A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) alertou hoje em Fátima para as consequências da crise económica no país, falando num aumento “exponencial” das ajudas dadas pelas instituições católicas.
“A Assembleia manifestou preocupações sociais quanto às graves dificuldades por que passam os cidadãos, famílias e instituições: as medidas adotadas para atenuar as carências de rendimentos das pessoas e famílias, que não são estruturantes, deveriam seguir o critério da proximidade para assegurar a justiça”, indica o comunicado final da reunião plenária dos bispos católicos, que decorreu desde segunda-feira.
O presidente da CEP, D. José Ornelas, convidou os responsáveis políticos a ter em conta a situação “dramática” do país, das pessoas e das famílias.
“Todos sentimos esta urgência”, assumiu, aludindo às várias “razões de protesto”, apesar da necessidade de “racionalidade das contas públicas”.
O bispo de Leiria-Fátima saudou ainda o empenho de uma “rede enorme” de milhares de instituições de caráter social, reforçando o alerta sobre a sua sustentabilidade económica, apesar dos ajustes dos apoios do Estado, falando numa “grande crise”.
“Os centros sociais paroquiais e instituições afins, em paralelo com as famílias, não conseguem os recursos económicos necessários para assegurar os serviços que prestam à sociedade”, refere o comunicado conclusivo.
Os participantes na 206.ª Assembleia Plenária da CEP apontaram problemas que afetam as famílias, como “o aumento das taxas de juro”, “os problemas relativos à escola (professores), à saúde (médicos, enfermeiros e gestão dos hospitais) e aos transportes públicos”.
De salientar também o largo trabalho da rede Cáritas em Portugal e as informações da Cáritas Portuguesa. Pelo efeito da guerra, o apoio dado aos ucranianos com a coordenação da Cáritas Internacional foi de 54 milhões de euros. Deste montante, 400 mil foram disponibilizados pela Cáritas Portuguesa, graças aos donativos que recebeu”.
Os bispos debateram a preparação da JMJ Lisboa 2023, tendo decidido dedicar as próximas Jornadas Pastorais do Episcopado (19-20 de junho de 2023) ao tema da Jornada Mundial da Juventude, “particularmente aos desafios pastorais que se colocam após a sua realização”.
Questionado sobre um eventual encontro de Francisco com vítimas de abusos sexuais, na sua passagem por Lisboa, o presidente da CEP afirmou que “isso depende, claramente, do Papa”.
Os bispos aprovaram uma nova versão da ‘Ratio Nationalis Institutionis Sacerdotalis’, “O Dom da Vocação Presbiteral”, documento sobre formação de sacerdotes em Portugal, que se segue ao texto orientador divulgado pelo Vaticano em dezembro de 2016.
O texto inclui um capítulo sobre “o seminário e a cultura de prevenção e vigilância no que respeita aos abusos” e entrará em vigor após devido reconhecimento do Dicastério para o Clero.
Segundo D. José Ornelas, foram introduzidas mudanças, por exemplo, relativamente, aos Seminários Menores, que “praticamente não existem”, no figurino de décadas passadas.
A Assembleia Plenária aprovou também a Nota Pastoral “100 anos a cumprir a Promessa” sobre o Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português (CNE), que completa 100 anos de existência a 27 de maio de 2023.
Sobre a sua reeleição como presidente da CEP, para um novo triénio, o bispo de Leiria-Fátima falou num voto de confiança, admitindo a existência e a necessidade de “posições diferentes” entre os membros do episcopado.
Quanto ao seu primeiro mandato, D. José Ornelas destacou que “foram três anos de uma evolução muito significativa”, tanto pela crise dos abusos sexuais como pelo tema da sinodalidade, que gerou “clamor”.
“Estamos a fazer um caminho, que não é perfeito, vai ter sobressaltos”, apontou, desejando uma mudança de “paradigma”.
O presidente da CEP sustentou que o relatório nacional para o Sínodo 2021-2024, citado na etapa continental de Praga, veio trazer “desafios às dioceses”.
(Com Ecclesia)