Igreja promove 51ª Semana Nacional de Migrações, que inclui peregrinação ao Santuário de Fátima
A diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM), Eugénia Quaresma, afirmou que é importante “atuar sobre as causas” que levam as pessoas a deixar a sua terra e não olhar para os migrantes com medo.
“Não olhemos para o migrante como uma ameaça, olhemos também para as causas, a nível governamental, político, ao nível das decisões europeias”, referiu.
A Igreja Católica em Portugal está a celebrar, até este domingo, a 51ª Semana Nacional de Migrações, que integra, na sua programação, a tradicional peregrinação do Migrante e Refugiado a Fátima, a 12 e 13 de agosto, presidida por D. Filomeno Dias Vieira, arcebispo de Luanda, Angola.
O tema do Dia Mundial do Migrante e Refugiado 2023, ‘Livres de escolher se migrar ou ficar’, escolhido pelo Papa, inspira a semana nacional.
“Este tema põe o dedo na ferida sobre os tipos de governo, a cooperação que está a realizar, alguns factos históricos que criaram desigualdades que menosprezaram povos, que não permitiram o seu desenvolvimento”, explica a responsável pelo organismo da Conferência Episcopal Portuguesa.
“Infelizmente, essas escolhas acabam por ser forçadas, muitas vezes, as pessoas são empurradas e há este impulso, de cada migrante, de cada refugiado, a escolher a vida. Seja qual for o motivo: conflitos armados, catástrofes naturais, perseguições, a realização pessoal”.
A diretora da OCPM considera que Portugal tem “políticas humanistas” de migração, que “consideram vários meios de entrada legais”.
“O difícil é a articulação, a celeridade nos serviços”, aponta.
A responsável assume também a necessidade de trabalhar, com quem chega ao país, sobre o “dever de conhecer a cultura de acolhimento”.
“Podem surgir tensões e há necessidade de dar a conhecer a cultura portuguesa e de conhecer, também, a cultura de quem chega. Promover o encontro e o diálogo, para desfazer mal-entendidos”, recomenda.
Eugénia Quaresma destaca ainda a ligação de proximidade com as comunidades portuguesas no estrangeiro.
“Os emigrantes continuam a fazer questão de passar por Fátima e para nós, OCPM, é uma ocasião para encontrar alguns dos nossos delegados”, relata a entrevistada.
A Pastoral das Migrações, acrescenta, dedica particular atenção à língua materna, “que para os pais é uma, mas para os filhos, quando nascem no país de destino, já é outra”.
“É uma reflexão que os nossos agentes pastorais colocam, vão fazendo experiências, bilingues, e é necessário um perfil especial para o catequista, ao acompanhar nas duas línguas”, exemplifica.
Desafio de eliminar as causas mais visíveis das migrações forçadas
D.Joaquim Mendes, membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, sublinha , por seu lado, a necessidade de identificar e encontrar soluções para as “causas de migração” forçada no mundo contemporâneo.
“O Papa refere que para eliminar as causas mais visíveis das migrações forçadas contemporâneas, como a pobreza, o medo, o desespero, é necessário o empenho de todos, cada qual segundo as próprias responsabilidades, começando por nos perguntarmos o que podemos fazer, mas também o que devemos deixar de fazer, como deter a corrida às armas, o colonialismo económico, a pilhagem de recursos alheios, a devastação da nossa casa comum”, referiu o bispo auxiliar de Lisboa, na conferência de imprensa de apresentação da Peregrinação Nacional dos Migrantes.
Segundo D. Joaquim Mendes, o direito permanecer na própria terra “precede e é mais profundo e mais amplo ao direito de emigrar”.
“Guerras, violência, desastres naturais e carestias são alguns dos fatores que constringem a emigrar. Mas existem também a pobreza, a falta de perspetivas reais de vida para si e para a própria família, que minam a liberdade de escolha de emigrar, que obrigam a emigrar”, advertiu o responsável católico.
“Para reduzir as migrações forçadas todos os atores políticos e sociais são chamados a um comum empenho para a cessação de todos os conflitos e a prevenção dos desastres naturais, particularmente aqueles que são causados pela exploração abusiva dos recursos naturais”, acrescentou.
O membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana apelou a uma “boa política”, ao serviço das populações mais vulneráveis, e a um compromisso da comunidades internacional em favor dos países mais pobres.
Quanto a Portugal, país “historicamente marcado pela emigração”, o bispo auxiliar de Lisboa sustentou que os migrantes “não são um problema, mas um recurso”.
“São eles que, em grande parte, asseguram o funcionamento de vários setores económicos e sociais”, declarou, alertando para “um distanciamento entre o discurso oficial e a realidade que causa desconfiança e revolta”.
D.Joaquim Mendes sublinhou o “desafio” de trabalhar “na integração e na inclusão” de quem chega ao país, no “pleno respeito pelos direitos humanos e promoção de um desenvolvimento realmente autêntico e integral”.
(Com Ecclesia)