D. José Ornelas assume preocupação com efeitos da crise e da guerra na Ucrânia
“Sentimos os efeitos desta crise que se adensa sobre a vida de uma grande parte de famílias e se reflete na dificuldade de acesso aos meios elementares de vida, como a alimentação, a habitação e a saúde, para além de aumentar a tensão social”, declarou D. José Ornelas, no discurso de abertura da 206.ª Assembleia Plenária da CEP, que decorre até quinta-feira.
O bispo de Leiria-Fátima elogiou, a este respeito, os esforços que vão ao encontro dos mais frágeis, tanto por parte do Governo, como de entidades públicas e privadas, “entre os quais muitas paróquias e outras instituições da Igreja”.
“Para além da legítima afirmação de diversidade de soluções para os problemas, a sociedade precisa igualmente que se busquem caminhos com um horizonte temporal que vá para além do imediato e que possam capacitar as pessoas com menos recursos individuais, sociais e financeiros”, acrescentou.
O responsável reforçou a disponibilidade da Igreja em Portugal para “estar presente e solidária, ao lado de quem mais precisa”.
“A ajuda de emergência é fundamental e a Igreja sabe bem disso, mas é preciso ousadia, coragem e rasgo para equacionar soluções de médio e longo prazo, que mitiguem a vulnerabilidade e a exposição a fatores conjunturais que penalizam sempre os mais pobres”.
O presidente da CEP condenou ainda a invasão da Ucrânia, considerando-a como “uma das maiores preocupações do momento”.
“A enorme perda de vidas humanas, onde se incluem milhares de civis, muitos dos quais crianças; a destruição intencional de meios de habitação e de vida que sustentam populações inteiras e causam o êxodo forçado de milhões de inocentes, formam um cenário bárbaro que julgávamos ultrapassado no nosso continente e que apela à nossa solidariedade e à nossa oração e ação solidária pela paz, com justiça e dignidade para todos”, sustentou D. José Ornelas.
A intervenção assinalou que as consequências deste e de outros conflitos têm “um efeito devastador a nível mundial”, agravando uma crise económica que “atinge particularmente as populações mais desfavorecidas e faz aumentar dramaticamente as vagas de migrantes em busca de segurança”.
“Em comunhão com o Papa Francisco, acreditamos que, em cada tempo, a paz é possível e juntamo-nos ao seu apelo, em atitude orante e solidária, para ajudar as vítimas dos conflitos e para inspirar mediações na comunidade internacional, nomeadamente junto das organizações empenhadas na convivência entre nações e na igualdade entre povos”, declarou o bispo de Leiria-Fátima.
A agenda da Assembleia Plenária inclui eleições para os órgãos da CEP e debate a constituição do novo grupo responsável pelo acolhimento e acompanhamento das vítimas de abusos.
“No momento doloroso, mas também de purificação e conversão em que agora nos encontramos, continuamos apostados no caminho que a Igreja tem vindo a percorrer para que os ambientes eclesiais sejam cada vez mais seguros para as crianças, jovens e adultos vulneráveis,”, referiu D. José Ornelas, na abertura da 206.ª Assembleia Plenária da CEP, que decorre até quinta-feira, jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja.
O bispo de Leiria-Fátima sublinhou o compromisso dos bispos portugueses para que os crimes cometidos no passado “possam ser reparados, na medida do possível, e não voltem a acontecer”.
“Foi em atenção às vítimas, antes de mais, que não nos resignamos a procedimentos do passado, nem a atitudes de conivência e silenciamento, procurando encarar estes dramas, com realismo e esperança”, apontou o responsável.
Uma Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela CEP, apresentou a 13 de fevereiro um relatório, no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022, e entregou aos responsáveis católicos de Portugal uma lista com nomes de alegados abusadores, no dia 3 de março.
D. José Ornelas assumiu que esta realidade “marcou os últimos meses” e tem “vindo a despertar, com crescente intensidade, uma renovada consciência pública sobre a gravidade deste crime, em Portugal e no mundo, na Igreja e na sociedade, em geral”.
O Relatório Final da CI, apresentado no passado mês de fevereiro, permitiu aprofundar o conhecimento dramático desta realidade e as consequências devastadoras que tais crimes tiveram na vida de tantas crianças”.
O presidente da CEP agradeceu o “contributo decisivo” que os membros da CI deram para “o conhecimento e denúncia destas situações”.
“Nunca é demais renovar o pedido de perdão e o sentimento de profunda gratidão para com todos os que deram ‘voz ao silêncio’ e tiveram a coragem de denunciar aquilo que nunca lhes deveria ter acontecido”, apontou.
D. José Ornelas explicou que os bispos têm estado a “analisar e a integrar as recomendações” resultantes do estudo da CI, em articulação com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas, tendo sido tomadas “medidas cautelares provisórias de afastamento de funções de pessoas mencionadas no estudo realizado”, por parte de várias dioceses.
“Tais medidas não significam qualquer atribuição de culpa e têm de ser seguidas de ulterior processo de investigação a fim de apurar a realidade e eventual responsabilidade dos factos concretos. Até lá, ninguém pode ser considerado culpado”, acrescentou.
O presidente da CEP adiantou que os bispos vão criar um Grupo de Acompanhamento, com “a autonomia necessária para acolher e acompanhar as vítimas e para assegurar o necessário apoio e a possível recuperação dos danos por estas sofridos, dispondo de uma linha de atendimento e de condições para o contato e acompanhamento pessoal”.
O novo grupo, que se encontra em fase de organização, vai estar articulado com a Equipa de Coordenação Nacional e as Comissões Diocesanas.
Nesta Assembleia, será analisada e votada a constituição e o projeto deste grupo, que deverá estar a funcionar nas próximas semanas, informou D. José Ornelas.
Para o bispo de Leiria-Fátima, “o caminho para a implementação de uma verdadeira cultura de proteção e cuidado dos mais frágeis, na Igreja e na sociedade, exige medidas concretas de proteção e formação”.
“É igualmente importante a colaboração da Igreja com as instituições civis, nomeadamente as que desenvolvem a sua ação na proteção dos menores. Comprometidos que estamos em erradicar os abusos sexuais no seio da Igreja, queremos ser igualmente parte ativa na resolução deste drama, que se encontra transversalmente presente nos diversos quadrantes da sociedade”, acrescentou.
A intervenção falou num “percurso doloroso”, particularmente para os membros do clero, pedindo que todas as comunidades católicas de Portugal que se unam à Eucaristia que os bispos vão celebrar, na jornada de quinta-feira, na Basílica da Santíssima Trindade às 11h00.
A agenda da Assembleia Plenária inclui eleições para os órgãos da CEP.
(Com Ecclesia)