O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) disse hoje à Agência Ecclesia que quiseram sublinhar a “ideia importante” da “permanente disponibilidade para servir” e ao Estado Português para “olhar para as políticas sociais”, no 14º congresso nacional.
“Portugal vive numa situação social complicada, o Estado tem tentado fazer muita coisa, durante a pandemia foi evidente essa parceira, mas, agora, as Misericórdias sentiram necessidade, 25 anos depois do último congresso em Lisboa, vir à capital do país dizer contem com as Misericórdias mas assumam a vossa responsabilidade”, explicou Manuel Lemos.
A União das Misericórdias Portuguesas encerrou este sábado o 14º Congresso Nacional das Misericórdias, com o tema ‘Valorizar o passado, Viver o presente, Projetar o Futuro’, que decorreu na Ordem dos Contabilistas Certificados, em Lisboa.
O presidente da UMP disse que com este congresso quiseram dizer ao “Estado Português, não é ao Governo, que tem que olhar para as políticas sociais que ele próprio cria”, porque, “seria muito fácil mas é inaceitável”, pensar que se pode fazer uma política social e entregar “a outro responsabilidade de o fazer e não lhe pagamos para o fazer”.
“Se amanhã aparecer um político qualquer, um Estado qualquer a dizer como é que vai acontecer, a probabilidade de falhar é enorme porque nós Misericórdias, centros sociais, IPSS, fundações, cooperativas, mutualidades é que sabemos como é que se ajuda”, assinalou.
60% dos internamentos que não abandonam os hospitais são casos sociais, e para Manuel Lemos “está a falhar mais uma vez o planeamento dos portugueses” que pensam “a quatro anos, cinco anos” e não num período maior, como a 30 anos.
“Em nome da União das Misericórdias, e meu como investigador e estudioso desta matéria, ando há mais de 15 anos a dizer que estamos perante um tsunami social que é o envelhecimento em Portugal. Estamos aqui a assistir ao tsunami na praia, a onda a levar tudo, e também está a levar as pessoas que foram para os hospitais e não têm para onde ir e precisamos de nos sentarmos todos”, desenvolveu.
O primeiro-ministro português encerrou os trabalhos do congresso, na manhã deste sábado, que contou com a presença do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que agradeceu o esforço das Misericórdias Portugueses durante a pandemia, na sessão de abertura, na quinta-feira, 1 de junho.
António Costa destacou o contributo das Misericórdias para a população em termos de respostas sociais, destacou a sua importância na pandemia Covid-19, realçando que pretendemos continuar a “trabalhar de forma aberta, com confiança mútua para conseguirmos encontrar e desenhar uma trajetória para conseguir um cofinanciamento equitativo”.
O primeiro-ministro de Portugal destacou, por exemplo, que as creches e os Cuidados Continuados Integrados são duas dimensões onde o Setor Social Solidário, designadamente as Misericórdias é “absolutamente fundamental”.
“O acordo que temos, e aquilo que resulta do pacto, é que estas são duas áreas onde o Estado confia ao setor social e solidário as respostas necessárias à sociedade e, por isso, se compromete a cofinanciar de uma forma equitativa esse esforço”, disse António Costa, na sessão transmitida online.
O bispo D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, salientou que as Santas Casas da Misericórdia têm “uma história grande, longa, de dedicação, de organização, de resposta social, e hoje é na sociedade uma resposta fundamental”.
“Nós acompanhamos com todo o interesse e desejamos muito que as Santas Casas tenham assegurado da parte do Estado o apoio para serem resposta nos mais diversos pontos do nosso país, porque está em todo o território e interessa-nos muito que essa resposta funcione e funcione bem; as Santas Casas que são uma resposta do melhor que a sociedade tem para responder aos problemas”, desenvolveu o bispo de Santarém à Agência Ecclesia.
O responsável pelo setor da Pastoral Social, da Igreja Católica em Portugal, afirmou que há capacidade no país para responder aos problemas, “desde que tenham o apoio económico para o fazer”, e espera que as Misericórdias “tenham o futuro assegurado para bem da sociedade portuguesa”.
Neste último dia do 14º Congresso Nacional das Misericórdias debateram também os desafios para o futuro das Misericórdias, “na perspetiva dos jovens provedores”.
Segundo a provedora da Misericórdia de Machico, na Madeira, em declarações à Agência ECCLESIA, esse painel “quis mostrar um novo entusiasmo, uma vontade”, porque é preciso mostrar que estão “disponíveis e, às vezes, são os mais novos que são mais entusiastas”.
“As Misericórdias vão-se renovar automaticamente até porque temos cada vez mais pessoas licenciadas, mais participativas. A verdade é que fazer voluntariado ainda é difícil porque temos os nossos compromissos pessoais, e profissionais, e as Misericórdias têm uma complexidade em termos administrativos e financeiros muito grandes”, referiu Nélia Martins, indicando que se estas instituições alertam para as “dificuldades” é para as “resolver”.
O presidente da União das Misericórdias Portuguesas assinalou também que com este congresso nacional quiseram sublinhar a “ideia importante” da “permanente disponibilidade para servir” e que o fazem “em nome dos princípios, dos valores”.
“A atividade das Misericórdias tem muito a ver com o lema da Jornada Mundial da Juventude [ndr. JMJ Lisboa 2023] ‘Maria levantou-se e partiu apressadamente’ porque isso dá ideia de serviço”, explicou Manuel Lemos.
A União das Misericórdias Portuguesas foi criada em 1976 para orientar, coordenar, dinamizar e representar as Santas Casas de Misericórdia, defendendo os seus interesses e organizando serviços de interesse comum.
Em todo o território português existem atualmente 388 Misericórdias, algumas com mais de 500 anos de existência. Apoiando diariamente mais de 165 mil pessoas em todo o país em áreas sociais estratégicas, como a educação, saúde, inclusão socioprofissional, as Misericórdias detêm 23 hospitais e 117 unidades de cuidados continuados.
(Com Ecclesia)