A presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome afirmou que não trabalham “para bater records”, pela campanha de recolha de alimentos que decorrer nos supermercados até este domingo, e antevê um “primeiro semestre de 2023 duro”.
“Não trabalhamos para bater records, isto não é um campeonato de futebol, nem de nenhum outro desporto, trabalhamos para alimentar pessoas. Todos os quilos que forem doados são para nós um sinal de esperança e são sobretudo um sinal de solidariedade”, disse Isabel Jonet, este sábado, no Banco Alimentar Contra a Fome, em Lisboa, em declarações à Agência ECCLESIA.
A economista está “convencida” que o primeiro semestre de 2023 “vai ser duro e muito exigente para muitas famílias”, até para as que não estavam habituadas a pedir ajuda, mas compraram casa “porque em Portugal há um problema de habitação gravíssimo”.
“Em Portugal não há casas para arrendar, o preço das casas subiu vertiginosamente. E, portanto, as pessoas preferiram arriscar comprar casa, mas não têm um empréstimo taxa fixa, e quando há alterações nas taxas de juro isso reflete-se no crédito à habitação. São pessoas para quem esta parcela vai representar um preço crescente, são pessoas que não têm salários que lhe permitam muitas folgas, e vamos ter um primeiro semestre muito exigente até porque não se prevê que a inflação vá diminuir tanto quanto seria necessário para repor o poder de compra.”
O Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) foi aprovado em votação final global, na Assembleia da República, esta sexta-feira, e Isabel Jonet salienta que este “tem de criar uma nova dinâmica na economia”, é muito importante “salários melhores e menos precariedade laboral”.
“Os apoios são sempre bons para quem tem pouco, mas sendo só um apoio único é um mero paliativo e ajuda a ter um balão de oxigénio por um mês. O apoio de 125 euros, mais 50 euros por cada filho menor, foi muito bom mas já se acabou porque a inflação continua a aumentar, sobretudo dos produtos mais básicos”, acrescentou, recordando a atribuição de 125 euros a pessoas com rendimentos mensais inferiores a 2700 euros por parte do Governo, em outubro.
Este fim de semana, dias 26 e 27 de novembro, a Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome, 21 instituições, está a realizar a sua campanha de recolha de alimentos nos supermercados, que, segundo a sua presidente, querem “alertar para as carências em cada região, suscitar uma solidariedade de proximidade”, e promover o voluntariado, “enquanto contribuição para o bem-comum.”
“Tudo aquilo que é doado numa determinada zona do país é distribuído a instituições de solidariedade dessa zona do país”, realçou.
Esta campanha solidária de inverno tem este ano como mote ‘Juntos, vamos alimentar a esperança’, que para Isabel Jonet está relacionada com os tempos em que se vivem na sociedade, “por um lado há muita incerteza”, depois de um período longo em que as pessoas tiveram “mais ansiedade por causa da doença da pandemia”, por causa da guerra na Ucrânia, “seja sobretudo por aquilo que se sente mais na famílias, o aumento da inflação”, nos produtos básicos, da energia e das taxas de juros, o que faz com que as pessoas “possam vir a perder a esperança”.
“O Banco Alimentar tem sido um farol de esperança ao longo destes anos e queremos mostrar aos portugueses que não se pode perder essa esperança porque os tempos agora são mais difíceis, mas vamos mudar”, desenvolveu a entrevistada.
A partir da sua experiência, destaca que, mesmo em tempos difíceis, as pessoas “não deixam de contribuir para o Banco Alimentar”, mesmo as que têm “menos recursos económicos querem doar, seja um pacote de leite, seja uma lata de atum”, porque as pessoas veem no Banco Alimentar “uma entidade na qual confiam e querem participar”.
“Por mais pequena que seja a doação não querem deixar de mostrar que estão presentes, porque elas próprias sentem mais dificuldades e porque conhecem casos de situações dramáticas, muitas vezes famílias com crianças, que o orçamento não estica até ao fim do mês; vão, se calhar, ser mais pessoas a doar, vamos ter mais sacos menos cheios, e isso é muito animador porque mostra que há uma solidariedade ativa na sociedade portuguesa”, desenvolveu Isabel Jonet, à Agência ECCLESIA.
A presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome adiantou que está muita gente envolvida nesta campanha, são números muito grandes nesta “rede social que é real e permite alimentar muitas pessoas”.
“Estimamos mais de 40 mil voluntários, este fim de semana, espalhados pelos supermercados, transportes, armazéns, em 21 Bancos Alimentares, que, depois, em parceria com 2600 instituições, consigamos ajudar a alimentar mais de 400 mil pessoas, por cabazes, por refeição confecionada, que é servida pelas instituições em lares, creches, ATL”, contabilizou.
A campanha solidária não termina, mas vai continuar online, no sítio alimentestaideia.pt, até 4 de dezembro, onde para além de Portugal, têm apoio do estrangeiro, pessoas que “querem contribuir para quem tem carências na sua região, de muitos países”.
(Com Ecclesia e Lusa)