A jurista integra a Comissão Diocesana criada para o acompanhamento e prevenção de casos de abusos de menores por parte de membros da Igreja
A Comissão Independente pela sua competência técnica e independência, reconhecidas pela seriedade do seu trabalho, ajudou a que a Igreja pudesse conhecer o passado mas a sua continuidade “não faz muito sentido” afirmou ao Igreja Açores Maria do Sameiro Gabriel.
No momento em que a temática dos abusos sexuais volta à primeira linha da atualidade, depois da realização da Assembleia Plenária de Bispos, que analisou o relatório entregue no dia 13 de fevereiro, sobre os abusos de menores levados a cabo por membros do clero e leigos dentro da Igreja, e de uma lista de mais de 100 nomes de alegados abusadores que ainda poderão estar vivos e no ativo, a jurista micaelense, que integra a Comissão Diocesana, questiona a necessidade objectiva de se prolongar o trabalho de escuta de uma comissão independente.
“A comunicação social tem questionado muito sobre a opção da continuidade da Comissão Independente; na verdade não sei se fará muito sentido porque o trabalho deles já foi concluído. A identificação do problema está feita; as comissões diocesanas podem ser, a partir de agora, os canais de encaminhamento de denuncias, de escuta e sobretudo têm um trabalho muito desafiador ao nível da prevenção” refere Maria do Sameiro Gabriel.
Numa entrevista que vai para o ar este domingo, depois do meio-dia, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, a jurista reflete sobre a escassez de denúncias junto das comissões diocesanas e, sobretudo, sobre o passo dado pela Igreja ao querer conhecer a realidade, nomeadamente para melhor poder cuidar das vítimas.
“A Igreja está a levar a sério este processo, havendo uma cisão entre o passado e o que foi até agora o comportamento da instituição, que protegia mais o seu bom nome do que se preocupava com as vítimas. Hoje a opção da Igreja é outra” afirma Maria do Sameiro Gabriel sublinhando que estes assuntos “têm de ser enfrentados e com muita clareza”.
“O facto de haver abusos, segundo o relatório, particularmente durante os anos 60, 70 e 80 , e de hoje haver uma tendência para o seu decréscimo, prende-se com a própria noção deste crime. Hoje uma criança terá mais dificuldade em calar um abuso do que tinha nesse tempo, onde a figura do padre, por exemplo, era de uma grande autoridade. As crianças vítimas de abuso não falavam nem com a família nem com os amigos, por vergonha, certamente, por medo, mas também porque poderiam não ter bem a noção do que lhes estavam a fazer, até porque o abusador exercia sempre um ascendente”, reconhece a jurista.
“As comissões diocesanas podem fazer esse trabalho de escuta, de acolhimento, mas sobretudo de prevenção e de acompanhamento lembrando às vítimas que o importante é que denunciem nas instâncias próprias, nomeadamente junto do poder judicial”, afirma.
“Esse esclarecimento é também um papel que pode ser desempenhado pelas comissões que são compostas por técnicos de várias áreas sociais e profissionais”, enfatiza.
“Um abuso é sempre um ato terrível, ainda mais se for feito contra uma criança. Na Igreja é particularmente mau porque se está a fazer o oposto do que se defende. Um sacerdote ou um leigo que anuncia o Evangelho não pode abusar. É inconcebível dizer que pertencemos a uma igreja onde Jesus é o rosto do amor e depois alguns de nós abusam” afirma Maria do Sameiro Gabriel.
“Precisamos de ser capazes de restaurar a confiança em Deus, a fé das pessoas” diz ainda lembrando algumas visitas feitas a casas de vitimas de abusos que conservam imagens de Nossa Senhora ou do Senhor Santo Cristo.
“Estas pessoas querem um pedido de perdão sério da Igreja e querem ser reabilitadas para prosseguir com as suas vidas e não ficarem apenas presas a um passado traumático”.
“Temos, por outro lado, de adoptar procedimentos muito claros, como os que já estão em vigor em alguns grupos da Igreja como os escuteiros, de forma a minimizar a possibilidade de abuso por parte dos adultos” diz ainda lembrando que a chave para fazer ainda diminuir mais este crime é adoptar comportamentos preventivos, sobretudo na relação com os jovens na área pastoral da catequese, dos grupos de jovens, etc.
A jurista fala, ainda, da importância da sociedade como um todo “se tornar mais segura”, seja no desporto, na cultura ou na família.
A entrevista de Maria Sameiro Gabriel vai para o ar este domingo, depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.
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