Pai de quatro filhos, João Monteiro partilha a experiência do luto e da parentalidade a solo, e de como hoje gere a vida refeita a seis
À pergunta óbvia de como é ser pai de quatro filhos, nos dias de hoje, em que a média pouco ultrapassa um filho por casal, João monteiro responde com assertividade: “não penso nisso”. Mas diante da insistência, refere que “não pensa nisso” porque “os “desafios da paternidade continuam a ser os mesmos de ontem”.
Este domingo assinala-se o Dia do Pai, solenidade de São José, e o Igreja Açores foi falar com um pai de quatro filhos. Residente na ilha Terceira, João Monteiro, tem dois filhos do primeiro casamento, que perderam a mãe na adolescência, do filho da nova mulher com quem refez a vida depois de enviuvar, e agora um filho bébé, já em casal..
“As dificuldades são as próprias do dia-a-dia e prendem-se mais com a gestão e compatibilização de feitios do que propriamente com outras dificuldades” refere.
“Olho muito para a frente, como naquela canção dos Trovante- Saudades do Futuro- e quando penso que terei 70 anos quando o Vasco ( o bébé) tiver 20, não posso mesmo pensar muito no assunto”, refere.
Ficou viúvo depois de um longo período de doença da mulher, mãe dos dois filhos mais velhos; de repente viu-se com as responsabilidades de ser pai e mãe de dois adolescentes e deitou mãos à obra.
“Não podia ser de outra maneira; não tinha outra opção senão continuar dentro de toda a anormalidade que a vida nos trouxe, a mim ao Tiago e à Esther”.
“No dia-a-dia temos de acelerar, encontrar mais tempo; é uma questão de organização” diz ainda lembrando que “o dia tem 24 horas e o que fazemos com elas depende apenas de nós. Temos de ter prioridades e, naturalmente, que muitas delas passam pelos filhos, mas, na verdade, temos de encontrar pontos de equilíbrio que satisfaçam todas as necessidades”.
“Às vezes poderia ser só um e ser mais difícil”, acrescenta.
“Lembro-me do salto que foi dado da vida dos meus pais para a minha e a minha infância não tem nada a ver com as dos meus filhos” refere ainda.
“Hoje as condições de vida são diferentes e há coisas que estão mais facilitadas o que nos deixa mais tempo para estarmos com os filhos” refere ainda destacando que tem uma vida mais facilitada do que a que os pais tiveram.
João Monteiro diz que o essencial é passar aos filhos valores. Desde logo “que sejam boas pessoas”.
Para João Monteiro, a paternidade não é um cargo ou estatuto e desafia à “exigente” pedagogia para a liberdade , devendo apontar para os “grandes valores”.
“É estar atento ao que nos rodeia, ao outro, pugnarmos por justiça, igualdade e isso são peças fundamentais da educação do Tiago e da Esther. Se vão ser isto ou aquilo, isso é com eles” diz João Monteiro garantindo-lhes liberdade para escolhas, mas sobretudo “escolhas que façam deles boas pessoas”.
“A paternidade é um bocadinho credora de um desnorte; é um grande desafio” sublinha procurando desfazer alguns mitos, nomeadamente o “gostar mais de um filho do que de outro”, “as prioridades na gestão do dia-a-dia”, entre outros. A entrevista vai para o ar na íntegra este domingo, depois do meio-dia, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.
A igreja celebra o Dia do Pai no dia da solenidade de São José, patrono da Igreja Universal, que se assinala este domingo, com o papel dos pais a ser incentivado para serem os “guardiões do crescimento dos filhos” pelo Papa Francisco.