A festa, que tem como lema “Levanta-te!”, sintoniza-se com a mensagem do Papa para a Jornada Mundial da Juventude
O padre José Júlio Rocha, pregador do tríduo preparatório da festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres que começou hoje em Ponta Delgada, desafiou os peregrinos do maior santuário diocesano do arquipélago a serem “nómadas na fé e na espiritualidade” e a “levantarem-se do seu comodismo”.
“O sedentarismo obrigou-nos a pensar e hoje o conhecimento, o saber, a cultura, a arte são possíveis por causa do sedentarismo, mas a fé que nos resta deve ser nómada” disse o sacerdote ao sublinhar o sentido deste apelo: “ser nómada é viver para os outros sem esperar recompensa, é não ter nada, é perdoar, é amar e dar a vida pelo irmão”.
A partir do episódio do Evangelho de São João, em que um cego à porta de Jericó à passagem de Jesus lhe pede a visão, desinstalando-se da sua desgraça, o sacerdote, que é doutor em Teologia Moral, uma das disciplinas que lecciona no Seminário de Angra desde os anos 90, lembrou aos peregrinos que a vida de um cristão não se pode conformar ao dia-a-dia e ao conforto do que já foi adquirido e conquistado.
“O manto que o cego tem às costas é o símbolo do comodismo, a resignação dos humanos e Jesus diz-nos: levanta-te do teu comodismo, caminha, não olhes para trás” afirmou o sacerdote, que é assistente diocesano da Comissão Justiça e Paz.
“Com o seu sedentarismo, de mão esticada, o cego não queria mais nada a não ser esmola, mas à passagem de Jesus desejou ver” prosseguiu, para concluir: “quando Jesus passa, a nossa vida nunca mais é a mesma”, afirmou sublinhando a importância da disponibilidade para o “caminho” e para o “ser em vez do ter”.
“Jesus manda-nos levantar constantemente; Ele `dá cabo´ de nós” enfatizou.
“Caminha, não olhes para trás; levanta-te do teu pecado, Zaqueu; levanta-te da tua depressão, da tua tristeza”, concluiu.
O sacerdote recordou os tempos em que frequentou o Seminário Menor em Ponta Delgada, na década de oitenta, a única altura em que viveu estas festas como peregrino, condição que assume igualmente este ano.
“Quero reviver e olhar face a face naquela que é a mais bela imagem que representa Jesus em todo o país”.
“O Senhor santo Cristo é uma das mais belas orações em todo o mundo feita em madeira” disse ainda.
“Aquela imagem tem um olhar esmagador, que olha mais longe que o mundo e qual é o lugar mais longe do mundo? O nosso coração. Aquela imagem atinge isso: ali estão todas as nossas dores, angústias, quando não sabemos como andar para a frente, como salvar-se…”.
“Não são os olhos que precisam de ver, são os olhos da alma e do amor que conseguem ver muito mais longe do que alguma vez possamos imaginar. Quem acredita no amor consegue ver naquela imagem o seu destino e a sua salvação” disse ainda o padre José Júlio Rocha.
“Esta imagem não é de São Miguel, deste Santuário; é nossa de todos os açorianos, de todos os portugueses e de todos os que acreditam no amor”, concluiu.
A primeira Missa do tríduo foi presidida pelo Reitor do Santuário Cónego Adriano Borges que deu as boas-vindas a todos os participantes , “os habituais e todos aqueles que nos visitam”.
“Esta é casa onde todos temos lugar; onde estão os nossos corações” disse o responsável pelo Santuário.
A festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres prossegue durante esta semana tendo no fim-de-semana os momentos mais altos com as procissões da mudança e solene no domingo do senhor Santo Cristo.
Amanha será o lançamento do livro “Teresa de Cristo” da autoria de Armando Moreira e na quinta-feira a estreia do filme sobre a vida de Madre Teresa da Anunciada, pelas 21h00 no Teatro Micaelense.