Jovem músico açoriano defende que a Jornada Mundial da Juventude deixou o desafio aos cristãos de fazerem Igreja na comunidade

Foto: Igreja Açores/Igreja de São José

Ricardo Botelho foi um dos três jovens coralistas açorianos que integraram o Coro da JMJ

O grande desafio da Igreja, sobretudo depois da Jornada Mundial da Juventude e dos problemas com que ela nos desafiou nos vários momentos, desde as coreografias da Via-Sacra ou da Vigília, passando às palavras do Papa, não é preocupar-se em encontrar formas de encher o templo mas em conseguir que os que estão dentro da Igreja possam fazer comunidade, afirmou esta quinta-feira à noite, Ricardo Botelho, um dos três jovens açorianos que integraram o coro da JMJ, na V Conversa na Sacristia, realizada em São José, em Ponta Delgada.

“Não precisamos de ocupar muito tempo a pensar como vamos encher as igrejas de fieis, o que me parece, com franqueza, até um pouco beato; deveríamos pensar mais como é que as pessoas que já cá estão, que já estão nos grupos,  podem fazer Igreja extra muros, isto é, ir ao encontro dos problemas do mundo, ajudar a resolvê-los e sermos, todos, agentes promotores do seu combate”, afirmou o jovem que dirige o Coral de São José.

“Se formos refletir os momentos, os textos, as palavras do Papa, tudo nos dá dicas  para uma vida toda, como podemos agir diante dos problemas do mundo” enfatiza, destacando  “a guerra, a fome, os problemas psicológicos, a pobreza, a globalização do digital… a Igreja tem que estar aberta para reconciliar-se consigo própria e com os fieis,  reconhecer esses problemas , o que já é um passo, mas temos, acima de tudo,  de ser nós as pedras vivas de um templo que não é a Igreja física mas o mundo e olharmos para o próximo e fazermos da comunidade Igreja. Esta é a forma de cada um fazer jornada mesmo sem ter estado no parque Eduardo VII”.

“Aquilo não foi só bonito, não foi uma acção de marketing da Igreja. A jornada continua” diz ainda o jovem músico reconhecendo que bastaria que “cada peregrino que foi à jornada desse testemunho do que viveu e d e como se sentiu interpelado para termos jornada durante muito tempo e isso seria muito bom”.

“A jornada é um caminho que não se esgota num momento” afirmou Ricardo Botelho que durante quase uma hora falou da experiência como coralista mas também como peregrino a partir de seis pontos nos quais refletiu sobre os momentos altos e os momentos mais impactantes da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa.

“Dou testemunho porque é isso que todos somos: testemunhas”, começou por dizer aos participantes nesta Conversa na Sacristia, uma iniciativa da equipa da pastoral da Cultura da paróquia de São José, em Ponta Delgada.

“Ali sentimos todos a Igreja viva, como se fossemos o grito de Cristo”.

“Foi comunhão universal em tempo real, uma nova babel. Foi uma jornada extra muros onde todos tiveram lugar, crentes e não crentes, e conseguiram elevar o seu espirito e beber de um bálsamo novo. Não há critica que abale nem orçamento que pague toda a energia contagiante, tenacidade e jovialidade deste encontro. Lisboa foi capital da fé e mostrou uma Igreja viva, atenta ao mundo e aberta à sua reparação”.

“Bastaria olhar para os 300 jovens do coro e da orquestra, todos relacionados com a música liturgica, para ter a prova mais do que evidente que a Igreja em Portugal não pode estar morta, nem votada ao abandono” disse ainda, sublinhando a importância da música para a beleza do evento, que permitiu desafiar compositores contemporâneos a criar e a musicar textos litúrgicos.

” Isto vai ajudar um novo trilho do que pode ser a música litúrgica em Portugal no futuro”.

O jovem destacou a Via-sacra e a Vigília como momentos altos da Jornada, pelos temas abordados e pelo compromisso dos jovens diante de Jesus Sacramentado, que em silêncio rezaram, mas destacou igualmente o acompanhamento feitom pelo bispo de Angra ao grupo de peregrinos açorianos que pernoitou no Parque Tejo, de sábado para domingo.

“Depois de nos ter cumprimentado no coro, de mochila e de saco-cama, dormiu no recinto com os jovens açorianos e isso foi algo que me tocou”.

“Agora temos o desafio e a missão de a anunciar…Todos, todos, todos. Cada um de nós é chamado a ser missionário, congregando esforços para sermos capazes de construir comunidade, sermos um espaço aberto a todos.”, concluiu.

As “Conversas na Sacristia” são um projecto de evangelização e pensamento da fé através da cultura, das artes e da ciência, num processo de escuta, de acolhimento e de diálogo com todos, de uma Igreja de portas abertas para os sentidos, para a espiritualidade contemporânea, para a partilha da palavra, das sensações e das emoções.

Ricardo Botelho, nasceu em Ponta Delgada, em 1989 e é Técnico de Protocolo e Relações Públicas, na Presidência do Governo Regional dos Açores. Desempenhou funções no serviço de produção cultural do Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas. É Presidente da Direcção do Coral de São José.

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