Papa pediu “campeões da fraternidade”, na luta pela paz 

O Papa encontrou-se hoje em Kinshasa com milhares de jovens da República Democrática do Congo (RDC), num clima de festa, convidando todos a ser um “campeão da fraternidade”, na luta pela paz e contra a corrupção e o “tribalismo”.

“Das tuas mãos pode vir a paz que falta a este país”, disse aos presentes no Estádio dos Mártires, na capital da RDC.

Francisco entrou em papamóvel, sendo acolhido pela multidão com lenços brancos, como sinal de paz, num país afetado por violentos conflitos, que provocaram milhões de mortes, nas últimas décadas.

Na sua intervenção, o Papa convidou todos a dar as mãos, num gesto de comunhão e reconciliação, que foi sublinhando por um canto comum.

“És indispensável e responsável pela tua Igreja e pelo teu país; fazes parte duma história maior, que te chama a ser protagonista: criador de comunhão, campeão de fraternidade, corajoso sonhador dum mundo mais unido”, declarou.

Francisco alertou para a corrupção e para as forças internas e externas que exploram as riquezas da RDC, colocando a multidão a repetir, consigo, “não à corrupção”, num momento saudado por cânticos e palmas dos presentes.

Não vos deixeis manipular por indivíduos ou grupos que procuram servir-se de vós para manter o vosso país na espiral da violência e da instabilidade, para continuarem a controlá-lo sem consideração por ninguém”.

Jovens e catequistas da RDC deram o seu testemunho sobre a realidade local, em testemunhos intercalados por momentos de danças tradicionais e gritos de “viva o Papa” ou “queremos a paz”.

“Agora quero pedir-vos para durante alguns momentos olhardes, não para mim, mas concretamente para as vossas mãos: abri as palmas das mãos e fixai nelas os olhos. Amigos, Deus colocou nas vossas mãos o dom da vida, o futuro da sociedade e deste grande país”, pediu Francisco.

Numa intervenção traduzida para francês, por um sacerdote, e muito saudada pelas cerca de 80 mil pessoas que lotaram o estádio, o Papa afirmou que cada um tem “uma riqueza única, irrepetível e incomparável”.

“Para que servem estas minhas mãos? Para construir ou destruir, dar ou reter, amar ou odiar? Vê! Podes apertar a mão e fechá-la, torna-se um punho; ou podes abri-la e colocá-la à disposição de Deus e dos outros. Aqui está a opção fundamental, desde os tempos antigos”, acrescentou.

A intervenção apresentou cinco “ingredientes” para a paz, um por cada dedo da mão – oração, comunidade, honestidade, perdão e serviço.

“Não te dirijas a Jesus como a um ser distante e estranho de quem se tem medo, mas como ao maior amigo, que deu a vida por ti. Conhece-te, confia em ti e ama-te, sempre”, recomendou.

O Papa falou do Espírito Santo como um “motor de paz, a verdadeira força de paz”.

“Por isso mesmo, a oração é a arma mais poderosa que existe”, sustentou.

Francisco advertiu os jovens contra a dependência – de drogas, do ocultismo ou das redes sociais, por exemplo -, desafiando-os a construir “comunidade”, com “honestidade”, dois dos cinco ingredientes que apresentou para a paz.

“Sente-te responsável pelos outros, parte viva duma grande rede de fraternidade, onde nos apoiamos reciprocamente e tu és indispensável”, recomendou.

O longo discurso evocou o testemunho de Floribert Bwana Chui, morto em 2007, aos 26 anos de idade, em Goma, no leste da RDC, por ter bloqueado a passagem de alimentos estragados.

“Como cristão, rezou, pensou nos outros e escolheu ser honesto, dizendo não à imundície da corrupção. Isto é conservar as mãos limpas, enquanto as mãos, que ganham em tráficos ilícitos, ficam ensanguentadas”, precisou Francisco, recordando o jovem funcionário da alfândega congolesa.

O Papa falou ainda da necessidade do perdão, que “não significa esquecer o passado, mas não se resignar com o facto de que se vai repetir”.

Esta é a quinta viagem do atual Papa ao continente africano, onde esteve em 2015, 2017 e 2019, por duas vezes, tendo passado pelo Quénia, Uganda, República Centro-Africana, Egito, Marrocos, Moçambique, Madagáscar e Maurícia.

A visita, iniciada na terça-feira, prolonga-se até domingo, passando, a partir de sexta-feira, pelo Sudão do Sul.

(Com Ecclesia)

 

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