“Nestes dias em que estamos a assistir à repetição de graves tragédias no Mediterrâneo, somos abalados pelos massacres silenciosos, perante os quais ainda se permanece impotente e atónito”, escreve Francisco, numa carta endereçada ao arcebispo de Agrigento (Itália), D. Alessandro Damiano, responsável pela comunidade católica na ilha de Lampedusa.
“Estes desastres desumanos devem, sem dúvida, abalar as consciências”, acrescenta.
O texto, divulgado pelo Vaticano e enviado à Agência ECCLESIA, lamenta “a morte de inocentes, principalmente crianças, em busca de uma existência mais pacífica, longe das guerras e da violência”.
“É um grito doloroso e ensurdecedor que não nos pode deixar indiferentes. É a vergonha de uma sociedade que já não sabe chorar e compadecer-se com o outro”, indica o Papa, reforçando algumas das mensagens deixadas em 2013, menos de quatro meses após a sua eleição pontifícia.
A mensagem apela a uma mudança de atitude, para ver que “o irmão que bate à porta é digno de amor, acolhimento e toda bondade”.
Todos somos chamados a um renovado e profundo sentido de responsabilidade, dando provas de solidariedade e partilha. É necessário, portanto, que a Igreja, para ser verdadeiramente profética, trabalhe solicitamente para colocar-se nas rotas dos esquecidos, saindo de si mesma”.
Francisco explica que a primeira viagem do seu pontificado quis mostrar o seu apoio e “proximidade paterna àqueles que, depois de árduas peripécias, à mercê do mar, desembarcaram nas costas” de Lampedusa.
“Deus ainda nos pergunta: ‘Adão onde estás? Onde está o seu irmão?’. Queremos perseverar no erro, pretendendo colocar-nos no lugar do Criador, dominar para proteger os próprios interesses, quebrar a harmonia constitutiva entre Ele e nós?”, questiona.
O Papa pede que as comunidades católicas resistam “ao medo e à lógica partidária”, para “fecundar esta ilha, situada no coração do ‘Mare Nostrum’, com as riquezas espirituais do Evangelho, para que volte a brilhar na sua beleza original”.
A mensagem conclui-se com um agradecimento pelo empenho de quem presta assistência aos migrantes e uma oração por quem morreu na travessia do Mediterrâneo.
A 8 de julho de 2013, Francisco evocou o drama dos milhares de migrantes que tentam entrar na Europa e acabam por perder a sua vida no mar Mediterrâneo, numa visita a Lampedusa, ilha italiana a menos de 115 quilómetros da costa da Tunísia que recebeu a primeira viagem do Papa.
“Neste mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa”, disse então.
O Vaticano anunciou esta sexta-feira que a próxima Assembleia Geral do Sínodo, em outubro, vai ter entre os seus convidados especiais o italiano Luca Casarini, da organização “Mediterranea Saving Humans”.
(Com Ecclesia e Vatican News)