Seminário de Angra completa 160 anos

Dia de aniversário foi vivido com uma eucaristia e jantar festivo reunindo toda a comunidade educativa

O Seminário de Angra completa esta quarta-feira, dia 9 de novembro, o seu 160º aniversário, num ano particularmente difícil em que a comunidade está reduzida a 10 alunos e, pelo segundo ano consecutivo não se verificaram entradas de novos alunos.

Para o reitor do Seminário, padre Hélder Miranda Alexandre a “crise das vocações é também uma crise de identidade cristã”, e os jovens “têm hoje muitas mais ofertas académicas e profissionais”, porventura “mais atrativas”.

“As vocações consagradas exigem uma particular generosidade e desprendimento que não é fácil de assumir. É verdade que outras vidas também, mas estas integram valores que não estão na moda ou dizem pouco aos jovens e famílias de hoje”, disse o padre Hélder Miranda Alexandre, ao sítio Igreja Açores, por ocasião da Semana de Oração pelos Seminários que decorreu entre 30 de outubro e 6 de novembro.

“Os jovens têm hoje muitas mais ofertas académicas e profissionais que exercem um forte apelo e desviam para outras metas, também elas muito meritórias e positivas. Por muito que custe admitir, faltam igualmente mais testemunhos positivos e felizes” afirma o sacerdote na referida entrevista que pode ler aqui.

Cientes de que a maioria católica, “muitas vezes, não passa de estatística”, o momento que afecta os seminários é igual ao que acontece na Igreja em geral: “secularização e diminuição da prática dominical e, por isso, hoje, a referência que antes era passada no meio familiar já se esbateu”, afirma o sacerdote, que é responsável pelo Seminário há 10 anos.

“Vemos assembleias dominicais envelhecidas e pouca presença juvenil, apesar do novo fulgor que poderá advir da JMJ 2023. A crise torna-se profunda e grassa por toda a Europa, acresce a isso, o inverno demográfico que vivemos na Região, que agrava particularmente a nossa situação” desenvolveu.

O Seminário de Angra conta este ano com 10 seminaristas, 3 dos quais a frequentar o sexto ano.

“O Seminário fez-se de histórias de jovens que aqui chegaram de todas as Ilhas durante 160 anos, com a mala na mão, e, ainda com a lágrima da partida, quiseram fazer parte desta comunidade, desafiados por colegas e formadores. Habituaram-se a ser uma família, uma Casa, aquela que tinham deixado atrás da popa do barco que os trouxe, ou, mais recentemente, do avião da Sata” refere o Reitor numa mensagem que pode ler na integra do Sítio Igreja Açores.

“Basta revermos as fotos que ainda sobram para nos espantarmos por serem tão pequenos alguns e outros homens feitos. Aqui aprende-se a ser homem, a ser cristão, a ser padre se esse for o caso. Sete chegaram ao episcopado, um a cardeal, e muitas centenas ao presbiterado. Tornaram-se pastores das comunidades que o Senhor lhes confiou, professores e mestres das nossas gentes. Outros, não sacerdotes, notabilizaram-se na cultura, na ciência, nas artes, na música, na escrita, no jornalismo… A influência do Seminário na cultura açoriana está longe de ser calculada, se é que isso é possível”, escreve ainda.

O Seminário Episcopal de Angra foi inaugurado no dia 9 de Novembro de 1862 no Convento de S. Francisco de Angra, passados 328 anos da fundação da Diocese. Dava-se assim cumprimento à norma tridentina e ao desejo do clero quanto à fundação de um Seminário nesta Diocese.

No entanto, já um século antes D. Frei José da Avemaria, bispo de Angra, exigia que “sem a competente certidão de frequência, aproveitamento e capacidade dos pretendentes, não podiam ser admitidos às Ordens, neste bispado…”.

Volvidos 160 anos o Seminário Episcopal de Angra, formou diversas gerações de alunos. E, daqui saíram sete bispos, praticamente todos os sacerdotes açorianos e muitos dos que foram enviados para as missões.

O reconhecimento do trabalho do Seminário foi de resto feito a nível nacional com a atribuição da Insignia da Ordem de Mérito pelo Presidente da República, para além da Medalha de Ouro do Município de Ponta Delgada e do Diploma de Reconhecimento, da Câmara de Angra do Heroísmo, por ocasião do 150º aniversário.

Por outro lado, durante muitos anos foi a principal e única escola de formação superior de centenas de homens, que influenciaram a cultura e a sociedade açorianas. Antes da criação da Universidade dos Açores, esta era a única Instituição de ensino superior do Arquipélago.

À sombra do Seminário nasceu o Instituto Açoriano de Cultura, que promoveu as Semanas de Estudo dos Açores, um dos momentos mais altos de reflexão política, social, cultural e económica dos Açores e alguns dos fundadores da própria Universidade ensinaram no Seminário.

O esforço por uma formação de qualidade constitui, de resto, um dos distintivos desta Instituição.

A reafirmação permanente de que o Seminário é o “coração da diocese” encontrou sempre eco nos diferentes bispos. E, numa semana em que os bispos portugueses debatem a adaptação a Portugal da Ratio Fundamentalis, criada pelo Papa Francisco em 2016, em Angra, o anterior bispo, D. João Lavrador, por decreto instituiu um ciclo formativo obrigatório para os neo-sacerdotes durante os dois anos imediatamente seguintes à ordenação sacerdotal. Esta formação académica, por trimestre letivo, inclui aprofundamento teológico, eclesiológico, litúrgico e pastoral, e acompanhamento espiritual, durante uma semana.

O dia de aniversário foi vivido em festa com uma eucaristia ao fim do dia, seguida de jantar festivo, com o testemunho do sacerdote mais antigo em funções paroquiais formado pelo Seminário Episcopal.

 

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(Fotos Elson Medeiros)

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