O Papa alertou hoje na Hungria para o crescimento de “nacionalismos” e “populismos” na Europa, lamentando o clima de guerra que se vive no continente, com o conflito na Ucrânia.
“A nível internacional, parece até que a política tem como objetivo inflamar os ânimos, em vez de resolver os problemas, esquecendo a maturidade alcançada depois dos horrores da guerra e regredindo para uma espécie de infantilismo bélico”, assinalou Francisco, no primeiro discurso da sua visita de três dias a Budapeste.
Após a cerimónia de boas-vindas na praça do Palácio Sandor, a residência presidencial, o Papa encontrou-se com autoridades, representantes da sociedade civil e do corpo diplomático num antigo mosteiro carmelita, sede do Governo, na capital húngara.
Francisco convidou todos a “reencontrar a alma europeia” e os princípios que levaram, após a II Guerra Mundial, à fundação do projeto comunitário, sem “populismos autorreferenciais” nem um “supranacionalismo abstrato, alheio à vida dos povos”.
“Nesta fase histórica, os perigos são muitos; mas eu pergunto-me, pensando também na martirizada Ucrânia, onde estão os esforços criativos de paz?”, questionou.
“No pós-guerra, a Europa constituiu, juntamente com as Nações Unidas, a grande esperança para o objetivo comum de um vínculo mais estreito entre as nações que evitasse novos conflitos. Todavia, no mundo em que vivemos, a paixão pela política comunitária e pelo multilateralismo parece não passar duma linda recordação do passado: parece-nos assistir ao triste ocaso do sonho coral de paz, enquanto avançam os solistas da guerra”.
Perante a presidente Katalin Novák, e o primeiro-ministro Viktor Orbán, Francisco destacou o “lugar central na história” de Budapeste, antiga capital do Império Austro-Húngaro, e o impacto das “ditaduras nazi e comunista”, no século XX.
O discurso elogiou um país que “conhece o valor da liberdade” tem “a missão de guardar o tesouro da democracia e o sonho da paz”.
Abordando um dos temas que deve marcar a sua viagem, o Papa apelou ao acolhimento dos migrantes e refugiados, defendendo um “humanismo inspirado pelo Evangelho” que leve a “amar cada um como irmão”.
“Vendo Cristo presente em tantos irmãos e irmãs desesperados que fogem de conflitos, pobreza e mudanças climáticas, é preciso enfrentar o problema sem desculpas e sem demora”, sustentou Francisco.
A identidade “sólida”, observou, implica também a “necessidade de abertura aos outros”.
“Trata-se duma perspetiva verdadeiramente evangélica, que contrasta uma certa tendência, por vezes justificada em nome das próprias tradições e até da fé, para se fechar em si mesmo”, precisou o Papa.
“É urgente, como Europa, trabalhar em vias seguras e legais, em mecanismos partilhados face a um desafio epocal que não se pode travar rejeitando-o, mas deve ser acolhido para preparar um futuro que, se não for de todos em conjunto, não existirá”.
O Papa falou de Budapeste como “cidade de pontes”, “cidade de santos” e de caráter “ecuménico”, e evocou a figura de Santo Estêvão (c. 975-1038), primeiro rei da Hungria, canonizado pelo Papa São Gregório VII em 1083, para sublinhar que os valores cristãos “não podem ser testemunhados com rigidez e isolamento”.
Francisco alertou, por outro lado, para o que denominou como “colonizações ideológicas”, apontando à “ideologia do género” e ao aborto, para pedir uma “Europa centrada na pessoa e nos povos, onde haja políticas eficientes para a natalidade e a família, cuidadosamente implementadas neste país”.
Com o lema ‘Cristo é a nossa esperança’, a visita à Hungria é 41ª viagem internacional do pontificado e representa um regresso a Budapeste, onde Francisco presidiu, em 2021, à Missa de encerramento do 52.º Congresso Eucarístico Internacional.
(Com Ecclesia)