Por Renato Moura
Muitas instituições e os seus responsáveis frequentemente alardeiam a estabilidade; ameaçam que a sua perda leva à desgraça. A estabilidade muitas vezes garante solidez e é uma ajuda favorável para a concretização de bons objectivos. Consideram-na como condição de firmeza perante os riscos, e de segurança para acautelar as quedas. Vista assim é positiva.
Também defendem a estabilidade aqueles que desejam a permanência excessiva de tudo, seja nas normas, nos estilos ou nos hábitos; e assim nos poderes e naqueles que os exercem, ainda que mal. Até se ouve argumentar não se dever criticar o governo, para não prejudicar a imagem externa de Portugal! E é bom não esquecer que as ditaduras – em Portugal ou em qualquer parte – sempre condenaram a democracia e reprimiram as oposições, alegando defenderem a estabilidade.
Todas as instituições, sejam elas políticas, religiosas, culturais, ou quaisquer outras, correm o risco da instalação e de esta se eternizar ardilosamente suportada pelos dirigentes e acobertada pela cumplicidade dos silêncios; é a falsa estabilidade: é não só uma desgraça, é um crime.
As instituições e os seus dirigentes deveriam assumir como dever as suas próprias avaliações. Avaliar se erraram na apreciação que conduziu às decisões, se agiram de forma justa e honesta, se estão a persistir de forma insustentável em opiniões forjadas, objectivos injustificáveis, propósitos inexplicáveis.
As avaliações, para buscar a conformidade com os valores e os princípios, não são exclusivas dos órgãos de fiscalização; são de todos os membros da sociedade. Frequentemente considera-se que criticar é depreciar ou desaprovar. Mas criticar também significa fazer apreciação, ajuizar ou julgar, até positivamente. As críticas sérias e baseadas na verdade são sempre positivas; a descoberta dos erros até ajuda a quem honestamente queira ter a humildade de corrigir e melhorar.
O Papa Francisco, em 07.06.2013, vincou numa homilia: “A liberdade significa saber reflectir sobre aquilo que fazemos, saber avaliar o que está certo e o que está errado, discernir quais são os comportamentos que nos fazem crescer, escolher sempre o bem”.
A coragem é uma virtude crucial. É força de ânimo para entender os erros, para encarar com ousadia as dificuldades, para acreditar que elas se poderão vencer. Para quem está ao serviço de uma causa, ser corajoso é avançar com arrojo, lutar com denodo, sem recear consequências e perdas pessoais.
Precisam-se actos de coragem lúcidos: na sociedade, na política e também na Igreja.