Toda a vida.
“Não sei se sou Romeiro mas sei que tive essa experiência muito enriquecedora, que transporto comigo e, sobretudo, reconheço ser um dos aspetos mais marcantes da cultura, da religiosidade e da fé dos açorianos”, disse ao Sítio Igreja Açores, em Roma.
“A nossa terra tem manifestações de fé muito fortes mas esta é porventura única e talvez aquela que melhor retrata um dos aspectos fundamentais- a piedade”, acrescenta.
Como qualquer Romeiro, Monsenhor Bettencourt sabe acolher. De sorriso fácil e franco, este sacerdote nascido no coração do arquipélago, doutor em Direito Canónico, com formação inicial em filosofia, história e geografia, tem dedicado praticamente toda a sua vida ao serviço da igreja, integrando o corpo diplomático da Santa Sé, depois de frequentar entre 97 e 99 a Pontifícia Academia Eclesiástica, onde concluiu a formação para o serviço diplomático.
Nesse mesmo ano é nomeado para a Nunciatura Apostólica na Republica Democrática do Congo (Kinshasa) e três anos mais tarde regressa a Roma para integrar a Secção das Relações com os Estados na Secretaria de Estado do Vaticano onde acompanha os assuntos para os países de língua inglesa, francesa e portuguesa da África Ocidental. Neste período, integra várias delegações oficiais. Em 2007 é nomeado para a Prefeitura da Casa Pontifícia para o serviço do protocolo na “antecâmara” Pontifícia. Em 2012 o Papa Bento XVI nomeia-o Chefe de Protocolo da Secretaria de Estado e, no âmbito da celebração da Inauguração do Pontificado do Papa Francisco (2013) acolhe 140 Delegações Oficiais de Estados com relações com a Santa Sé.
“Cada uma destas experiências fica connosco e somos, sempre, o produto de todas elas”, mas no final quando lhe perguntam o que é, se açoriano, canadiano ou já romano, diz apenas “eu sou católico”.
“Acima de tudo sou um sacerdote que abraço o que amo e, nesta otica, estou ao serviço, qualquer que ele seja pois a ultima coisa que eu quereria, quando fui ordenado, era trabalhar na Cúria Romana. Não fui ordenado para ser diplomata ou chefe de protocolo, mas para servir… o que é importante é estarmos ao serviço e, se o meu serviço é este tenho que o desempenhar da melhor maneira possível”, acentua Monsenhor Bettencourt.
Dos Açores guarda “boas vivências”, mais do que memórias. “Vou lá pelo menos de dois em dois anos pois a minha familia mantém casa nas Velas”, na ilha de São Jorge.
É, também, uma espécie de peregrinação.
“Encontrar no meio de uma rocha um ponto e procurar a natureza verde, o azul … não há nada mais bonito que os açores, onde conciliamos o sossego, a beleza , a cultura e recuperamos as nossas raízes”, pontuadas por esta ou por aquela lembrança, seja na Caldeira do Santo Cristo, seja em Ponta Delgada ou na Montanha do Pico, que “gosto de contemplar para recarregar baterias”.
“A força da natureza da nossa terra ajuda-nos a relativizar as coisas”, sublinha, como quem sabe que em cada momento e em cada tempo somos sempre nós e as nossas circunstâncias.
Sobre o mundo de hoje e o papel da igreja, não tem dúvidas em afirmar que o problema é de valores.
“Vivemos um período marcado pelos nacionalismos, pelas leis económicas, pela globalização e sobretudo por uma grande falta de valores” diz o Chefe do Protocolo de Estado do Vaticano, reforçamdo que “tiramos aos jovens o sentido da identidade e o sentido dos valores” e hoje “a crise está aí” .
“Veja o discurso do Papa em Estrasburgo. Foi muito aplaudido, mas já alguém tentou responder efetivamente a este discurso? Os políticos continuam a agir da mesma forma”, frisa acentuando que o Papa “é um líder mundial”.
“O Papa Francisco consegiu que as atenções se virassem para a Igreja de uma forma permanente e a sua mensgaem e o seu testemunho são muito importantes porque tocam o coração de crentes e não crentes, de católicos e de não católicos e isso é importante”, conclui, lembrando que o essencial é ser fiel ao Evangelho.
O resto… até pode ser acessório. Mnsenhor José Bettencourt foi distinguido com a Comenda da Ordem de pelo Presidente Cavaco Silva; é Comendador da Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém e recebeu a Grã Cruz de Capelão Conventual “ad honorem” da Ordem Soberana Militar de Malta.