O Papa condenou hoje o investimento em produção e compra de armamentos, num mundo em que milhões de pessoas vivem sem acesso digno a comida ou água potável.
“Infelizmente, assistimos hoje a uma escandalosa polarização das relações internacionais, devido às crises e confrontos existentes. Desviam-se para a produção e comércio de armas enormes recursos financeiros e tecnologias inovadoras que poderiam ser usados para tornar a água uma fonte de vida e de progresso para todos”, escreve Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial da Alimentação 2023.
A data, celebrada hoje, tem como tema ‘Água é vida, água é alimento. Não deixe ninguém para trás’.
A mensagem é endereçada ao Qu Dongyu, político chines e nono diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
O Papa sublinha que este Dia Mundial da Alimentação se celebra num momento em que” a miséria e o desespero não dão trégua”, antes de recordar “os gritos de angústia e desespero dos pobres”.
“A condição de fome e desnutrição que fere gravemente tantos seres humanos é o resultado de uma acumulação iníqua de injustiças e desigualdades, que deixa muitos presos na sarjeta da vida e permite que alguns se estabeleçam num estado de ostentação e opulência”, lamenta.
Francisco alarga a sua reflexão a todos os recursos básicos, “cuja inacessibilidade para muitas pessoas representa uma afronta à sua dignidade intrínseca”.
Segundo a FAO, mais de 600 milhões de pessoas dependem de sistemas alimentares aquáticos que enfrentam a poluição, a degradação dos ecossistemas e impactos das alterações do clima.
“A água nunca deve ser vista como uma mera mercadoria, um produto a ser comercializado ou um bem a ser especulado”, indica o pontífice.
O Papa recorda o “o valor insubstituível” da água, apontando à “necessidade urgente de planear e implementar a sua gestão de forma sábia, cuidadosa e sustentável”.
“Em muitas partes do mundo, irmãos e irmãs sofrem de doenças ou morrem precisamente por causa da ausência ou escassez de água potável. As secas causadas pelas mudanças climáticas estão a deixar vastas regiões estéreis e causam enormes estragos nos ecossistemas e nas populações”, adverte.
Francisco cita a encíclica ‘Laudato Si’ (2015), defendendo que o acesso à água potável e segura é “um direito humano básico, fundamental e universal”.
“É essencial investir mais em infraestruturas, em redes de esgoto, em sistemas de saneamento e tratamento de águas residuais, especialmente nas áreas rurais mais remotas”, apela.
O Papa encerra a sua mensagem com um apelo à unidade na comunidade internacional, dando prioridade “à vida de todos em detrimento da apropriação de bens por alguns”.
“O nosso mundo é muito interdependente e não se pode dar ao luxo de ser dividido em blocos de países, que promovem os seus interesses de forma espúria e tendenciosa”, sustenta.
(Com Ecclesia)