Padre Nuno Pacheco de Sousa refletiu esta noite na Lagoa sobre a evangelização através da arte e o papel de Maria
O padre Nuno Pacheco de Sousa lembrou esta noite que sem respeito pelo património edificado e sem a consciência da importância da sua recuperação a Igreja dificilmente conseguirá dialogar com o mundo e entender a sua história.
No dia a seguir à data em que a Igreja comemora o Dia Nacional dos Bens Culturais, o pároco de Rabo de Peixe fez uma conferência na Igreja Matriz de Santa Cruz, na Lagoa, ilha de São Miguel, sobre a Evangelização pela Arte, descodificando Maria, a mulher “que oferece uma humildade e uma ternura incapazes de nos deixar indiferentes”.
“Deve ser anualmente um dia para que nós, em Igreja, tomemos cada vez mais, noção da urgência da recuperação e manutenção de todo este vasto Património que nos é legado em mãos, em tempos que ainda não alcançamos o devido respeito por todo este Património edificado, material, que nos traz aos olhos um Património Imaterial de valor completamente outro, visto que narra a história das nossas comunidades e das famílias que, século atrás de século, têm vindo a erguer estes templos e estas comunidades” afirmou o sacerdote.
O padre Nuno Pacheco de Sousa, começou por lembrar que desde cedo, a forma de evangelizar foi, “concomitantemente a arte de viver em Deus, testemunhando-a pela vida”.
Sublinhando o papel dos artistas, que através da harmonia e da estética são aliados de Deus na criação de uma nova humanidade, reinterpretando a realidade concreta, o sacerdote falou do ateliê dos artistas como uma espécie de “ laboratórios de Deus”.
“A arte deverá ser sempre uma provocação à transcendência. O ateliê ou a secretária de um artista/autor deve ser encarado como um laboratório de Deus. Criar e cuidar deve ser o que de mais parecido temos que ver com Deus, a capacidade de gerar a vida, a beleza, a capacidade do etéreo se tornar tangível às pessoas e de as cuidar, curar e reabilitar”, disse.
“Somos todos chamados a viver a dimensão do belo hoje. A nossa vida, mesmo no meio do horror, deve ser sinal, deve ser farol, da beleza, da verdade e do bem”, afirmou.
“A evangelização, toda a ela, deve ser arte. A arte de decifrar inesgotavelmente o divino, a arte de nos voltar a espantar e de criar deleite, a arte de criar de novo o que amplamente outrora já foi conhecido, a arte de dizer o indizível, a arte de humanizar e de criar comunidades, a arte de dançar espiritualmente no meio do sagrado e do ritual, do mundo e da ausência aparente do transcendente” enfatizou ainda ao salientar que a “A arte é uma resistência que nos educa”. A este propósito, salientou que embora não sendo sempre possível um encontro imediato entre arte e evangelização “é necessário criar esta resistência sã, pela arte, de voltar a colocar em jogo o essencial da humanidade, não um essencial refratado, mas que advenha do passado, do presente e de um novo porvir dos lugares comuns criados, ou a criar, para que sejam casas de Deus com a Humanidade”.
“O nosso desafio é criar -pela palavra, pela vivência, pela arquitetura humana e construível, pela escultura ou pintura, música ou dança, e, principalmente, pela criação de conteúdos digitais- um novo códice do Humano, capaz de redesenhar ou resignificar a simbologia de Deus, capaz de reconstruir uma liturgia, de resignificar a simbólica esvaziada ao longo dos tempos”, disse ainda o orador.
“Este também deve ser um dia para olharmos o presente e continuar a construir esta plêiade de coleções com os olhares e as leituras de hoje, com sentido estético e respeitoso pelo já existente” disse frisando que São Lucas é, por um lado, o patrono dos artistas e o evangelista que fala mais de Maria.
Ao longo da história da Igreja são múltiplas as formas de olhar para Maria. Seja através da Pintura, Escultura, música e escrita, (pp) até nos Açores, onde encontramos com abundância Ermidas e Igrejas dedicadas a Nossa Senhora, as Romarias Quaresmais, e tantas e tantas Procissões em honra da Mãe de Deus e muitas composições a Nossa Senhora.
“É através da maternidade de Maria que nos sentimos próximos dela”, disse ainda ao sublinhar que “por Maria o amor tem no mundo uma nova oportunidade”.
“Maria faz do céu um lugar mais próximo, em qualquer parte do mundo. Rezamos a Maria com familiaridade, como quem fala com alguém que conhecemos por toda a vida. E assim vamos chegando ao coração de Deus, enquanto Deus, vai fazendo o movimento oposto”, frisou.
“O que nós procuramos, enquanto crentes é um albergue, uma maternidade outra, livre dos limites da vida humana, que nos amenize as dores pela cercania que Maria representa; que nos possa dar uma alegria mais pura, uma sabedoria que vem de quem se sabe olhada e amada pelo Criador”, concluiu.
Esta iniciativa da Igreja Matriz assinalou também o 150º aniversário da chegada da Imagem de Nossa Senhora do Rosário a esta comunidade.