Assembleia lança debate sobre presença e participação das mulheres na Igreja

O relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo apelou hoje a um debate aprofundado sobre as questões “difíceis” levantadas neste processo, incluindo o papel das mulheres na Igreja, ao inaugurar a terceira fase dos trabalhos, iniciados no último dia 4.

“Como é que podemos fazer com que as mulheres se sintam parte integrante desta Igreja missionária? Será que nós, os homens, nos apercebemos da diversidade e da riqueza dos carismas que o Espírito Santo deu às mulheres?”, perguntou o cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo.

A oitava reunião geral, com transmissão online, abriu o debate sobre o tema ‘Corresponsabilidade na Missão: Como partilhar melhor os dons e as tarefas ao serviço do Evangelho?’.

“Não demos respostas apressadas que não considerem todos os aspetos dessas difíceis questões. Temos teólogos que podemos consultar, e temos tempo para rezar e aprofundar as questões que identificamos agora, a fim de chegarmos a uma conclusão na segunda sessão de outubro de 2024”, apelou o relator-geral.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorre até 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

O arcebispo luxemburguês convidou os presentes a “abrir espaço para as palavras uns dos outros”, sem ignorar “pontos de convergência e divergência, mas sobretudo as questões a ser exploradas e as propostas de passos concretos a ser dados durante o próximo ano”.

Os participantes ouviram uma reflexão da madre Maria Ignazia Angelini, monja da Abadia de Viboldone (Itália), co-orientadora do retiro espiritual que precedeu a assembleia sinodal, sobre o “reconhecimento das diferentes expressões dos ministérios” na Igreja.

A religiosa destacou, a partir dos relatos do Novo Testamento sobre as primeiras comunidades cristãs, a “fecundidade sem precedentes” que se abre à missão, “graças ao contributo humilde e generativo das mulheres”.

“O percurso do Evangelho na Europa começa assim. Em Filipos, a missão sai de um território delimitado e encontra novos espaços. Novas linguagens inauguradas por mulheres, que Paulo não despreza”, observou.

Segundo a irmã Maria Ignazia Angelini, Jesus “inovou, criou um estilo, arriscado e revelador, no seu modo de relacionar-se com as mulheres”.

Na história da Igreja, observou, a mulher surge como “um elemento dinâmico da missão, como uma presença que – em passagens críticas, de rutura, inquietantes – intui o movimento da vida, tece relações novas, improváveis, pacientemente traz e dissolve conflitos”.

“Não se trata de uma questão de direitos, mas de dons recebidos”, acrescentou.

A irmã Liliana Franco, da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas – CLAR, destacou o “desejo e imperativo de maior presença e participação das mulheres na Igreja”.

“Não existe ambição de poder nem sentimento de inferioridade, nem busca egolátrica de reconhecimento, há um clamor para viver com fidelidade o projeto de Deus, que quer que no povo, com quem fez aliança, todos se reconheçam na condição de irmãos. É um desejo de viver de forma consciente e coerente, com dignidade comum que o Batismo dá a todos. É um desejo de servir”, sustentou.Carlos María Galli, membro da Comissão Teológica Internacional (Santa Sé), falou da necessidade de valorizar o papel dos leigos, para “recriar laços de mutualidade, reciprocidade e complementaridade entre homens e mulheres”.

Já o cardeal Stephen Martin Mulla, arcebispo de Juba, no Sudão do Sul, começou por evocar a guerra no vizinho Sudão, pedindo orações pela paz e pelos responsáveis políticos.

O primeiro cardeal sul-sudanês falou do ministério do bispo “a partir duma perspetiva sinodal missionária na igreja local”.

“O bispo deve estar ativamente envolvido na vida dos fiéis”, declarou.

O arcebispo de Juba apelou ao “entendimento” das verdadeiras intenções da assembleia sinodal, que quer “renovar a Igreja, tornando-a aberta a todos”.

A assembleia sinodal tem 365 votantes – 54 mulheres – a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respetivamente.

(Com Ecclesia)

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