O Papa alertou hoje no Vaticano para o agravamento das desigualdades sociais, acelerado pela concentração das tecnologias digitais nos países mais ricos.
“Preocupa-me o facto de que os dados recolhidos até agora sugiram que as tecnologias digitais tenham servido para aumentar as desigualdades no mundo: não só as diferenças de riqueza material, que são importantes, mas também as de acesso à influência política e social”, declarou, num discurso divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
Francisco falava aos participantes nos ‘Diálogos Minerva’, iniciativa do Dicastério para a Cultura e Educação, organismo presidido pelo cardeal português D. José Tolentino Mendonça.
Estes encontros reúnem, anualmente, cientistas, empresários, juristas, filósofos e representantes católicos, para debater o impacto social e cultural das tecnologias digitais, em particular a inteligência artificial.
“O conceito de dignidade humana impõe-nos a necessidade de reconhecer e respeitar que o valor fundamental de uma pessoa não pode ser medido por um complexo de dados. Nos processos de decisão sociais e económicos, temos de ter cautela ao confiar os juízos a algoritmos”, advertiu Francisco.
O Papa questionou se as instituições nacionais e internacionais são capazes de responsabilizar as empresas tecnológicas pelo “impacto social e cultural dos seus produtos”, tendo em consideração que “o risco do aumento das desigualdades pode comprometer o sentido de solidariedade humana e social”.
“A meta é que o crescimento da inovação científica e tecnológica seja acompanhado por maior igualdade e inclusão social”, acrescentou.
“Não podemos permitir que os algoritmos limitem ou condicionem o respeito pela dignidade humana nem excluam a compaixão, a misericórdia, o perdão e, sobretudo, a abertura à esperança numa mudança da pessoa”.
O discurso criticou uma “falsa conceção da meritocracia”, que leva a ver na vantagem económica de uma minoria da população algo de “merecido” e a pobreza de muitos é “vista, num certo sentido, como sua culpa”.
Francisco alertou para a falta de uma visão “partilhada” da dignidade humana, nos debates públicos, o que tem levado a uma “cada vez maior polarização”.
“Só formas de diálogo verdadeiramente inclusivas podem permitir um discernimento com sabedoria”, apontou.
(Com Ecclesia)