Os participantes no Sínodo dos Bispos iniciaram hoje a discussão sobre a carta final e o documento de síntese dos trabalhos da assembleia, apontando à necessidade de traduzir esta experiência na vida das comunidades católicas.
“A sinodalidade é o modo de exercer, de viver a comunhão”, disse aos jornalistas o cardeal Christoph Schoenborn, arcebispo de Viena (Áustria) e membro do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos.
Os trabalhos conhecem uma pausa, nas próximas 36 horas, antes de cinco reuniões gerais, entre quarta-feira e sábado, e um tempo de trabalhos em grupo, para debater a síntese conclusiva dos trabalhos, começados a 4 de outubro.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, decorre até sábado; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
“O método é a escuta, em primeiro lugar”, indicou o arcebispo de Viena, para quem esta sessão representou uma experiência “muito positiva”, com maior participação de leigos, falando num “Sínodo episcopal, com participação alargada”
“O ponto essencial, parece-me, é repensar a grande visão da Igreja” apresentada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), apresentada como “mistério”, antes da sua constituição hierárquica, acrescentou o cardeal Christoph Schoenborn.
Para o responsável, “a visão da sinodalidade é o caminhar juntos, é a vida da comunhão eclesial”, que tem como base o Batismo
A intervenção destacou que a Europa “já não é o centro principal” da Igreja Católica, lamentando a falta de uma palavra “comum” do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE) sobre o drama dos migrantes e refugiados.
O cardeal Carlos Aguiar Retes, arcebispo da Cidade do México e presidente delegado do Sínodo, falou com os jornalistas da sua experiência em assembleias anteriores, da família aos jovens, passando pela Amazónia, que mostraram a importância das novas gerações.
“Estou convencido de que se pode transmitir a fé, através dos próprios jovens, que já a vivem”, sustentou.
O responsável mexicano indicou que a prioridade é levar o trabalho da assembleia sinodal à vida concreta, “colocando em prática o que estivemos a dizer que deve ser a Igreja”.
Já o cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha (França), assinalou que se vive um omento “decisivo”, no final desta primeira sessão, apontando a “questões abertas” e “divergências”, que exigem muito trabalho.
A agenda de segunda-feira começou na Basílica de São Pedro, com uma Missa presidida pelo cardeal Charles Bo, arcebispo de Rangum (Myanmar) e presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia, o qual convidou a entrar numa “jornada sinodal de fé, com a convicção de que Deus nunca erra”.
“Neste Sínodo, uma de nossas grandes preocupações é o legado que deixaremos para a próxima geração”, apontou.
Já no Auditório Paulo VI, o padre Timothy Radcliffe, religioso dominicano, apresentou uma meditação sobre o “período de germinação” do Sínodo, em alusão aos meses que separam as duas sessões desta assembleia.
Esta “espera ativa”, acrescentou, vai contra o que se espera numa cultura “muitas vezes polarizada, agressiva e desdenhosa das opiniões dos outros”,
Já a irmã Maria Grazia Angelini, que co-orientou o retiro espiritual de preparação para o Sínodo, com o padre Radcliffe, sustentou que esta primeira sessão foi “um ato profundamente subversivo e revolucionário”, do Espírito Santo, para uma reforma da Igreja.
Após estas duas meditações, Ormond Rush, professor associado de religião e teologia do Instituto de Religião e Investigação Crítica da Universidade Católica Australiana, apresentou uma reflexão sobre o Concílio Vaticano II (1962-1965) e o atua Sínodo, “síntese do seu discernimento sobre o futuro da igreja”.
Citando o então jovem perito Joseph Ratzinger, que viria a ser o Papa Bento XVI, Rush sublinhou que “a tradição não deve ser considerada apenas afirmativamente, mas também criticamente”, admitindo que este é um fator de “tensão” no debate teológico.
A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
Os trabalhos desenvolveram-se em volta das quatro partes do ‘Instumentum Laboris’ (IL), antes do debate conclusivo.
Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).
(Com Ecclesia)