Diante dos “gritos de abandono” da humanidade “Deus lê sempre os lábios dos que chamam por Ele”

Foto: Igreja Açores

Bispo de Angra preside à celebração de Domingo de Ramos na Sé e inaugura Semana Santa com um desafio: que o “abandono de Jesus” possa atrair “muitos frutos de purificação na Igreja” para o bem da humanidade

D.Armando Esteves Domingues, na sua homilia, desafiou os cristãos açorianos esta manhã a olhar para o “abandono de Jesus” e para a “desolação de Maria” e deles aprenderem a cuidar dos abandonados e excluídos da humanidade, oferecendo-lhes a mesma “mansidão de coração”.

“Vamos viver a partir de agora esta semana, para que no fim possamos sair pelas nossas cidades e pelas nossas terras para dizer que o Messias é manso de coração e que nós com Ele levamos a mesma mansidão a todos”, disse o bispo de Angra no início da celebração que começou no adro da Sé, com a tradicional bênção dos Ramos, que invocam a entrada triunfal de Jesus na cidade santa de Jerusalém.

A partir da liturgia deste domingo, que convida a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos, o prelado diocesano centrou a reflexão no grito de Jesus: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”.

“Naquele `porquê´, que exprime o momento existencial mais intenso da sua relação com o Pai, está um grito que se prolonga nas interrogações, ânsias e dramas nossos e dos homens de todos os tempos” afirmou D. Armando Esteves sublinhando que aquela interrogação “abre um espaço sem fronteiras, convida ao encontro sempre possível com o Pai, porque aberto por Jesus com a sua própria vida”.

“Um grito que abre ao diálogo com qualquer um, a partir do que há de mais humano: a experiência do limite que é a dor” esclareceu ainda ao lembrar que a cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus propõe à humanidade: a doação da vida por amor.

“Podemos perguntar se as feridas, as cruzes e a dor – factos negativos e, como tal, apenas privação do bem – podem produzir uma realidade positiva, como a salvação. A verdade é que não fomos salvos pela dor de Cristo, mas pelo seu amor! Mais precisamente, pelo amor que se exprime no sacrifício de si mesmo à vontade do Pai e na aceitação da cruz” afirmou D. Armando Esteves.

O bispo de Angra convidou, desta forma, todos os diocesanos a olharem para o caminho de Jesus “que é o de grande parte da humanidade: dos que não têm liberdade e são forçados a prisões e torturas; dos doentes graves que se veem presos a uma cama; dos ultrajados na sua dignidade e nos seus direitos humanos, o caminho dos sós e dos tristes, dos que sofrem de variadas formas… Ele faz aquele caminho com todos os sós, os tristes os que sofrem de alguma forma”.

Nesta última semana, a Santa, cada um vai ter oportunidade de tomar posição clara, indo ou não com Ele”, pois “Jesus é de todos, como somos, fiéis e infiéis, justos e injustos”, frisou deixando um pedido: “vamos todos entrar juntos neste caminho com Ele. Nesta semana grande vamos recordar lugares, ações, apalavras, quase uma representação…Que a liturgia não seja uma encenação, mas vida”.

“Fazendo a experiência da dor podemos falar com qualquer homem ou qualquer mulher” frisou desafiando cada cristão a ser “testemunha deste Rei” que não impõe “outra força que não a do amor embora não fuja ao sofrimento como o que experimentou a caminho do Calvário.”.

O prelado lembrou ainda o papel de Maria ao longo da Paixão, vivida em “disponibilidade total”, apesar do sofrimento de ver o filho injustamente acusado.

Maria é a imagem da “Igreja que será a presença sempre visível do Ressuscitado entre nós”, disse o bispo de Angra.

“Que o Abandono de Jesus e a Desolação de Maria possam atrair muitos frutos de purificação na Igreja de hoje, que precisa de renovação, para nosso bem e de todos os homens”.

A Igreja Católica inicia, com o Domingo de Ramos, a Semana Santa, momento central do ano litúrgico, que recorda os dias da prisão, julgamento e execução de Jesus, culminando com a Páscoa, celebração da ressurreição de Cristo.

 

Oração deixada pelo Bispo a todos os diocesanos neste Domingo de Ramos:

Ajuda-me, Senhor, a entender este mistério do teu abandono,

mas ajuda-me sobretudo a amar-Te em cada dor própria ou alheia,

a reconhecer-Te e amar-Te em cada um que sofre ao meu lado,

em todos os que são arrastados pelo ateísmo prático,

nos incapazes de te amar crucificado no grito de cada pobre.

Ensina-me, Tu que não és estranho a nenhuma desgraça e experimentaste o abandono do Pai,

a preencher todos os vazios da minha vida

 para Te dar a cada irmão em veste de Amor, de Alegria, de Paz e de Esperança. Em veste de Ressuscitado!

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