Pelo padre Hélder Miranda Alexandre*
Quis o Senhor Jesus reunir à sua volta os discípulos para os instruir e preparar para que fossem e ensinassem todos os povos a Boa Nova! O Seminário perpetua na história este tempo único e inesquecível do encontro com o Mestre da escola divina. “Apresenta-se como um tempo e um espaço; mas configura-se sobretudo como uma comunidade educativa em caminhada: é a comunidade promovida pelo Bispo para oferecer a quem é chamado pelo Senhor a servir como os Apóstolos, a possibilidade de reviver a experiência que o Senhor reservou aos Doze”[1].
O desejo do Concílio de Trento da instituição de Seminários em cada Diocese tornou-se um sonho difícil de concretizar nestas Ilhas. Na verdade, a retirada da Companhia de Jesus de Portugal provocou um vazio educativo difícil de repor. Em 1791, D. Fr. José de Avé Maria recebeu a ordem da rainha D. Maria I “para que neste Bispado, houvesse eclesiásticos dignos das funções sagradas, chegando a dizer que menos mau é não haver ministros do que havê-los indignos”. Finalmente D. Fr. Estevam da Sagrada Família, 27º bispo de Angra, concretizou o sonho no dia 9 de Novembro de 1862, com festa solene em honra de N. Senhora da Guia, Padroeira da Igreja anexa ao Convento de S. Francisco de Angra[2]. “Desde então, o clero dos Açores ia-se reabilitando e nova vaga, que saía do Seminário de Angra, era bem outra”[3].
O Seminário fez-se de histórias de jovens que aqui chegaram de todas as Ilhas durante 160 anos, com a mala na mão, e, ainda com a lágrima da partida, quiseram fazer parte desta comunidade, desafiados por colegas e formadores. Habituaram-se a ser uma família, uma Casa, aquela que tinham deixado atrás da popa do barco que os trouxe, ou, mais recentemente, do avião da Sata. Basta revermos as fotos que ainda sobram para nos espantarmos por serem tão pequenos alguns e outros homens feitos. Aqui aprende-se a ser homem, a ser cristão, a ser padre se esse for o caso. Sete chegaram ao episcopado, um a cardeal, e muitas centenas ao presbiterado. Tornaram-se pastores das comunidades que o Senhor lhes confiou, professores e mestres das nossas gentes. Outros, não sacerdotes, notabilizaram-se na cultura, na ciência, nas artes, na música, na escrita, no jornalismo… A influência do Seminário na cultura açoriana está longe de ser calculada, se é que isso é possível.
Evoco em grata memória todos os professores e alunos, funcionários e inumeráveis benfeitores. Os que por aqui passaram sentem com saudade tantos que os marcaram para sempre, e que já não estão entre nós. Queira Deus recompensá-los, pois não somos capazes de os recordar a todos e muito menos de agradecer como merecem. Contudo, está ao nosso alcance a todos saudar, num abraço eterno, duma família sem fronteiras de tempo e espaço, dispersa por estas ilhas, continente português e emigração.
O nosso Bispo nomeado D. Armando Esteve Domingues já nos endereçou uma mensagem de proximidade e confiança, fazendo sentir este como o “nosso Seminário”. As crises acontecem, mas só poderemos continuar, se nos entusiasmarmos a recomeçar, disponíveis para os novos tempos, sem receio do que o Espírito Santo nos poderá ensinar.
[1] João Paulo II, Pastores dabo vobis, 60.
[2] C. Pereira, O Seminário de Angra, 12.
[3] Mons. Júlio da Rosa, Senhor Bom Jesus de São Mateus, 73-74.
*O padre Hélder Miranda Alexandre é Reitor do Seminário Episcopal de Angra