O Papa divulgou hoje, antevéspera do início da próxima assembleia sinodal, as suas respostas a questões (dubia) de cinco cardeais sobre temas como a sinodalidade, ordenação sacerdotal de mulheres ou uniões homossexuais.
“Não podemos transformar-nos em juízes que apenas nega, recusam, excluem”, refere Francisco, num texto em espanhol, publicado pelo site do Dicastério para a Doutrina da Fé.
O Papa justifica a publicação das respostas com a “proximidade do Sínodo”, dado que a primeira sessão da sua XVI Assembleia Geral Ordinária se inicia esta quarta-feira.
O conjunto de questões foi levantado pelos cardeais Francesco Walter Brandmüller e Raymond Leo Burke, com o apoio dos cardeais Juan Sandoval Íñiguez, Robert Sarah e Joseph Zen Ze-kiun.
Os responsáveis colocam, formalmente, as suas ‘dubia’ (forma plural da palavra latina ‘dubium’, que significa uma questão ou uma dúvida) sobre a afirmação de que a sinodalidade seria uma “dimensão constitutiva da Igreja”, como se lê na constituição apostólica ‘Episcopalis Communio’, assinada por Francisco em 2018.
O Papa realça que a apresentação destas perguntas mostra “a necessidade de participar, de dar opinião, livremente, e de colaborar”, pelo que os cardeais signatários estariam a “reclamar alguma forma de sinodalidade” no exercício do ministério pontifício.
“A comunhão não é só afetiva ou etérea, mas implica, necessariamente, participação real: que não apenas a hierarquia, mas todo o Povo de Deus, de várias formas e em diversos níveis, possa fazer ouvir a sua voz e sentir-se parte do caminho da Igreja”, precisa.
Francisco reforça o ensinamento de que a sinodalidade, “como estilo e dinamismo, é uma dimensão essencial da vida da Igreja”, o que não significa “impor uma determinada metodologia sinodal”.
Outro tema abordado é a da possibilidade de ordenação sacerdotal de mulheres, questionando se o ensinamento de São João Paulo II sobre este tema deve ser entendido “de modo definitivo”.
O atual Papa começa por precisar que o ensinamento do santo polaco “de modo algum menosprezava as mulheres, outorgando um poder supremo aos homens”.
“Sem entender isto e retirar as consequências práticas destas distinções, será difícil aceitar que o sacerdócio está reservado apenas aos homens e não poderemos reconhecer os direitos das mulheres ou a necessidade de que participem, de várias formas, na condução da Igreja”, escreve.
Francisco considera que “ainda não se desenvolveu exaustivamente uma doutrina clara” sobre a natureza exata de uma “declaração definitiva”, por parte de um Papa, precisando que “não é uma definição dogmática, mas deve ser acatada por todos”.
Os cardeais que se dirigiram ao pontífice descartam “qualquer mudança na verdade”, por considerarem que a “Revelação Divina é vinculante para sempre”.
Francisco admite que é possível “interpretar melhor” essa Revelação, pedindo que a Igreja seja “humilde”.
“Tanto os textos das Escrituras como os testemunhos da Tradição precisam de distinguir a sua substância perene dos condicionamentos culturais”, sustenta.
A resposta papal dá como exemplos textos do Novo Testamento sobre as mulheres (1 Cor 11, 3-10; 1 Tim 2, 11-14) que “hoje não podem ser repetidos materialmente”.
“A Igreja deve discernir constantemente entre o que é essencial para a salvação e aquilo que é secundário ou está menos diretamente ligado a esse objetivo”, acrescenta.
Francisco responde ainda a uma pergunta sobre a “prática generalizada de abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo”, precisando que a conceção da Igreja sobre o matrimónio é “muito clara”, ou seja, “uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta a gerar filhos”.
A resposta sublinha que se deve evitar “qualquer tipo de rito ou sacramental” que possa contradizer esta convicção, acrescentando que, na relação com as pessoas, há uma “caridade pastoral”, que deve atravessar “decisões e atitudes”.
“A defesa da verdade objetiva não é a única expressão dessa caridade, que também é feita de amabilidade, de paciência, de compreensão, de ternura, de alento”, precisa.
O Papa apela a uma “prudência pastoral” para discernir se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou várias pessoas, que não transmitam uma “conceção errada do matrimónio”, por considerar que se está perante “um pedido de ajuda de Deus, uma oração para poder viver melhor”.
Estas decisões, porém, não devem necessariamente tornar-se uma norma”, ou seja, detalha Francisco, “não convém que uma Diocese, uma Conferência Episcopal ou qualquer outra estrutura eclesial viabilize constante e oficialmente procedimentos ou ritos”.
A resposta rebate ainda uma crítica sobre os apelos a “absolver todos e sempre”, considerando que o mesmo coloca em causa o dever de “arrependimento”, por parte de quem se confessa.
O Papa destaca que esse arrependimento é “necessário para a validade da absolvição sacramental e implica o propósito de não pecar”, mas rejeita uma visão “matemática” ou do confessionário como “uma alfândega”.
“Frequentemente, em pessoas com a autoestima muito ferida, declarar culpa é uma tortura cruel, mas o simples facto de se aproximarem da confissão é uma expressão simbólica de arrependimento e de busca da ajuda divina”, sustenta.
O texto da resposta conclui-se com o alerta que de as condições habituais para a confissão “geralmente não são aplicáveis quando a pessoa se encontra em situação de agonia, ou com capacidades mentais e psíquicas muito limitadas”.
(Com Ecclesia)