Documento de trabalho desafia a criar comunidades inclusivas, onde “todos se sintam bem-vindos”

Foto: Vatican News

O Vaticano apresentou hoje o ‘Instrumentum Laboris’ (IL), documento de trabalho para a primeira sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, apelando à criação de comunidades inclusivas, onde “todos se sintam bem-vindos”.

“O chamamento radical é para construirmos juntos, sinodalmente, uma Igreja atraente e concreta: uma Igreja em saída, na qual todos se sintam bem-vindos”, indica o novo texto, que encerra a primeira fase do processo sinodal, lançado pelo Papa em 2021.

Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

O texto refere que os documentos finais das assembleias continentais mencionam “frequentemente aqueles que não se sentem aceites na Igreja”, como os divorciados e recasados ou “as pessoas LGBTQ+”.

“Como podemos criar espaços em que aqueles que se sentem magoados pela Igreja e não bem-vindos pela comunidade possam sentir-se reconhecidos, acolhidos, não julgados e livres para fazer perguntas?” é uma das mais de 250 perguntas dirigidas aos participantes na Assembleia Sinodal do próximo mês de outubro.

“À luz da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia, que passos concretos são necessários para chegar às pessoas que se sentem excluídas da Igreja por causa da sua afetividade e sexualidade?”.

O documento alerta para uma “série de barreiras”, desde as de ordem prática até aos preconceitos culturais, que “geram formas de exclusão das pessoas com deficiência e têm de ser ultrapassadas”.

O objetivo, realça o IL, é que as pessoas com deficiência “possam sentir-se membros de pleno direito da comunidade”.

O texto valoriza a experiência de encontro com milhares de pessoas, neste processo sinodal, que levou ao “reconhecimento de seu valor humano único”.

A primeira secção do IL, intitulada ‘Para uma Igreja sinodal’, aponta a uma comunidade católica que deve ser “aberta, acolhedora e abraça a todos”.

Numa Igreja sinodal, acrescenta o documento, “os pobres, no sentido original de pessoas que vivem na pobreza e na exclusão social, ocupam um lugar central”.

“Todos os pontos de vista têm algo a contribuir para esse discernimento, a começar pelo dos pobres e excluídos: caminhar junto com eles não significa apenas responder e assumir suas necessidades e sofrimentos, mas também aprender com eles”, precisa o texto orientador.

“Uma Igreja sinodal pode desempenhar um papel de testemunho profético num mundo fragmentado e polarizado, especialmente quando os seus membros se comprometem a caminhar juntos com outros cidadãos para a construção do bem comum”.

O IL traça uma série de “características fundamentais ou marcas distintivas” de uma Igreja sinodal, apresentada como “uma Igreja de irmãs e irmãos em Cristo que se escutam mutuamente e que, ao fazê-lo, são gradualmente transformados pelo Espírito”.

Este percurso, indica o Vaticano, manifestou o “profundo desejo de aprofundar o caminho ecuménico”, na relação com outras Igrejas Cristãs, e do diálogo entre religiões, dando como exemplo de colaboração concreta a causa da proteção do ambiente.

O novo documento alude, por outro lado, a “sinais de graves crises de confiança e de credibilidade”, com particular referência à crise causada por várias formas de abusos – sexuais, de poder e de consciência, económicos e institucionais.

“Ao pedido de perdão dirigido às vítimas pelos sofrimentos causados, a Igreja deve unir um compromisso crescente de conversão e de reforma, a fim de evitar que situações semelhantes voltem a acontecer no futuro”.

As sínteses das Conferências Episcopais e das assembleias continentais apelam a uma “opção preferencial” pelos jovens e pelas famílias, convidando a “renovar a linguagem usada pela Igreja”, que para as novas gerações é, muitas vezes, “incompreensível”.

Sobre o mundo digital, o IL admite que falta “consciência plena” das potencialidades para a evangelização e pede “uma reflexão sobre os desafios que coloca, sobretudo em termos antropológicos”.

O texto propõe, como metodologia de reflexão, o “diálogo no Espírito”, descrito como “uma oração partilhada em vista do discernimento comunitário, para o qual os participantes se preparam por meio de reflexão e meditação pessoal”.

 

Documento de trabalho defende reflexão sobre exercício da autoridade e do ministério episcopal

– O documento do trabalho para a próxima Assembleia Sinodal, que vai decorrer em outubro, no Vaticano, apela a uma reflexão sobre a questão da autoridade, na Igreja Católica, que aborde “o seu significado e o estilo de seu exercício.

“A autoridade é um serviço à singularidade de cada pessoa, apoiando a criatividade em vez de ser uma forma de controlo que a bloqueia, e um serviço à criação da liberdade pessoal e não uma amarra que a restringe”, indica o texto, divulgado hoje em conferência de imprensa, pela Santa Sé.

O ‘Instrumentum Laboris’ (IL), documento de trabalho para a primeira sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, opta por dirigir mais de 250 perguntas aos participantes, “na esperança de promover um melhor entendimento entre os membros da Assembleia Sinodal que vêm de diferentes regiões ou tradições”.

“A Assembleia Sinodal não pode ser entendida como representativa e legislativa, em analogia com um organismo parlamentar, com a sua dinâmica de formação de maioria. Em vez disso, somos chamados a entendê-la por analogia com a assembleia litúrgica”, aponta o texto.

Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, lançada pelo Papa em 2021, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

O texto orientador propõe uma reflexão sobre o ministério episcopal, para “o inserir mais solidamente num quadro sinodal”.

“Há uma exigência de estruturas de governo adequadas, inspiradas por uma maior transparência e responsabilidade, o que também afeta o modo como o ministério do bispo é exercido”, pode ler-se.

O debate estende-se sobre a missão do Papa, questionando como “deve evoluir o papel do bispo de Roma e o exercício do primado numa Igreja sinodal”.

O IL defende a necessidade de “formação integral, inicial e permanente” em toda a Igreja, com particular referência à “renovação do atual currículo dos seminários e a formação de formadores e professores de teologia”.

A segunda secção do documento, intitulada ‘Comunhão, missão, participação’, articula, na forma de três perguntas, as prioridades que emergem do trabalho de todos os continentes, apresentando-as ao discernimento da Assembleia Sinodal: “Como podemos ser mais plenamente sinal e instrumento da união com Deus e da unidade do género humano? Corresponsáveis na missão. Como partilhar dons e tarefas ao serviço do Evangelho? Participação, responsabilidade e autoridade. Que processos, estruturas e instituições numa Igreja sinodal missionária?”.

Após os 60 pontos do IL, são propostas cinco “fichas de trabalho” para cada uma das três prioridades, a fim de auxiliar o processo de trabalho da Assembleia Sinodal, especialmente os trabalhos em grupo (Circuli Minores).

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

(Com Ecclesia)

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