Foi uma espécie de remorso que me fez aceitar o encargo de assistente nacional da Vida Ascendente.
D.António Marcelino telefonou-me há cerca de dois anos a pedir que aceitasse substituí-lo nessa missão. Lembrei-me e lembrei-lhe, nessa noite, que uma vez já lhe tinha dito um não quando saiu de Lisboa e me pediu para o substituir como assistente de uma equipa da casais. Não aceitei por, na altura, me ser inteiramente impossível. Mas não fiquei tranquilo. Desta vez aceitei apesar de sentir o peso de mais um trabalho que gosto de levar a sério como outros trabalhos que desempenho na Igreja. No dia seguinte chegou-me a nomeação da Conferência Episcopal e não muito tempo depois faleceu D.António Marcelino.
Já conhecia um pouco o Movimento, a sua história cinquentenária e a sua expansão pelos cinco Continentes. Mas com o tempo fui (e estou) aprendendo a aproximar-me duma outra dimensão da vida. O tempo da reforma em que surge uma espécie de degrau inesperado, em que de um dia para o outro, a pessoa que pensava ir finalmente usufruir do seu tempo e da sua liberdade, cai num cadafalso de vazios que não imaginava encontrar.
O Movimento Vida Ascendente vai dizer que é preciso continuar a subir cristãmente a montanha mágica da vida, não como uma cruz pesada de dias indefinidos, mas como a redescoberta de encontros de amizade, dimensões de fraternidade e uma espiritualidade que se converte em missão.
Restam muitas vezes 10,15, ou (muito) mais anos para viver a vida em pleno. Ninguém tem vergonha de si mesmo não obstante as rugas, as dificuldades de muita ordem. Ficaram para trás muitas realizações mas também muitas poeiras que não mereciam tanto desgaste e entregas inúteis. Como que se sente a sabedoria mais próxima, a vida mais arrumada, a esperança mais explicada, a fé compartilhada, a Palavra de Deus a tocar mais de perto o nosso despojamento num apelo constante ao essencial.
Felizmente que existem na Igreja e na sociedade inúmeras iniciativas voltadas para os idosos na redescoberta da vida iluminada pela fé. Na Vida Ascendente tenho descoberto com mais novos e mais velhos a maravilha das coisas simples e a inutilidade de muitas vaidades que como pequenas mentiras se atravessam na vida e dão a ilusão de lhe oferecer sentido. Esta Vida Ascendente tem-me ensinado e a muitos que a vida tem muito para dar e temos muito a dar à vida dos outros sob a inequívoca inspiração do nosso Mestre,o Senhor Jesus. É mais um movimento, nem sei se o melhor, que não anula nem combate tantas iniciativas pastorais que felizmente brotam das comunidades ou, melhor dizendo, do Espírito que sempre renova a vida.
P.António Rego