Por Renato Moura
Embora possa parecer, não se quer perorar pela saída de Portugal do mundial de futebol. Essa ilusão vendida só constituiu desilusão para quantos acreditaram nessa improvável hipótese dadas as circunstâncias. Desencanto é perceber que no futebol, como em muitos empreendimentos, os nossos recursos não são feitos render; e tantas vezes se crê e aposta no poder e sucesso pessoal, em vez do colectivo.
Quem confiara haver pleno respeito pelos valores democráticos no Parlamento Europeu, a atitude duma deputada investida na alta função de Vice-presidente (e de eventuais implicados) é uma absoluta desilusão das ilusões dos crentes. Decepção quando neste nosso país ouvimos investigados e acusados altos responsáveis do Governo e da Administração Pública, por fenómenos de corrupção.
Quem tinha esperança na honradez dos autarcas conhecidos e escolhidos nas suas comunidades, consciente de notícias de graves irregularidades noutros concelhos, sente em risco a confiança nos seus eleitos. Quando os eleitores olham para os ancestrais desenganos dos munícipes de Lisboa, no concernente à abertura dos tão prometidos túneis para sumir a água da chuva e evitar repetidas enchentes, relembram as suas próprias ilusões e consolidam a desilusão.
Quem pensava que um governo nacional de maioria absoluta, não significava poder absoluto, já tinha o suficiente para o desapontamento; e para acrescer, quem acreditara na promessa de que não voltaria a haver parentes próximos no Conselho de Ministros, já viu como se acaba de juntar irmão à irmã.
Quem confiara que nos Açores um Governo sem maioria de um partido redundaria em ponderação e proveito popular, certamente já percebeu que aprovação de Plano e Orçamento nem sequer significa estabilidade; e o Governo só não caiu, provavelmente, perante o medo de alguns eleitos não conseguirem renovar a eleição. São, ou não são, desilusões das ilusões?
Quem acreditou num Presidente do Governo que definiu politicamente a localização de um porto nas Lajes das Flores e tem visto desmoronar a estrutura e a operacionalidade, presumivelmente vê desgastar-se a velha alegria; esses e todos os demais, naturalmente descrentes, vendo sumirem-se milhões por água abaixo, sem solução provada e embalados numa ilusão das ilusões.
Estes e tantos outros factos que aqui não cabem, parecem dar razão – seja ao Rei Salomão, ou ao pregador – quando se deu conta “que nada havia debaixo do Sol que não fosse ilusório” e aborrecido da vida também confessava: “tudo é tão irracional” e “ilusão das ilusões”.