A XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a decorrer no Vaticano, publicou hoje uma carta às comunidades católicas, afirmando que a Igreja “precisa absolutamente de escutar todos”, a começar pelos mais pobres.
“Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, nalgumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas”, indica o documento, aprovado na reunião geral desta tarde.
O texto, com versão original em língua francesa, aponta ao “dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos”, empenhando-se “concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer”.
Os participantes na assembleia convidam a “progredir no discernimento sinodal, ouvindo ministros ordenados, consagrados e consagradas, leigos e leigas, crianças, jovens, catequistas, idosos, famílias e os que se “desejam envolver em ministérios laicais ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões”.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, começou a 4 de outubro e decorre até sábado; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
“Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra sínodo”, realça a carta.
Os participantes admitem que “os desafios são muitos” e “as questões numerosas”, adiantando que o relatório de síntese da primeira sessão, a publicar no sábado, “esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos”.
A carta começa por sublinhar a “bela e rica experiência” destas semanas, na sequência do “longo processo de escuta e discernimento” lançado pelo Papa em 2021.
A assembleia sinodal foi precedida por uma oração ecuménica, na Praça de São Pedro, a 30 de setembro, vista pelos participantes como “um passo importante” e uma “experiência sem precedentes”, destacando, depois, o intercâmbio entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão.
“Firmemente unidos na esperança que a sua ressurreição nos dá, confiamos a Jesus a nossa casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência”, indicam.
A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
“Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos”, refere a carta.
O texto indica que todos tiveram a oportunidade de “exprimir livre e humildemente” convergências e diferenças, desejos e interrogações.
Os participantes deixam, na sua mensagem, uma referência ao “mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente”, particularmente nas pessoas naturais de países em guerra.
“Rezamos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos aqueles que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz”, pode ler-se.